Aqui pertinho de Ribeirão existe um tesouro que muita gente ainda não conhece. Um lugar que conta grande parte da nossa história e da trajetória dos milhares de imigrantes que aportaram por aqui no final do século XIX.
Situado entre Pontal e Sertãozinho e abrigado num conjunto de construções perfeitamente preservado, o Museu da Cana nos convida a viajar no tempo e nos leva ao início do século XX, período em que a região viveu o apogeu da cultura do café.
A partir de 1890, Ribeirão Preto e região passam a ser o epicentro da cultura do “ouro verde”. Parte pela fertilidade de sua terra, parte pelo empenho e engenhosidade de homens como Henrique Dumont, Francisco Schmidt e Geremia Lunardelli. E também pelo trabalho incansável dos imigrantes italianos que aqui cultivaram a terra de sol a sol.
Um dos chamados “reis do café”, Schmidt baseou suas atividades e sua enorme fortuna nessa cultura. Mas também criava gado e produzia cana-de-açúcar em escala industrial na cidade de Sertãozinho, em lugares como a fazenda Vassoural que comprara em 1902. Logo depois, compra o sítio Pocinhos, ao lado, onde havia um pequeno engenho construído por Alexandre Balbo, que ali cultivara café e cana e construíra 5 casas.
Em 1906, Schmidt monta o Engenho Central de Sertãozinho, no sítio Pocinhos, e introduz uma série de inovações como as máquinas de processamento de cana importadas da Europa. O dinheiro do café trouxera o trem para a região e a Cia.Mogiana de Estradas de Ferro escoava a produção cafeeira. Agora, o produto do Engenho Central também alcançava outras cidades através da Maria Fumaça e de uma estação, a estação Schmidt, inaugurada dentro da Fazenda Vassoural.
Com a morte de Schmidt em 1924, seus filhos herdam os negócios e muito mais tarde, em 1964, vendem as terras e o engenho para a família Biagi, outro núcleo de imigrantes que, chegados aqui em 1888, trabalharam a terra, cresceram através de gerações e tornaram-se referência na produção de açúcar.
Na verdade, o Engenho Central foi a primeira célula a transformar, anos mais tarde, a região de Sertãozinho no principal polo produtor de açúcar e álcool do país. Ali, Maurílio Biagi fundou em 1966 a CAIEC- Companhia Agro-Industrial Engenho Central – que, além de dar apoio a outra usina da família, a Santa Elisa, iniciou a produção de cachaça.
Em 1980, o Engenho Central encerra suas atividades, mas o cuidado da família garantiu o restauro e a conservação dos edifícios e máquinas, além de promover uma extensa pesquisa e aquisição de peças e equipamentos relativos à produção de açúcar do Brasil Colônia. Coordenado por Luís Biagi e apoiado pela família, o projeto de criar um Museu se materializa em 2006 quando o Engenho Central é doado ao Instituto Cultural Engenho Central, criado com o objetivo de levar adiante a implantação do Museu.
A partir do final de 2013 o Museu da Cana se torna realidade, com o objetivo de preservar e difundir a história e a memória industrial da cana-de-açúcar, responsável pela grande expansão econômica da região.
Apoiado por parcerias, patrocínio empresarial e leis de incentivo, o Museu da Cana tem como destaque principal a Usina Schmidt um prédio incrivelmente preservado, com maquinário original fabricado no Reino Unido, no século XIX e, o mais interessante, toda a sequência de produção, com moenda a vapor, cozedores, cristalizadores e ensacadores.
Quem visita esse instigante conjunto, ainda conhece as antigas semeadeiras, bombas de abastecimento, formas para beneficiar e purificar o açúcar, recipientes para o transporte de aguardente até o Porto de Santos e até o carimbo do engenho e o mesmo velho relógio que ficava no ponto mais alto da usina. Sem contar a coleção de objetos de Banguê, arrematados em antigos engenhos da região nordeste do século 16, quando o processo todo era feito manualmente.
Uma viagem no tempo. Um mergulho na história.
E no meio das casinhas preservadas, um honesto restaurante de comida caipira, pra gente se deliciar à sombra das árvores.