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A Neurociência do Treinamento Cerebral (5)

Os programas de treinamento cerebral funcionam? Esta tem sido uma questão fundamental no estudo da relação entre cognição, neurociência e inteligência, especialmente no domínio da interação entre cérebro-mente. Análise global da literatura científica pertinente revela a existência de dois consensos sobre o treinamento cerebral, ambos endossados por dezenas de cientis­tas, oferecendo visões conflitantes sobre o estado da evidência. Um grupo argumenta que não há evidência clara que suporte as afirmações veiculadas por propagandistas dos programas de treinamento cerebral de que intervenções cerebrais enriquecem a cognição ou minimizam as conseqüências cognitivas do enve­lhecimento. Outro grupo, em carta réplica, reconheceu que os programas de treinamento cerebral, embora exagerados em suas divulgações, têm citado suporte cientificamente embasado para as intervenções de treinamento cerebral.

Muitos estudos são sugestivos de benefícios, sendo a evidên­cia publicada raramente mostrando resultados negativos das intervenções. Contudo, na maioria dos estudos faltam contro­les adequados para os efeitos placebo, com testes de pequenas amostras, sem registro e análise completos de todos os desfechos mensurados. Por sua vez os poucos estudos em grande escala fornecem relativamente pouco suporte para melhoramentos diferenciados nas medidas objetivas de desempenho no mundo, o que torna a precisão da evidência de avaliação muito difícil. Ademais, os padrões metodológicos de tais artigos publicados, não aderem às melhores práticas requeridas pelas pesquisas de intervenção, incluindo pré-registro, anotações de todos os dados, tamanho grande de amostras e grupos-controle apropriados para verificação de efeitos placebo.

Não obstante, aqueles estudos que têm registrado, relati­vamente, fortes benefícios do treinamento cognitivo tendem a mostrar uma transferência limitada, isto é, o treinamento melhorou as tarefas treinadas e aquelas estruturalmente similares a estas. Evidência para transferência mais ampla é substancialmente mais fraca e menos comum. Poucos estudos fornecem qualquer evidência de que treinamento cerebral com jogos, ou com tarefas cognitivas básicas, produzem melhoramentos diferenciais comparados a uma condição-controle apropriada, para desempenho cognitivo no mundo. Os benefícios, quando presentes, têm sido aplicados quase exclusivamente para outras tarefas de laboratório.

Assim considerando, apesar do grande número de trabalhos publicados registrando testes dos efeitos das intervenções de treinamento cerebral, as evidências de que os programas comer­ciais de treinamento cerebral possam enriquecer a cognição fora do ambiente de laboratório são limitadas e inconsistentes. Tais inconsistências e falhas no de­lineamento das pesquisas e das análises dos dados publicados não permitem, cientificamente, endossar as afirmações feitas pelas companhias de treinamen­to cerebral de que o cérebro é totalmente maleável.
Em suma, praticar uma tarefa cognitiva consistente­mente melhora o desempenho naquela tarefa e em outras intimamente relacionadas, mas a evidência disponível de que tais treinamentos se generali­zam para outras tarefas, ou para desempeno no mundo real, não é assegurado.

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