O Ministério Público Estadual (MPE), a Polícia Civil e a Câmara de Vereadores investigam a morte do estudante Lucas da Costa Souza, de 13 anos, na sexta-feira, 30 de novembro, dentro do Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Eduardo Romualdo de Souza, na Vila Virgínia, na Zona Oeste de Ribeirão Preto, quando o garoto celebrava o último dia de aula. A suspeita é que ele tenha levado uma descarga elétrica ao subir em uma grade para tentar pegar uma bola. O promotor da Infância e Juventude, Naul Felca, instaurou inquérito civil para apurar as circunstâncias do óbito.
Na esfera criminal, um boletim de ocorrência foi registrado e a Polícia Civil investiga o caso. A Câmara de Vereadores deve instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para avaliar a condição da unidade educacional e a situação de todas as 109 escolas da rede municipal de ensino. Segundo o promotor da Infância e Juventude – que também responde pela Educação –, uma vistoria na escola será realizada por engenheiros do Ministério Público. Ele também vai ouvir as pessoas que estavam no local na hora da morte do estudante.
A Promotoria também vai utilizar nas investigações as informações da Polícia Científica e o laudo do Instituto Médico Legal (IML). Naul Felca afirma que também pretende focar as investigações nos Autos de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCBs) de todas as escolas municipais, já que existem informações de que das 109 unidades apenas sete teriam o laudo. “Esta investigação já estava programada, mas infelizmente foi apressada pela morte do estudante”, explica.
O promotor diz que aguarda os laudos produzidos pela perícia técnico-científica, pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO) e pelo IML para apurar as circunstâncias da morte. O AVCB da Escola Municipal Eduardo Romualdo de Souza também foi solicitado. “Se o Ministério Público entender que as medidas que a prefeitura apresentar não estão compatíveis de fornecer segurança mínima aos usuários das unidades de ensino, vai ingressar com uma ação de interdição”, diz Felca.
O promotor diz ainda que se as explicações apresentadas pela administração e pela Secretaria Municipal da Educação não foram compatíveis com o que determina a legislação, ou não estiveram à altura de fornecer segurança mínima aos estudantes, “o Ministério Público vai ingressar com tantas e quantas ações judiciais de interdição dos estabelecimentos de ensino municipais foram necessárias até que a prefeitura apresente o laudo de cada uma delas ou o AVCB atestando o mínimo de segurança para o uso da comunidade”, emenda. Os pais do garoto, Sílvia Helena da Costa e Luiz de Souza, querem respostas.
Eles pedem justiça pelo filho e entendem que algo grave aconteceu na unidade escolar. Amigos da vítima informaram que ele subiu em um alambrado e caiu já inconsciente depois de uma descarga elétrica causada por um “fio desencapado”. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e a equipe de socorristas tentou reanimar a vítima por mais de uma hora, mas o garoto não resistiu e foi a óbito no local. O corpo foi levado para necropsia no SVO do Centro de Medicina Legal do município. A Secretaria Municipal da Saúde informou que a viatura do Samu chegou em cinco minutos no local, prestou atendimento, mas o óbito foi constatado ainda no interior da escola.
A Câmara de Ribeirão Preto deve instaurar uma CPI para investigar os motivos que causaram a morte do estudante. Segundo o boletim de ocorrência (BO), a perícia, feita por solicitação da Polícia Científica, teria encontrado fios desencapados próximo ao local onde Lucas da Costa Souza foi encontrado morto. Na tarde de sexta-feira havia chovido e o local estaria molhado, o que poderia ter contribuído para a intensificar o choque.
O que deve ser investigado – Entre os tópicos que a CPI pretende investigar estão a manutenção preventiva na escola – por exemplo, em relação a fiação de energia elétrica – e se a prefeitura estaria repassando recursos mensais para a realização de pequenos reparos nas 109 unidades escolares municipais. A diminuição destes repasses, feito para a Associação de Pais e Mestres (APM), começou em 2014 na gestão da ex-prefeita Dárcy Vera (sem-partido) e atingiu seu ápice em 2015.
Em nota enviada ao Tribuna, a Secretaria Municipal de Educação informa que faz a manutenção regular em todas as escolas. “A pasta esclarece que está colaborando com a investigação e que aguarda a conclusão do laudo do IML. No dia do ocorrido, a secretaria esclarece que acionou o Samu, imediatamente após o aluno da Cemei Eduardo Romualdo de Souza sofrer uma queda ao subir em um portão de dois metros de altura. Ao chegar na escola, cinco minutos após o chamado, a equipe do Samu encontrou a vítima em parada cardíaca. Foi realizado, por quase uma hora, o procedimento de ressuscitação, porém não houve reversão”, completa o texto.
A rede municipal de Educação é formada por 34 Centros de Educação Infantil (CEIs), 41 Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis), 26 Escolas Municipais de Ensino Fundamental (Emefs), três Centros Educacionais Municipais de Educação Integral (Cemeis), duas Escolas Municipais de Ensino Fundamental e Ensino Médio (Emefems), um Centro de Educação Especial e Ensino Fundamental (CEEEF), uma Escola Municipal de Ensino Profissional Básico (EMEPB), Educação de Jovens e Adultos (EJA, salas espalhadas por várias unidades), além das 20 escolas conveniadas. São mais de 45 mil estudantes.
Quem é o pai ou a mãe da CPI?
A paternidade da Comissão Parlamentar de Inquérito que pretende investigar as causas da morte do estudante Lucas da Costa Souza, de 13 anos, no Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Eduardo Romualdo de Souza, na Vila Virgínia, na Zona Oeste de Ribeirão Preto, provocou uma disputa interna na Câmara. Nesta segunda-feira (3) foram protocolados, na Casa de leis, dois requerimentos para instauração da CPI.
Um de autoria de Isaac Antunes (PR) e o outro de Glaucia Berenice (PSDB). A definição de qual pedido prevalecerá deve obedecer à exigência de nove assinaturas de vereadores no requerimento, a ordem cronológica do protocolo e que ele atenda aos pré-requisitos exigidos para instauração de uma CPI.
Segundo Antunes, é preciso verificar as circunstâncias da morte de Lucas da Costa Souza e apurar se houve responsabilidade ou omissão da prefeitura e da Secretaria Municipal da Educação em relação ao assunto. “Nosso objetivo é investigar, ouvir os envolvidos e acompanhar as investigações da Polícia Civil”, afirmou o parlamentar, que pretende incluir nas investigações as condições físicas das unidades escolares municipais.
Ele esteve ontem no local acompanhado de um integrante do Conselho Municipal de Educação. Segundo Glaucia Berenice, presidente da Comissão Permanente de Educação da Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto, sua proposta quer investigar a segurança, a manutenção e as condições das escolas e apurar responsabilidades. Ela garante que a morte do estudante faz parte, mas não é o todo da proposta, e que a comissão não poderia se omitir em um momento como este.