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“Meu País”, de André Ristum

Ficar sozinho para vencer. Ficar sozinho porque quis. Sen­tir vontade de cuidar de alguém. Três momentos que identifi­cam o filme “Meu País”, de André Ristum, como um diálogo acerca da reestruturação de vínculos familiares fragilizados pela ausência. Nele, Marcos (Rodrigo Santoro), brasileiro radicado na Itália, é informado da morte súbita do pai (Paulo José) e precisa retornar ao país. Em seu país, reencontra Tiago (Cauã Reymond), seu irmão caçula, envolvido em jogatinas a dinheiro, sempre esquivo em assumir qualquer tipo de responsabilidade. Mas a surpresa fica por conta de Manuela (Débora Falabella), irmã desconhecida de ambos que, aos 24 anos, apresenta a mentalidade de uma criança. Vitória, soli­dão e solidariedade reunidas num só cálice, a ensinar, ao bon vivant, quanto da vida não tem preço, assim como, ao irmão vencedor, qual é a verdadeira vitória a qual nos devemos propor.

Atados ao passa­do pelas lembran­ças, o “sentir von­tade de cuidar de alguém” é o princi­pal responsável por desatar este nó. Ao cuidar, amadurece­mos. Porque cuidar requisita que nos coloquemos à prova de dificuldades, medos e ansiedades em nome do outro. Quem cuida, não pensa em si, doa-se. E, ao doar-se, se agiganta-se. Altruís­mo? Não. Maturidade. Maturidade que, em Tiago, nascerá da nudez deste diante das dificuldades de lidar com a diferença. Em Marcos, florescerá sensibilidade ao contato com a fran­queza e espontaneidade da irmã-menina. País que é família, família que é mundo. País que é dentro da gente, como sugere a memória de Guimarães Rosa.

De acordo com a crítica, “O roteiro (de Marco Dutra, Octavio Scopelliti e André Ristum) é excessivamente conven­cional no desenho maniqueísta de Marcos e Tiago”, revelando que “As limitações de ‘Meu país’ não estão relacionadas aos seus desempenhos”. Entretanto, é neste evitar excessos que o filme revela sua força: a constância das lembranças familiares potencializando o interesse do público por algo real e dolori­do, guardado a ferro e a fogo nas raízes humanas. A proximi­dade dos destinos do público aos destinos das personagens impõe identidade ao filme. Uma identidade cuja assinatura é realizada pelo próprio pulso do País, ou, traduzindo, da ori­gem de cada um de nós, respeitadas nossas culturas e dificul­dades. Ristum, a despeito da crítica negativa, mostrou habitar, em si, um olhar crítico sobre a condição humana. Reforçando que são invisíveis e silenciosos os recortes que unem a sensi­bilidade humana.

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