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Família Mestriner e a boa música

Alguns filhos herdam dons especiais dos pais. Não é uma regra, mas acontece e os exem­plos são mais diversos e estão aí para serem comprovados. Se é DNA ou influência caseira, isso é tema de pesquisas, teses e dissertações. Mas o foco aqui não será essa polêmica cientí­fica, mas sim uma constatação de mais um caso em que filhos seguem os caminhos dos pais. Na verdade, filhas. E para a fe­licidade de quem gosta de boa música, esses caminhos têm sobrenome: Mestriner.

Bia Mestriner é reconhe­cida e premiada. Suas filhas Isabela e Mariana trilham os mesmos passos, mas vamos dizer que por estilos diferen­tes, entretanto também com qualidade.

“Minhas filhas sempre ouviram músicas que eu can­tava ou ouvia. O importante é a qualidade da construção musical”, explica Bia. “Hoje a Mariana canta música infantil, sucesso total em Ribeirão e ou­tras cidades com o seu ‘Canto Kids’ e a Isabela é envolvida como solista em ópera, uni­verso sendo ampliado a cada dia para ela. Elas, envolvidas com a música, são motivos de orgulho, bem como minha netinha Giulia, toda musical”, completa a cantora, dando a letra que vem mais talento musical na família.

Bia lembra que sua rela­ção com a música vem desde a infância em brincadeiras em família. “Vem dos encontros com os primos afinadíssimos, formando bandinhas vocais nas festas da nossa família Abrahão. Uma prima, Laura Abrahão, foi uma professora de música em São Paulo. Com os Mestriner ouvíamos no am­biente da casa dos avós a boa MPB. Especialmente minha mãe, que amava Tom Jobim”.

A caçula Isabela Mestri­ner, tem 27 anos e começou a cantar bem cedo, aos seis anos, quando Bia a colocou no Coral Minaz de Ribeirão Preto. “Mas a vontade de ser cantora mes­mo veio quando eu era adoles­cente e via meus amigos mais velhos estudando canto lírico e convivia muito com ópera e música clássica, além de ver sempre a minha mãe e meu pai trabalhando com música”, con­ta Isabela, que é fruto do rela­cionamento de Bia com o tam­bém músico Filó Machado.

Isabela comenta a influên­cia de dos pais. “Desde sem­pre eles me influenciaram. Mas sempre foi muito saudá­vel. Eles nunca me disseram que eu deveria ser cantora pra manter tradição de fa­mília. O que eles fizeram foi sempre me levar pra lugares onde tinha todo tipo de arte, nos passeios ou mesmo no caminho pra escola. Graças a eles, sempre vi a arte como uma coisa muito natural, não um hobby ou algo distante da minha realidade. E só de ver a paixão com que eles fazem música, sinto uma energia muito forte e especial”, diz.

Com Mariana Mestriner, 34 anos, não foi diferente. Ela conta que a mãe, desde que ela era pequena, a levava a shows, bares e ensaios. “Eu cresci no meio musical. Eu já nasci nesse meio. Desde que me conheço por gente eu vi e ouvi minha mãe cantar. Teve a influência dela. Ela me colocou no coral quando criança e incentivava bastante. Tive bandas na época de adolescente. Eu me consi­dero profissional desde os 14 anos. Já ganhava o dinheirinho com isso”, lembra Mariana. Ela diz ainda que a mãe sempre a convidou para participações especiais em shows ou grava­ções de jingles.

Ver Bia, Isabela e Mari juntas em um projeto musical parece não estar nos planos. “É que cada uma tem uma pai­xão, uma tendência”, explica Bia. Mas neste domingo (25), quando Bia Mestriner, estiver no Teatro Minaz, às 20 horas, para celebrar seis décadas de bossa nova, isso será possível. As três farão juntas uma par­ticipação especial. “É um mo­mento que sempre toca meu coração, o de cantar uma bossa com Mariana e Isabela. Amo!”, finaliza a cantora.

Bia Mestriner, trinta anos de carreira
Com dois álbuns lançados, uma indicação de melhor cantora ao Prêmio Sharp na dé­cada de 1990 e mais de 30 anos de carreira, Bia Mestriner estará no Teatro Minaz para celebrar seis décadas de bossa nova, neste domingo (25), às 20 horas.

Bia fala com emoção e empolgação sua carreira. Convidada pelo Tribuna ela tentou resumir esses trinta anos de música, mas não foi fácil.

“Cresci e fui cantar num madrigal forma­do na USP, o Revivis, que era um coro de música renascentista principalmente. Mas também de peças contemporâneas, intro­duzidas pelo maestro Lutero Rodrigues, as do século XX, Villa-Lobos, Gilberto Mendes, Strawinsky, Debussy, o que me levou a ouvir o jazz, a bossa”.

Ela lembra da irmã, da influência da bossa e do jazz. “Minha irmã, Regina Dias, é uma excelente cantora. A gente ouvia a Radio Eldorado, curtíamos e comprávamos discos com essas tendências”.

A cantora começou a cursar a Unicamp para fazer um curso de regência, mas interrom­peu. “Sempre instigada pela MPB resolvi assumir o canto da noite no Stream Palace Hotel onde entrei em 1986 e fiquei por lá cantando uns quatro anos com ótimos músicos locais, Haroldo Garcia, Toninho Diniz, Mário Flores, Eduardo Tarlá e mais tarde no mesmo hotel a cantar com o fiel amigo, irmão, companheiro de som que até hoje juntos, o excelente guitarrista Carlinhos Machado em diversos shows por cidades do Brasil e bares que na década de 80 e 90”.

“Gravei em 1994 o CD Bia Bossa Nova com produção e participação do Roberto Menes­cal, com o qual fui indicada como canto­ra-revelação no Prêmio Sharp de Música, hoje Premio Tim. Em 1997 gravei o ‘Num Tom Delicado, sob produção e participação do grande músico Filó Machado, CD só de composições próprias”, conta.

Um dos momentos de destaque na carreira de Bia Mestriner ocorreu em 1995, quando foi indicada como melhor cantora de MPB ao Prêmio Sharp de Música. Entrou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro de braço dado com o sambista Moreira da Silva, o lendário Kid Morengueira.

Bia fala que ama a interação com o público. Quem quiser conferir isso neste domingo (25), o teatro Minaz fica na rua Carlos Cha­gas nº 273, Jardim Paulista.

Isabela mostrou seu talento no Prelúdio, da TV Cultura
Isabela Mestriner mostrou um pouco do seu talento musical no programa “Prelúdio”, da TV Cultura. Ela chegou à semifinal, no concurso dedicado a apresentar os novos talentos da música clássica brasileira.

O Prelúdio teve a apresentação do maestro Júlio Medaglia e de Roberta Martinelli. O corpo de jurados foi formado pelo maestro Tullio Colacioppo; o jornalista e crítico musical Irineu Franco Perpétuo; o maestro Emiliano Patarra e o violonista Sidney Molina.

Isabela comentou sua participação no progra­ma. “Foi muito especial. Além do aprendizado que todo concurso traz, conheci pessoas mui­to legais, colegas extremamente talentosos, a produção foi totalmente atenciosa e as críticas da banca foram muito construtivas. Sou muito grata ao maestro Julio Medaglia pela oportu­nidade”, disse.

Sobre os planos para o futuro, a cantora de ópera foi enfática: “estudar fora, fazer muitas óperas e concertos pela vida”.

Mariana aposta em projeto com crianças
Mariana Mestriner fala que sua vida mudou com o nascimento da pequena Giulia, há sete anos. Sempre envolvida com MPB e bandas, com a vinda da filha ela começou a se dedicar aos cuidados com a então bebê.

“Eu ficava com ela, cuidando e cantando. Foi quan­do deu um clique e resolvi apostar nesse projeto musical para crianças, o Canto Kids”, conta.

O Canto Kids também é familiar. Ela e o marido, Rodrigo Oficiati, apresentam músicas autorais, cantigas de rodas e sucessos infantis de várias épocas. “Eu canto e toco pandeiro, ele canta e toca violão. O projeto nasceu há cinco anos e eu me encontrei nele. Me achei nesse universo infantil, canto com muito prazer e recebo carinho imediato, sou completamente apaixonada pelo projeto”, diz.

O projeto envolve apresentações em festas e even­tos infantis há cinco anos. Nos planos estão gravar um CD com músicas próprias e levar os shows para fora de Ribeirão Preto. Um detalhe interes­sante é que a pequena Giulia também se apresen­ta, indicando que a família Mestriner continuará nos palcos por mais uma geração.

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