Tribuna Ribeirão
Política

Vereadores rejeitam contas de Dárcy Vera

JF PIMENTA/ARQUIVO TRIBUNA

A Câmara de Vereadores rejeitou nesta segunda-feira, 17 de dezembro, em sessão extraor­dinária, mias uma prestação de contas da ex-prefeita Dárcy Vera (sem partido), desta vez referente ao ano de 2014. Os parlamentares seguiram a recomendação da Co­missão Permanente de Finanças, Orçamento, Fiscalização, Contro­le e Tributária, que pedia a rejeição com base em parecer do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP), que também negou a aprovação dos balanços.

A Comissão de Finanças é presidida por Jean Corauci (PDT) e conta também com os verea­dores Adauto Honorato, o “Mar­mita” (PR), Marinho Sampaio (MDB), Otoniel Lima (PRB) e Jorge Parada (PT). As contas de 2014 da ex-chefe do Executivo foram reprovadas por unanimi­dade na sessão extraordinária de ontem, que começou às 18 horas. Foram 26 votos a contra – Mari­nho Sampaio (MDB), por ter sido vice-prefeito de Dárcy Vera, estava impedido de votar, mas as finan­ças do curto espaço de tempo em que comandou o Palácio Rio Branco foram aprovadas.

O presidente da Casa de Leis, Igor Oliveira (MDB), que tem a prerrogativa de só se manifestar em caso de empate, também vo­tou contra a aprovação das contas de Dárcy Vera e a favor dos ba­lanços de Sampaio. Nos oito anos em que ficou à frente do Palácio Rio Branco, de 2009 a 2016, a ex-chefe do Executivo teve seis contas rejeitadas pelos conselheiros do TCESP – está detida desde maio do ano passado em Tremembé e condenada a 18 anos, nove meses e dez dias de prisão por organiza­ção criminosa e peculato em uma das ações penais da Operação Se­vandija e a cinco anos por suposto desvio de R$ 2,2 milhões prove­nientes do Ministério do Turismo (MTur) para realização de uma das etapas da Stock Car, em ju­nho de 2010 (ela nega a prática de qualquer tipo de crime).

Eles já julgaram irregulares os exercícios de 2010, 2012, 2013, 2014 e 2015 – esta última ainda em fase recurso – e 2016. Apenas os balanços de 2009 e 2011, do primeiro mandato de Dárcy Vera, foram aprovados. No primeiro semestre deste ano, a ex-prefeita ingressou com uma petição no TCESP para pedir a suspensão de todos os processos em que aparece como responsável, ale­gando estar presa e sem acesso aos órgãos públicos. Na mes­ma época, um levantamento da corte apontava 28 ações em julga­mento em que a ex-prefeita apare­cia como “ordenadora de despe­sas”, ou seja, era responsável pelas contas. Segundo a assessoria da corte, pode haver outros proces­sos em que ela figure apenas como “representante da prefeitura”.

Sobre os processos de 2010, 2012 e 2013, os vereadores da época rejeitaram o parecer do TCESP em relação ao ano de 2010 e acataram os apontamentos feitos para as contas de 2012 e 2013. Em relação à prestação de contas de 2014, julgada ontem na Câmara, o tribunal apontou falhas como omissão de despesas e déficit fi­nanceiro de R$ 217,6 milhões e afirmou que o Executivo deixou de contabilizar ao menos R$ 58,3 milhões em dívidas com o Insti­tuto de Previdência dos Municipi­ários (IPM) e com a Companhia de Desenvolvimento de Ribeirão Preto (Coderp), alvo de uma das ações penais da Sevandija.

Sobre as contas de 2016, os conselheiros do TCE citam no relatório o caos financeiro e admi­nistrativo do município: o órgão aponta que Dárcy Vera encerrou o mandato arrecadando menos que o previsto, deixando um défi­cit financeiro de R$ 291,4 milhões, calote em fornecedores e “dese­quilíbrio” orçamentário. A relato­ra Renata Constante Cestari disse em seu parecer que “o município se mostrou insolvente em relação à dívida de curto prazo, na medida em que para cada R$ 1 de dívida havia apenas R$ 0,25 à sua quita­ção”. A ex-prefeita recorreu.

No início de 2017, os 27 par­lamentares da atual legislatura decidiram cassar os direitos polí­ticos da ex-prefeita por quebra do decoro, entre outros motivos por causa das contas rejeitadas. Ela contestou, alegando que já não exercia o mandato de prefeita e duas de suas contas também já haviam sido reprovadas pelo Legislativo. Para a ex-chefe do Executivo, a decisão da Câma­ra foi política. A condenação na Sevandija reforçou a suspensão dos direitos dela por oito anos. Os balanços de 2015 ainda não foram enviados pelo TCESP para o Le­gislativo ribeirão-pretano.

A defesa da ex-prefeita refe­rente às contas de 2014 foi feita gratuitamente pelo advogado Ra­fael Miranda Gabarra, nomeado para este fim, após ele ter se ofe­recido em reposta a chamamen­to público do Legislativo. Rafael Gabarra foi o segundo advogado a assumir o caso, já que seu an­tecessor, Valdemir Caldana, que chegou a ser nomeado em 18 de setembro para defendê-la, desistiu no começo de outubro. Ele alegou motivos pessoais.

A nomeação de um defensor foi necessária para garantir ampla defesa e contraditório ao acusado, conforme determina a Constitui­ção Federal. Na época em que o processo deu entrada na Câmara, Darcy Vera respondeu, por carta enviada ao Legislativo, que por estar presa e não possuir recursos financeiros para pagar um advo­gado, não teria como se defender.

Contas de Marinho – A pres­tação de contas do então vice-pre­feito Marinho Sampaio (MDB) – atualmente vereador –, que estava no mesmo processo analisado pelo TCESP, foi desmembrada da de Dárcy Vera pela Câmara e rece­beu parecer favorável. As finanças foram aprovadas por unanimida­de (26 votos a favor). O emede­bista exerceu o comando da pre­feitura entre 14 e 27 de fevereiro de 2014, quando a então prefeita se licenciou do cargo. Segundo a defesa dele, durante o período em que governou a cidade ele não or­denou despesas e não causou pre­juízo aos cofres públicos.

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