Tribuna Ribeirão
Esportes

Tubos perfeitos coroam o bi mundial de Medina

“Espaço reservado para o troféu do bicampeonato mun­dial”. Na sala de conquistas do surfista Gabriel Medina, no Ins­tituto que criou com seu nome em Maresias, no litoral paulista, a mensagem servia de motiva­ção antes do embarque para o Havaí. E como uma profecia, o atleta brasileiro cumpriu à risca o que dizia o bilhete e garantiu o seu mais novo troféu no surfe.

O brasileiro conquistou o bi­campeonato mundial de surfe na segunda-feira durante a disputa da etapa de Pipeline, no Havaí. Ele confirmou o favoritismo ao passar as suas baterias sempre com bom desempenho enquan­to que seus adversários, o com­patriota Filipe Toledo e o austra­liano Julian Wilson, não tiveram como pará-lo na última edição.

Medina precisava chegar à final em Pipeline para ser cam­peão. Nem precisa disputá-la. E como um mantra, repetia isso a cada entrevista após baterias vitoriosas. Passou na primeira fase diretamente para a terceira, deixando o australiano Con­nor O’Leary e o havaiano Benji Brand na repescagem.

Na terceira fase, eliminatória, o brasileiro de Maresias ganhou de um outro surfista local, Seth Moniz, e manteve o foco para cumprir a sua meta. Foi nessa prova que Filipe Toledo acabou sendo eliminado, perdendo para o lendário Kelly Slater e dan­do adeus à disputa do título. O caminho estava mais livre para Gabriel Medina.

Na quarta fase, Medina fez 16,90 pontos para avançar às quartas de final em bateria que tinha ainda o havaiano Sebas­tian Zietz e Michel Bourez, do Taiti. Depois, despachou o norte -americano Conner Coffin nas quartas com impressionantes 19,43 pontos em 20 possíveis – o rival fez 14,26 pontos.

Na semifinal, o brasileiro teve um duelo equilibrado com o sul-africano Jordy Smith, que começou na frente, mas tomou a virada depois que Medina pe­gou um lindo tubo para Back­door, alcançando uma nota de 9,10 pontos. No final, ele somou 16,27 contra 15,83 de Smith e saiu do mar nos braços dos ami­gos em Pipeline.

É o segundo título do Cir­cuito Mundial de Surfe do ga­roto de Maresias. Em 2014, ele se tornou o primeiro brasileiro a ser campeão mundial na mo­dalidade. Agora, é o primeiro bicampeão e deixa o Brasil com três troféus – Adriano de Souza, o Mineirinho, ganhou o Mundial em 2015. O feito de Medina coroa o ótimo mo­mento do surfe nacional.

Medina chegou ao Havaí na liderança do campeonato e sa­bia que dependia apenas de si para conquistar o título. Com grandes tubos, manobra mais bem pontuada no Pipe Mas­ters, levantou a torcida brasi­leira e sua família na areia em Pipeline. Quando o título foi sacramentado, os fãs fizeram a festa na praia, um verdadeiro carnaval verde e amarelo.

Talento
A façanha de Medina con­firma o talento do jovem de 24 anos, que desde cedo mostrou enorme talento e sempre foi pre­coce nas conquistas. O surfista de Maresias começou a pegar ondas desde cedo e ainda na adolescência festejou os primei­ros resultados. Aos 11, ganhou o seu primeiro campeonato a nível nacional, a etapa Rip Curl Grom Search na categoria Sub- 12, disputada em Búzios (RJ).

Com 15 anos foi o atleta mais novo a vencer uma eta­pa do Mundial de Surf (ASP). A partir daí, colecionou feitos sempre mostrando um esti­lo arrojado e moderno. Tanto que até o campeão mundial Joel Parkinson, da Austrália, se rendeu ao talento do brasileiro Em uma entrevista para o pod­cast “Ain’t that swell surf radio”, considerou Medina o maior ta­lento de todos os tempos.

“Eu sempre falei isso dele. Desde jovem eu achei isso. É um dos melhores que eu já vi, se não é o melhor que eu já vi sobre uma prancha. Eu sou um fã do Gabriel e amo vê-lo surfar. Falo para o Mick Fanning e para todo mundo. Ele é o melhor que eu já vi”, afirmou Parko, que ganhou o título mundial em 2012.

Um dos trunfos de Medina é que desde cedo teve o apoio da família. Quando ainda era criança, falou para o padrasto Charles Saldanha que queria ser campeão mundial. Foi daí que surgiu a parceria que dura até hoje, com Charles atuando como técnico e principal men­tor. A mãe de Gabriel, Simone, é a grande incentivadora e tor­cedora número um. O irmão Felipe é grande parceiro e a irmã Sophia já segue os passos no sur­fe e demonstra grande talento.

E foi dessa união familiar, talento precoce e uma compe­titividade enorme que Gabriel Medina levou o surfe mundial para um outro patamar. Ao lado de John John Florence, Filipe Toledo e Italo Ferreira, é o gran­de nome da nova geração e tem tudo para ampliar esse número de troféus no futuro.

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