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Cinema – Cauim, o ‘herói da resistência’

O prédio já abrigou um cinema, um dos menores da cidade, depois virou templo religioso, ficou fechado por um período e voltou a ser sala de cinema, só que a maior da cidade. Tudo isso em um es­peco de tempo de 50 anos. É o Cauim, antigo Cine Bristol, na rua São Sebastião, no coração de Ribeirão Preto. Hoje, o pré­dio é o único cinema do muni­cípio fora dos shoppings e que abriga o único Cine Clube em atividade em franca operação.

Em 1969, o então Cine Bristol foi construído. “O projeto foi do cineasta Gui­lherme Almeida Prado, de Jardinópolis, que trouxe um arquiteto grego que quis fa­zer um tipo de arena. Igual ao que se tem hoje em estádio de futebol, isso ele pensou na­quela época”, conta Fernando Kaxassa, diretor do Cine Clu­be Cauim. “Como foi próxi­mo da Copa de 1970 muito se fala que foi pensando em es­tádios daquela Copa, mas na verdade ele pensou em uma arena, hoje sim muito pareci­do com as atuais arenas, mas maravilhoso, porque onde você sentar pode enxergar a tela completa, a maior do Brasil”, completa Kaxassa.

O Cine Clube assumiu o antigo prédio em 2003 e de lá para cá foram várias reformas, com estruturas modernas. “Nosso forro foi adequado. Há dois anos também adquirimos o projetor de sistema digital. Mudamos o sistema de som. Temos os laudos de vistorias do Corpo de Bombeiros e acredito que somos um dos poucos da cidade. Há prédios públicos e particulares que não possuem esses documen­tos”, enfatiza.

A capacidade que antes era de 800 lugares passou para 690, também para aten­der orientações de segurança dos Bombeiros. “Mas mesmo assim somos a maior sala de cinema de Ribeirão Preto e uma das maiores do Bra­sil. Antes, quando tínhamos muitos cinemas no centro da cidade, era a menor, hoje a maior”, diz o diretor.

Para manter as salas cheias, o Cine Clube, que não tem fins lucrativos, exibe filmes a crian­ças e estudantes gratuitamente e diariamente. Em média são três sessões diárias com apro­ximadamente 400 pessoas em cada. “É o projeto ‘Escola Vai ao Cinema’. Temos uma boa logística. Buscamos e levamos as crianças da escola ao cinema e com isso estamos formando novo público”, ressalta.

Kaxassa aponta que o nú­mero não é maior porque a operação afetaria o trânsito na área central. “De 2004 a 2007 tínhamos seis sessões, com 800 pessoas em cada, ou seja, mais de quatro mil pessoas por dia. Imagina esses ônibus indo, vindo e parando no centro da cidade. Hoje isso é impraticá­vel”, reconhece. “Nessa opera­ção de 400 pessoas por sessão, em três sessões, levamos em média, para descer, contar e colocar as crianças dentro ci­nema, coisa de três minutos. É muito rápido”, afirma.

Mas se alguém que não seja aluno de escola quiser matar saudade do antigo Cine Bristol e ver as reformas pro­movidas pelo Cauim, terá que ficar atento à programação. “Invariavelmente a gente tem os projetos que atendem à demanda, com a participação de escolas durante os dias de semana e de ONGs e associa­ções aos sábados e domingos. Não temos uma programação comercial”, explica. Mas nas férias isso sofrerá alterações. “Como não teremos aulas, ire­mos distribuir 70 mil convites entre dezembro e janeiro. Essa distribuição será nos bairros, para associações de morado­res, sindicatos e outras entida­des”, finaliza.

Cinema mais caro, por quê?

O diretor do Cine Clube Cauim, Fernando Kaxassa, apresenta uma teoria, baseada na prática, que explica a elevação do preço dos ingressos nos cinemas. “Antes do Governo Collor, o preço do cinema era algo em torno de 0.30 centavos de dólar. Hoje, chega a qua­tro dólares. Mas na época tínhamos muitos cinemas grandes que lotavam. Era uma diversão barata e o povo de qualquer lugar da cidade chegava ao centro. Era rentável”, explica.

Mas então, o que mudou? Kaxassa diz que os empre­sários, donos dos prédios, viram oportunidade de terem mais lucros alugando os prédios para igrejas, mercados e outros estabelecimentos. No mesmo período, os shoppings precisavam de mais público e com salas menores, passaram a cobrar mais. “Numa reunião com o então ministro da Cultura, Gilberto Gil, ele questionou que os cinemas eram caros e que o povo fugiu das salas. Na ocasião falei que era o contrário. Os cinemas fugiram do povo. Foram para os shoppings. As pessoas mais simples, que só tomavam ônibus, chegavam ao centro e iam ao cinema barato, desistiram de ir mais longe, além de outros fatores como roupas e outros gastos”, explica Kaxassa.

“Hoje estamos no projeto de formadores de novos adeptos ao cinema. Temos que incentivar esse hábito e como isso é feito? Com crianças nas escolas. Creio que esse é o caminho”, encerra.

Sala foi modernizada, menos lugares, mais conforto e segurança
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