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O IPM e a cidade

Durante muitos anos, o Brasil foi descrito como um país de jovens. O que se ignorava, por conveniência ou não, é que isso poderia ser transformado em uma equação matemática com uma conta que, no final, deveria ser paga por todos – os jovens e os nem tão jovens assim de hoje.

Junte-se a esse cenário o fato de que o modelo previdenciário do país é alicerçado no poder público. Isto é, a poupança da previ­dência, aquele recurso com o qual todos desejam contar depois de longos anos de trabalho, é de responsabilidade dos governantes.

Não há, hoje ou quando éramos jovens, político capaz de receitar um remédio que em médio e longo prazo ofereça o equilíbrio necessário às contas. A solução é amarga e até este momento ninguém se habilitou a assumir o ônus.

Em Ribeirão Preto, o Instituto de Previdência dos Municipiários (IPM) é um – não o único, sejamos francos – dos responsáveis pelas grandes dificuldades de a administração municipal avançar em ações e políticas públicas que atendam coletivamente à população.

Nas últimas décadas, a concessão de direitos aos servidores públicos municipais produziu um monstro. Aquela equação mate­mática sobre a qual falei no início foi ignorada: o instituto tem muito a pagar e pouco a receber e a conta deve ser coberta pelo poder público. Isto é: eu e você, leitor, estamos pagando impostos que são destinados ao pagamento de aposentados do serviço público.

E o aposentado que recebe este recurso não tem culpa disso, pelo contrário! É seu direito trabalhar e aposentar-se no tempo certo. A responsabilidade é daqueles que no pas­sado concederam benefícios insustentáveis, motivados por interesses pessoais e eleitoreiros, e deixaram para hoje essa grande encrenca. A palavra não é das mais bonitas, tampouco juridicamente utilizada. Mas, sejamos sinceros, é ou não uma situação confusa, perigosa e extremamente complicada?

A prefeitura não tem recursos para investir. Quase metade do orçamento é constitucionalmente comprometido com as verbas destinadas à educação (25%) e saúde (15%). Pouco mais da outra metade (54%) é destinado à folha de pagamen­to de funcionários, ativos e inativos, e agora os pensionistas, já que o IPM se mostra sem recursos para cumprir essa obri­gação. Os outros 6% devem atender a todos os outros setores, incluindo infraestrutura e planejamento, que demandam vultosos recursos em obras de engenharia, por exemplo.

Para 2019, o poder público planeja remanejar serviços e eleger prioridades. Já sabe de antemão que não poderá contar com os recursos gerados na própria cidade. Todo recurso proveniente de imposto recolhido em Ribeirão Preto é usado somente para fazer a máquina pública funcionar.

Quem padece com esta situação é quem depende do transporte público, do atendimento em unidades básicas de saúde da periferia, quem depende de vaga em creche, enfim, quem precisa que o poder público cumpra seu papel de dar respaldo à parte mais fraca da estrutura social.
Essa face mais vulnerável, entretanto, é ainda mais vitima­da pelo fato de que uma cidade sem investimento não atrai novos negócios. Uma cidade que não atrai novos negócios, não proporciona oportunidades e, sem elas, não há trabalho.

E o ciclo nefasto é concluído e reiniciado a cada período até que executivo e legislativo, desprendidos de interesses pessoais ou eleito­reiros, coloquem o dedo na ferida e encaminhem a solução para o gigantesco déficit das contas públicas do município. Por enquanto, estamos apenas aplicando medidas paliativas, que cobrem uma conta e abrem um imenso abismo do outro lado.

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