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A casa da mãe Joana

Esta é uma expressão do nosso folclore para designar um lugar onde todo mundo entra e de onde todo mundo sai, sem dar satisfação para ninguém. Mas estas expressões sem­pre têm uma história. Ensina Câmara Cascudo que a expres­são se origina na Idade Média europeia, quando a rainha de Nápoles Joana I tinha vida atribulada e chegou a viver em Avignon como refugiada por ter se envolvido numa conspi­ração mortal contra o marido. Em 1347, aos 21 anos, Joana regulamentou os bordéis da cidade. Uma das normas dizia: “O lugar terá uma porta por onde todos possam entrar”.

Transposta para Portugal, a expressão “paço-da-mãe-joana” virou sinônimo de prostíbulo. Com certeza não serei o primeiro a utilizar a expressão para se referir ao partido do futuro presi­dente. Aliás, se perguntarmos aos seus eleitores de que partido é o presidente eleito, duvido que, pelo menos 10% deles, saibam responder. Começa por aí a “casa da mãe Joana”.
A nova casa da mãe Joana ficou bem exposta há alguns dias, quando o senador eleito Major Olímpio elevou o tom das críticas contra a deputada federal eleita Joice Hassel­man, sua correligionária, a mulher de mais de 1 milhão de votos. Vieram a público discussões do grupo de WhatsApp do PSL (Partido Social Liberal).

Nelas, Joice se coloca como candidata a líder do partido na Câmara, o que provocou reação do Major e de um dos filhos do presidente eleito, Eduardo, deputado também do PSL por São Paulo. Eduardo a chamou de “sonsa” e disse que a parlamentar eleita tem “fama de louca”. Como disse o articulista João Filho, do blog Intercept, as tretas internas do PSL mostram a treta em que o Brasil se enfiou. Já come­çamos a pagar muito caro pelo tsunami do antipetismo que levou ao governo uma verdadeira horda do antiglobalismo e de um Jesus assustado em cima de uma goiabeira.

Ao que parece, a oposição não terá tanto trabalho para marcar os governistas do PSL. O partido reúne todas as condições para se estrepar sozinho. O debate interno lembra muito mais a Escolinha do Professor Raimundo do que de uma sigla que elegeu o presidente e que representará uma das maiores bancadas da Câmara. A briga do Major com a deputada vem da época da campanha, quando ela fez de tudo para ser candidata a governadora. O major chegou a gravar um vídeo dizendo que “o PSL não era a casa da mãe Joana”. Pelo visto, se enganou. O PSL é a definição perfeita de casa da mãe Joana.

Com 48 deputados novatos na Câmara Federal, a maioria é de ilustres desconhecidos, sem nenhuma história política, e todos muito assanhados e esfomeados por serem do par­tido do presidente eleito. Como disse João Filho, “todos os protagonistas daquela discussão foram forjados nas tretas. Tretar é quase um cacoete para eles”.

O Major até pouco tempo era um deputado pouco co­nhecido, mas que ganhou os holofotes ao xingar aos berros Geraldo Alckmin em um evento público. Joice tretou com quase todos os seus empregadores recentes, com Reinal­do Azevedo, com Alexandre Frota e se consolidou como youtuber agitando tretas e conspirações a todo momento. A atuação parlamentar de Eduardo Bolsonaro também sem­pre foi movida por tretas, conseguindo a proeza de arranjar uma com o Junior de Sandy & Junior. Não há porque imagi­nar que essa turma, que não sabe fazer outra coisa a não ser buscar o conflito, se manterá unida a partir do ano que vem. A partir do ano que vem, o Brasil será literalmente uma nau sem rumo. Kyrie eleison!

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