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Temos consciência?

Passados 130 anos daquele famoso 13 de maio, somos chamados a continuar debatendo e refletindo sobre a situação dos descendentes de africanos que foram escravizados e tra­zidos para o Brasil. A Princesa Isabel promulgou a Lei Áurea, que abolia a escravidão no país, mas os movimentos sociais negros defendem que a libertação completa, ainda, não ocor­reu, e pior, pequenos avanços conquistados com muita luta correm risco de retrocesso.

Após 328 anos de escravidão, o negro foi liberto, porém a sociedade insistiu em manter alguns grilhões, negando à maior força de trabalho do país a justa remuneração, habi­tação e condições de sobrevivência. Assim, não há muito o que se comemorar em maio e adotou-se o 20 de novembro, data em que no ano de 1695 morreu Zumbi, que era líder do Quilombo dos Palmares e símbolo maior da resistência negra.

No passado, os escravos executavam as tarefas mais duras, difíceis e perigosas, e parece que pouca coisa mudou. Mesmo em situações onde exercem a mesma atividade, o salário é em média 36,1% inferior. Antes não podiam praticar sua religião, hoje os ataques às religiões de matriz africana continuam constantes. Pelos indicadores, nos últimos dez anos, a violên­cia letal intencional contra negros (pretos e pardos) cresceu 23,1% e regrediu contra não negros (brancos, amarelos e indígenas). Segundo o Atlas da Violência isto significa 71,5% das vítimas de assassinatos.

Para reduzir as diferenças, a equidade proporcionada pelas chamadas políticas afirmativas é fundamental. Exem­plo nítido está nas universidades que começam a dar seus primeiros e belos frutos, mas alguns setores já pensam em derrubar a árvore. Cegos diante da enorme desigualdade, não conseguem compreender que existe sim racismo, preconcei­to e discriminação racial e que precisamos utilizar todos os mecanismos para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Há quem critique a existência de uma data para tratar dessa temática. Certamente não foram abordados várias vezes por possuir um carro razoável, seguidos pelo segurança da loja, ignorados por garçons, convidados a usar o elevador de serviço, vítimas de brincadeiras ou piadas infames, preteridos na promoção da empresa ou censurados pelo corte de cabelo ou pela fé que professam.

Vivemos em uma sociedade multirracial, que insiste em inviabilizar o desenvolvimento de sua maior população. O Dia da Consciência Negra incomoda principalmente àqueles que não tem consciência e acreditam no mito da democracia racial. Nosso desafio diário é superar os muros do racismo e as barreiras do preconceito não apenas no discurso, mas na mentalidade e atitudes, estruturando o Brasil para verdadei­ramente viver em condições de igualdade.

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