Ribeirão Preto amanheceu debaixo d’água nesta quarta-feira, 17 de outubro. A forte chuva que atingiu a cidade causou transtornos. Ruas e avenidas ficaram alagadas, vários trechos foram interditados, semáforos apagaram, o trânsito ficou lento, houve acidentes, uma comunidade na Zona Norte inundou e várias pessoas estão desalojadas. Nem o Palácio Rio Branco escapou: o prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB) anunciou medidas de contenção de despesas sob as goteiras no Salão Nobre – baldes foram espalhados pelo recinto.
Em quatro horas, das cinco da madrugada às onze da manhã, choveu o equivalente ao mês inteiro. O volume de 140 milímetros é o maior para outubro em doze anos. Na avenida Doutor Francisco Junqueira, na região central da cidade, o Retiro Saudoso transbordou em alguns pontos, principalmente no trecho em frente à concessionária Atri Veículos e ao bar Epicurista. Os funcionários da loja tiveram que manobrar os carros como se fossem barcos – estavam boiando.
Em frente ao Auto Posto Triângulo, na esquina da rua Marechal Deodoro, houve alagamento. A água chegou a mudar o sentido de direção de carros e a invadir um pouco as instalações de algumas empresas da área. Na Atri, funcionários ajudaram no escoamento da água no saguão principal, após o abrandamento das chuvas.
As chuvas mostraram que aquele trecho da Francisco Junqueira ainda é um “gargalo” de alagamento em Ribeirão Preto, mesmo após as obras de contenção e alargamento do córrego Retiro Saudoso, entre 2008 e 2014. A esquina da rua José Bonifácio, onde está sendo construída uma das três pontes com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento II – PAC da Mobilidade, também alagou no início da manhã.
A Rodovia Anhanguera (SP-330), também teve alagamento, perto do quilômetro 313, no Jardim Aeroporto, na Zona Norte, gerando um congestionamento de dois quilômetros. Enxurradas foram registradas em ruas do Centro e do Jardim Paulista, na Zona Leste. Entre as ruas Bernardino de Campos e São José, os bueiros não deram conta de escoar a enxurrada e os carros tiveram dificuldade de passar pelo local. A água cobriu as calçadas, mas não chegou a invadir os estabelecimentos comerciais.
A rua Flórida, no Jardim Jóquei Clube, e a Heron Domingues, no Parque São Sebastião, também ficaram alagadas. Semáforos desligaram no cruzamento da rua Coronel Américo Batista com a avenida Eduardo Andrea Matarazzo (Via Norte) e entre a Aliados e a avenida Marechal Costa e Silva. Agentes de trânsito orientaram os motoristas até o restabelecimento da eletricidade. Trechos da Via Norte ficaram alagados e alguns motoristas usaram a ciclovia para escapar da água.
Em um dos acidentes, um veículo Peugeot 207 ficou pendurado sobre a defensa de divisão do Viaduto Jandira de Camargo Moquenco, no Jardim Paulista. Segundo testemunhas, por causa da forte chuva, o carro ficou descontrolado e colidiu na mureta que divide as duas pistas. Houve congestionamento na avenidas Independência e Meira Júnior. Ninguém ficou ferido, mas o tráfego ficou lento.
O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) prevê pancadas de chuva fortes e acompanhadas de trovoadas nesta quinta-feira. O Instituto Somar diz que as chuvas fortes são normais nesta época do ano. A precisão é de mais água até sexta-feira (19), pelo menos.
A Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Ribeirão Preto (Transerp) registrou alagamentos nos cruzamentos da Via Norte com a rua Orunmilá, no sentido Centro -Bairro, e com a avenida General Euclides Figueiredo, no sentido inverso, em direção ao bairro Adelino Simioni. Ambos os trechos foram bloqueados.
Na rua Niterói, na Lagoinha, o asfalto cedeu em um trecho da via. A Transerp interditou o trecho da rotatória da avenida Cavalheiro Paschoal Innecchi com a avenida Doutor Oscar de Moura Lacerda, na Zona Norte, devido ao alagamento provocado pelas fortes chuvas desta quarta-feira. Até a noite de ontem não havia previsão de liberação ao tráfego. A orientação é que os condutores evitassem o acesso ao entorno.
Obras antienchentes custaram R$ 117 mi
Dividido em quatro etapas, entre 2008 e 2014, o projeto das obras antienchentes em Ribeirão Preto custou R$ 117 milhões aos cofres públicos. As intervenções ocorreram no córreo Retiro Saudoso, na avenida Doutor Francisco Junqueira, e no Ribeirão Preto, nas avenidas Jerônimo Gonçalves e Fábio Barreto. O governo federal investiu R$ 99 milhões – R$ 52 milhões via financiamento com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), R$ 30 milhões de emendas parlamentares e R$ 17 milhões a fundo perdido.
O estadual aplicou R$ 3 milhões – via Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição (Fecop), da Companhia de Tecnologia Ambiental de São Paulo (Cetesb) –, a prefeitura entrou com R$ 10 milhões e a Câmara de Vereadores com mais R$ 5 milhões. Em todas as ações de combate às enchentes foi executado um extenso plano de compensação ambiental com o replantio das 128 palmeiras imperiais e o plantio de oito mil espécies arbóreas na região e pela bacia do Ribeirão Preto, compreendida pelo Parque Maurílio Biagi, tornando estas áreas mais protegidas e permeáveis.
Cidade Locomotiva fica debaixo d’água
A Favela Cidade Locotomiva, no Jardim Jóquei Clube, na Zona Norte de Ribeirão Preto, ficou debaixo d’água mais uma vez – em 2016 um temporal já havia obrigado os cerca de 1.500 moradores de 370 famílias a deixar o local. O cenário era o mesmo nesta quarta-feira, 17 de outubro. O Corpo de Bombeiros teve que usar botes para resgatar as pessoas. A maioria perdeu o pouco que tinha – móveis, geladeira, fogão, roupas, alimentos, remédios e aparelhos eletrônicos.
Platinir da Silva Nunes, representante regional da União Nacional da Moradia Popular e principal líder da Cidade Locomotiva, comunidade que desde 2014 ocupa um terreno de 60 mil metros quadrados da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) localizada na rua Peru, no Parque Industrial Coronel Quito Junqueira, disse que alertou os bombeiros pouco depois do início do temporal, às cinco horas, mas o socorro só chegou horas depois, quando 90% dos moradores já haviam deixado a área.
Segundo a Defesa Civil, a comunidade Cidade Locomotiva foi um dos pontos mais atingidos pela chuva. A prefeitura prestou atendimento e auxílio desde as primeiras horas do dia. Os moradores receberam alimentação e doações. A Secretaria Municipal da Assistência Social cadastrou 43 famílias, totalizando 179 pessoas, para oferecer os serviços compreendidos pela pasta.
A pasta ofereceu a Casa de Passagem aos desalojados da Favela da Cidade Locomotiva como abrigo, porém, muitas famílias por iniciativa própria se dirigiram ao Parque Permanente de Exposições, o antigo recinto da Feapam. Outras esperaram a água baixar e voltaram para a favela. A Casa de Passagem continua à disposição das famílias, bem como toda a equipe de assistentes sociais está de sobreaviso para ajudar no que for preciso ao apoio destas famílias atingidas pela chuva. Os moradores usaram até caixas de água para sairem de casa, já que a água alagou toda a favela.
Crianças deixaram os barracos com água acima da cintura. A Favela Locomotiva começou a ser erguida em 2014 em uma área de preservação ambiental – parte é da União e parte do município. As famílias se dividem em barracos, casas de alvenaria e vagões abandonados, às margens do ramal ferroviário.
Há dois anos, um temporal deixou 30 famílias desabrigadas. Os moradores ocuparam um antigo galpão administrado pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e passaram a receber doações e assistência da prefeitura. Segundo a Defesa Civil, as enchentes na comunidade ocorrem por uma questão topográfica e de construção das moradias em área irregular. A favela está em uma região mais baixa do bairro e é atingida pela enxurrada que desce pela rua Peru. Segundo a Prefeitura, as secretarias de Obras e de Infraestrutura têm planos para melhorar a drenagem no local.
Prefeitura de RP mobilizou equipes
A prefeitura de Ribeirão Preto reforçou a mobilização das equipes da Defesa Civil, Guarda Civil Municipal (GCM), Secretaria Municipal de Assistência Social e Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Ribeirão Preto (Transerp) para atendimento à população, devido às fortes chuvas registradas na manhã desta quarta-feira, 17 de outubro.
Segundo a Defesa Civil, os pontos de maior vulnerabilidade ocorreram na comunidade Cidade Locomotiva, na Zona Norte, onde a prefeitura prestou atendimento e auxílio desde as primeiras horas do dia. Outros pontos de alagamento foram registrados no final da avenida Adelmo Perdiza, na Vila Virgínia, na extensão da Via Norte e na avenida Doutor Francisco Junqueira, próximo à avenida Maria de Jesus Condeixa.
A Guarda Civil Municipal também se mobilizou para o atendimento da população, desde as seis horas da manhã, colocando todos os veículos e efetivo nas ruas para prestar auxílio em qualquer situação de primeira necessidade. A Secretaria da Assistência Social cadastrou 43 famílias, totalizando 179 pessoas, para oferecer os serviços compreendidos pela pasta.
A secretaria informa que ofereceu a Casa de Passagem aos desalojados da Favela da Cidade Locomotiva como abrigo, porém, muitas famílias por iniciativa própria se dirigiram ao Parque Permanente de Exposições, o antigo recinto da Feapam. A Casa de Passagem continua à disposição das famílias, bem como toda a equipe de assistentes sociais está de sobreaviso para ajudar no que for preciso ao apoio destas famílias atingidas pela chuva.
Ainda como consequência das chuvas, houve aumento de acidentes no trânsito, sobretudo com motociclistas, e de congestionamentos devido ao horário de pico. Os agentes civis de trânsito permaneceram nos locais para orientação dos condutores. A Transerp ainda informa que os semáforos que ficaram inoperantes já tiveram seu funcionamento restabelecido.
Um trecho da faixa esquerda da Via Norte está interditado por conta do excesso de barro acumulado devido à chuva. Uma ação conjunta da Secretaria de Infraestrutura, Coordenadoria de Limpeza Urbana (CLU) e Transerp fará a remoção dos resíduos. A pista será liberada nesta quinta-feira, dia 18.
Pontos de alagamento, quedas de árvores, risco de desabamento e outras situações podem ser comunicadas pela população, assim como pedidos de assistência para desabrigados, às equipes da prefeitura. A Guarda Civil Municipal atende pelos telefones 199 e 153, que funcionam 24 horas, todos os dias da semana. Há também o número (16) 3632-4747, em horário comercial, de segunda a sexta-feira.
Já os serviços da Secretaria de Assistência Social podem ser contatados pelo número 161, que também funciona 24 horas, todos os dias da semana. A Semas informa que as famílias, independentemente de onde residam, são atendidas pelos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), de acordo com seu território de moradia. As famílias desalojadas podem solicitar abrigo provisório na Casa de Passagem.