O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto – vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) – divulgou nesta quarta-feira, 31 de outubro, a primeira imagem das irmãs siamesas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, de 2 anos, que nasceram unidas pela cabeça, após a cirurgia de separação, realizada no último final de semana e que durou mais de 20 horas – começou às sete da manhã de sábado (27) e terminou pouco depois das três da madrugada de domingo (28). As gêmeas aparecem nos colos do pai Diego e da mãe Débora Freitas.
“Um dia de alegria que marca a história do hospital”, escreveu a equipe médica junto com a imagem. Separadas e com as cabeças enfaixadas, as meninas passam bem, já respiram sem a ajuda de aparelhos e estão na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica. As irmãs passaram por cinco cirurgias desde fevereiro. A última, como em todos os procedimentos que envolvem as siamesas, contou com apoio de 30 profissionais. O procedimento é inédito no Brasil.
O médico norte-americano James Goodrich, referência mundial no assunto e que criou o método de separação de siamesas por etapas, acompanhou a operação. Ele explica que, antes da cirurgia por fases, era muito difícil salvar as duas pessoas e os pais, muitas vezes, tinham de escolher quem sobreviveria. Nesta quarta-feira, a mãe das meninas, Débora Freitas, se emocionou ao contar que pela primeira vez pode pegar uma filha por vez no colo. O pai, Diego Freitas, revelou que pretende levar as meninas para passar Natal e Ano-Novo no Ceará, mesmo sabendo que a fase de reabilitação vai durar meses e deve começar entre o final deste ano e o começo de 2019.
No futuro, elas também deverão necessitar de cirurgias reparadoras para cobrir a parte da cabeça que ficou sem cabelo. A equipe que participou da cirurgia de separação foi composta por neurocirurgiões, cirurgiões plásticos, neuroradiologistas, anestesistas, pediatras intensivistas e enfermeiros. Comandado pelo professor chefe do Departamento de Neurocirurgia Pediátrica, Hélio Rubens Machado, o procedimento foi dividido em cinco etapas para que pudesse ser concretizado.
A primeira operação ocorreu em 17 de fevereiro e durou cerca de sete horas. A segunda cirurgia, em 19 de maio, teve duração de oito horas. A terceira cirurgia ocorreu em 3 de agosto e se estendeu por oito horas. A quarta cirurgia aconteceu em 24 de agosto, quando os médicos implantaram expansores subcutâneos para dar elasticidade à pele e garantir que, na separação total de corpos, houvesse tecido suficiente para cobrir os dois crânios. A última levou mais de 20 horas.
De acordo com Santos, as siamesas devem permanecer no Hospital das Clínicas por mais algumas semanas e iniciar o processo de reabilitação na mesma unidade, para só depois retornar para casa. A família, que é de Patacas, distrito de Aquiraz (CE), está morando temporariamente no campus da USP com o apoio de voluntários. Esse tempo no HC é necessário para que a equipe veja se elas vão ter algum tipo de déficit.
Por enquanto, elas estão bem, mexem os braços, as pernas, e estão respondendo aos estímulos cerebrais, segundo o chefe da equipe, o neurocirurgião Hélio Rubens Machado. Todo processo de separação das meninas é custeado pelo Sistema Unificado de Saúde (SUS). Nos Estados Unidos, um processo de separação como o delas custa cerca de R$ 9 milhões.