Enzo Jordy da Silva, de 10 anos, aluno de um projeto social da Casa das Mangueiras, no Ipiranga, na Zona Norte de Ribeirão Preto, está entre os 48 bailarinos selecionados em todo o país pela Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, com sede em Joinville, Santa Catarina. Até ser aprovado, disputou uma das vagas com 5.873 candidatos brasileiros e, na etapa final, com 820 concorrentes. Na última seletiva, entre 19 e 21 de outubro deste ano, passou por testes físicos e artísticos.
O garoto deve se mudar com os pais, o irmão caçula e uma tia para Joinville já em dezembro porque as aulas começarão em fevereiro de 2019. Os bolsistas podem ficar até oito anos no curso, com benefícios que vão do ensino gratuito a alimentação e assistência médica. Enzo Jordy da Silva disputou a seletiva de outubro com o amigo de bairro Gustavo Kaike de Souza Bento, de nove anos, que não foi escolhido desta vez, mas passou por todas as demais etapas.
Os garotos fazem balé clássico há dois anos, desde que Vanessa Ortolan implantou o projeto de dança na Casa das Mangueiras. Os dois viraram alunos da Escola de Ballet Vanessa Tremeschin, com sede no Jardim Botânico, na Zona Sul de Ribeirão Preto. Ambos moram no Ipiranga, bairro da periferia. Para ficar três dias em Joinville, as professoras de balé e os coordenadores da Casa das Mangueiras lançaram uma campanha para angariar recursos e bancar a viagem dos garotos e das famílias.
A mãe de Enzo, a dona de casa Thais Elizabeth, está orgulhosa do filho. “Ficamos felizes com a escolha, ele faz balé há dois anos, participou de ‘O Rei Leão’ no Teatro Municipal como protagonista e agora vai para Joinivlle”. O marido dela é ajudante de produção na Coca- Cola Andina. Segundo o garoto, o balé significa “dança e sentimento. Comecei a dançar com meu amigo Gustavo na Casa das Mangueiras. Logo percebi que era isso que eu queria. Quero ser um grande bailarino para ajudar a minha família e a Casa das Mangueiras”, disse em outubro.
“Gosto de balé, é uma dança que põe todos os sentimentos para fora. Espero uma vida melhor, ajudar a Casa das Mangueiras. Sempre acreditei que o balé é para todos, não somente para meninas, assim como o futebol não é só para meninos.” A Escola do Teatro Bolshoi no Brasil atende desde 15 de março de 2000, na cidade catarinense de Joinville. É a única filial do famoso teatro russo. Proporciona a formação de artistas da dança, ensinando a técnica de balé segundo a metodologia Vaganova, dança contemporânea e disciplinas complementares.
Com alunos vindos de diferentes estados brasileiros e do exterior, a instituição ressalta o seu compromisso social, ao conceder 100% de bolsas de estudo e benefícios para todos os alunos. Uma seleção acontece todos os anos para o ingresso de novos bailarinos. Localizada em uma área de seis mil metros quadrados, no Centreventos Cau Hansen, a Escola Bolshoi dispõe de uma estrutura completa, espaço ideal para abrigar essa absoluta dedicação profissional ao ensino da dança e formar artistas. Uma equipe de 67 funcionários e 13 bailarinos se dedica à missão de formar artistas cidadãos e divulgar a instituição por meio da arte.
Casa das Mangueiras
Em 1973, crianças e adolescentes foram encontrados em um posto policial de Ribeirão Preto, trancados em celas, vigiados por soldados e um grupo de defesa dos direitos humanos aceitou o desafio para mudar a situação. Junto com os próprios meninos e a comunidade, estas pessoas construíram uma casa de acolhida e educação – a Casa das Mangueiras, que se tornou uma experiência pioneira com meninos de rua, de 12 a 17 anos, autores de atos infracionais, inaugurada em 8 de dezembro de 1973, Dia da Justiça. Foram os próprios meninos que escolheram o nome em virtude da grande quantidade de mangueiras existentes no local.
Atualmente está localizada no Ipiranga, região da cidade de Ribeirão Preto com forte influência do tráfico de drogas. Desenvolveu uma metodologia própria para o atendimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. A Casa das Mangueiras é um espaço de convivência e aprendizado, é movida pela opção pelo ser humano, pelo potencial das pessoas. Desde 1993 atende também meninas em situação de vulnerabilidade.