Delegado exauriu meio circulante da propina
Há muitos anos chegou a uma cidade onde as questões éticas não eram observadas um delegado que assumiu o maior posto da carreira naquele município. Era o chefe-geral. Saiu da Secretaria onde o responsável era observado com reservas por aqueles que eram seguidores da lei e da verdade. Dizia-se que ele era da “Equipe de Arrecadação” do Secretário. Assumiu com todas as pompas e honras e possuía um “ajudante de ordens” que mais parecia pertencer à Máfia que a algum setor de Segurança Pública. Sempre estava com uma submetralhadora a tiracolo.
Sincero com alguns repórteres
O apelido do novo Chefe era “Pena Branca” vez que seus ralos cabelos eram grisalhos. Não escondia o seu passado e nem suas pretensões do futuro. Falou para um repórter de quem tinha algum receio que iria acabar com o “jogo do bicho” na cidade. O jornalista então perguntou a ele de que forma iria enfrentar o arraigado método em que o setor de Segurança vivia em simbiose com a ilegalidade. Disse sem qualquer reserva: “Vou tirar todo o meio circulante da propina”.
Seguiu o roteiro preparado
Primeiro ele se envolveu com uma secretaria nova e bonita que havia na Delegacia da localidade, que estava “encalhada” e iniciou um romance pleno de intenções da moçoila. Deu- lhe presentes caros, um carro. Em seguida realizou uma reunião com todos os “banqueiros” existentes no submundo, em todos os rincões possíveis e imagináveis. Decretou o que eles deveriam fazer: comprar uma mansão no bairro da moda, adquirir um Ford Galaxy, carro caro e importado do ano e também arbitrou um valor mensal para sua subsistência que seria muito perdulária com a nova concubina. Os ilegais caíram das pernas. Como iriam satisfazer o voraz novo chefe que tinha um guarda costas, ou ajudante de ordens violento e ameaçador. Juntaram os caraminguás e atenderam ao determinado. O meio circulante foi exaurido. Esta ação repercutiu até nas comissões dos cambistas e no aumento do preço das apostas. Nenhum dos que viviam do joguinho das lavadeiras esperava que seria tão alto o preço da liberdade. Estavam acostumados com as ações de um investigador que sempre os procurava para pedir dinheiro com a finalidade de ajudar sua mãe que havia quebrado a perna. Tantas vezes ele procurara os banqueiros que o seu apelido era “dona Centopeia”, pois a genitora havia quebrado tantas pernas que deveria ter mais de cem.
Ledoras de sorte, saravas e enfermeiros
O auxiliar do tal “Pena Branca” não perdoava a ninguém. Ledoras de sorte, donos de “saravas” e até enfermeiros que atendiam a população eram procurados para que dessem o “mensalinho”. Estes últimos com a ameaça de serem presos pela prática ilegal da medicina. Realmente tudo era “exaurido”.
Na rapa do tacho
Quando todos estavam deixando do jogo do bicho, pois não aguentavam mais pagar a propina eis que chegam colegas do “majorengo” de São Paulo e pegam os grandes banqueiros, os mesmos que haviam dado os “presentes” para o voraz policial. Todos presos com as provas do crime. De um lado os bloquinhos onde se fazia o jogo nos bares, nas ruas e até com os engraxates. Os advogados dos presos foram chamados e uma ordem foi dada com todas as letras: “Se até às quatro da tarde não entregarem milhões de cruzeiros em um saco de pão no escritório que havia defronte à Delegacia Central eles iriam colocar como prova as poules do jogo do bicho para que a Justiça os mandasse para a cadeia”. Se o dinheiro chegasse eles colocariam as cadernetas de padarias, açougues e de quitandas, pois ao seriam provas da legalidade e eles seriam soltos.
Advogados em polvorosa
Os advogados daquela cidade saíram correndo procurando junto aos amigos e bancos para que, antes das quatro, conseguissem juntar a quantia exigida pelo pessoal da Capital. Quatro em ponto, no escritório combinado, lá estavam os sacos de padarias com o volumoso dinheiro dentro. Na Delegacia os escrivães ligados à “tchurma” jogavam fora as poules e colocaram como “robustas provas” as cadernetas de açougues etc. Enviaram para o Fórum. Não havia Juiz que condenasse alguém com provas tão frágeis e um habeas corpus requerido foi concedido rapidamente. Todos foram libertos. Os visitantes comemoraram com champanhe francês o “limpa” feito que deixou os banqueiros, seus agentes e o próprio jogo sem condições de funcionamento durante um bom tempo. Alguns pegavam as apostas naquela cidade e transportavam em ambulâncias para outro local fora do raio de ação daquela Máfia que existia na longínqua Juritiquituba.