O Cineclube Cauim foi palco de uma noite nostálgica na última segunda-feira, 26 de novembro. A 4ª Companhia de Policiamento Rodoviário de Ribeirão Preto promoveu uma solenidade de valorização profissional em homenagem aos policiais militares que mais se destacaram no cumprimento do seu dever e aos que se aposentaram, tornando-se veteranos da instituição. Mas quem roubou a cena foi o tenente-coronel da reserva, Carlos Miranda, o eterno Vigilante Rodoviário.
Aos 83 anos e morando em Águas da Prata (SP), ele participou da solenidade promovida pela Polícia Militar Rodoviária (PMRv) e acompanhou a exibição do primeiro episódio de “O Vigilante Rodoviário”, batizado “O Diamante Grão Mongol”, sobre ladrões internacionais que entraram no país pelo porto de Santos – foi ao ar pela TV Tupi em março de 1961. Segundo Fernando Kaxassa, presidente do cineclube, o Cauim comprou os direitos de exibição da primeira temporada do seriado pioneiro no Brasil – são 38 capítulos no total, divididos em três temporadas.
A primeira temporada tem 14 episódios. “Inicialmente, nossa intenção é exibir um episódio por mês a partir de 2019, com entrada franca, sempre com a presença de um policial militar rodoviário, que vai orientar estudantes sobre noções de segurança, respeito ao pedestre e à sinalização e outros temas ligados à educação no trânsito”, diz o presidente do Cauim. Porém, ele não descarta a possibilidade de exibições semanais. “Vai depender do público e da disponibilidade das pessoas envolvidas com as palestras”, explica.
Na noite de segunda-feira, duas viaturas históricas do Policiamento Rodoviário ficaram expostas na entrada do cinema, uma moto 750 cilindradas e um Volkswagen Fusca utilizado pela corporação na década de 1970, mas a motocicleta Harley-Davidson 1952 e o Simca Chambord 1959 do Vigilante não vieram para Ribeirão Preto. Mesmo assim, Carlos Miranda, o Inspetor Carlos da série, fez questão de posar ao lado das máquinas e de fãs.
De acordo com o comandante da 4ª Companhia, capitão da PM Francisco Pane Neto, o objetivo da solenidade é “reconhecer abnegados profissionais que devotam, anonimamente, todo seu esforço e sacrifício em prol de uma sociedade mais justa, segura e fraterna”. O pioneiro seriado brasileiro “O Vigilante Rodoviário” foi criado e dirigido pelo cineasta Ary Fernandes, que também compôs a canção tema de abertura da série, intitulada “Canção do Vigilante Rodoviário”. O produtor técnico era Alfredo Palácios.
Desde criança, Fernandes sentia falta de um herói 100% brasileiro. A criação da série foi a realização deste antigo sonho. A escolha do tema surgiu da admiração que ele próprio nutria pela Polícia Rodoviária e pela simpatia que a população sentia pela corporação. Foi ao ar pela primeira vez em março de 1961, na Tupi Canal 4 numa quarta-feira, às 20h05, após o telejornal “Repórter Esso”, e patrocinado pela Nestlé do Brasil. Em 1967, foi novamente exibido pela Tupi. Durante a década de 1970 a série foi ao ar na Globo. Foi o primeiro seriado filmado em película de cinema no Brasil.
No total foram 38 episódios, nos quais os personagens Inspetor Carlos, interpretado por Carlos Miranda, e seu cão Lobo – foram usados cinco cachorros da raça pastor-alemão durante o seriado (em “Rin-tin-tim” foram 22 e em “Lassie”, 18) – lutavam contra o crime, na altura do quilômetro 38 da Rodovia Anhanguera, na região de Jundiaí, onde a maior parte dos episódios foi filmado devido ao clima que se apresenta ensolarado grande parte do ano, fator fundamental para as filmagens externas.
A série recebeu os mais expressivos troféus, entre eles o Roquete Pinto, Sete Dias na TV e Troféu Imprensa. Participaram de alguns episódios artistas como Ary Fontoura, Ary Toledo, Stênio Garcia e Juca Chaves. Segundo Sebastião Bueno, o Bueno Cantor, articulista deste Tribuna e ex-policial rodoviário – entrou para a corporação inspirado pelo Vigilante –, um dos cães que interpretaram Lobo foi embalsamado e na década de 1970 estava na sede da Polícia Rodoviária em Jundiaí.