Tribuna Ribeirão
Cultura

Sevandia – Operação vira obra de arte

A exposição “Retratos da Ci­dadania”, que traduz a atuação dos promotores do Ministério Públi­co Estadual (MPE) de São Paulo em casos emblemáticos por meio da sensibilidade de artistas convi­dados, chega a Ribeirão Preto na próxima terça-feira, 2 de outubro, com solenidade de abertura pre­vista para as 19 horas. A mostra fi­cará em cartaz no Centro Cultural Palace, na rua Duque de Caxias nº 322, no Quarteirão Paulista, Centro Histórico (ao lado do Theatro Pedro II) e, em sua estreia, contará com a presença do procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio.

Um dos quadros, da artista plásti­ca Isabella Moral, retrata a Operação Sevandija, o maior escândalo político de Ribeirão Preto, deflagrada em 1º de setembro de 2016 e que resultou na prisão da ex-prefeita Dárcy Vera (sem partido) – ela refuta as acusações e diz que vai provar inocência. Outro caso regional está retratado na mostra: o combate a candidaturas fantasmas de mulheres em Santa Rosa do Viterbo, em tela de Gabriel Bueno.

Também participam da mostra Lygia Pires, Pedro Luis Soares, Bernardo Abreu, Nathália Marçal, Henrique Campeã, Alberto Lazarini, Hiram Denf, Gabriel Coimbra, Rodolfo Martins, Henrique Cencini, Carol Coimbra, Feppa Rodri­gues, Shun Izumi, Julia Belik, Debora Sei­va, Pedro Drunska e Vinícius Marada. A mostra traz 18 produções de artistas paulistas que se inspiraram em entrevistas de promotores de Justiça, cidadãos e espe­cialistas na composição de seus trabalhos, feitos em telas e esculturas.

Até 16 de outubro, o público de Ri­beirão Preto e região poderá conferir to­das as entrevistas, em vídeo, que foram entregues aos artistas e guiaram suas produções. Produzida em parceria com a agência VML (parceira pró-bono do MPE desde 2013), a exposição traz relei­turas de casos emblemáticos que demons­tram a parceria entre o Ministério Público e a população, tais como o retorno para os cofres públicos do dinheiro desviado pelo ex-prefeito Paulo Maluf, o impulso à construção de mais de 85 mil vagas em creches, a operação que gerou a prisão da ex-prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera, e o fim de um programa ilegal de retirada de rins de cadáveres.

“Essa exposição é uma verdadei­ra prestação de contas, criada a par­tir da sensibilidade desses grandes artistas e do trabalho do Ministé­rio Público em favor da sociedade”, diz o procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio. Os visitantes também poderão assistir a todas as entrevistas que serviram de inspira­ção para os artistas.

Histórias como a de mulheres atendidas pelo projeto Guardiã Ma­ria da Penha (programa de proteção de mulheres vítimas de violência doméstica), o trabalho de combate à crise hídrica no estado de São Paulo, os relatos de catadores de material reciclável que deixaram a invisibi­lidade após a extinção do lixão de Presidente Prudente e consequente abertura de um aterro controlado, a história de crianças, jovens e adultos que conquistaram o nome de seus pais por meio do projeto Encontre Seu Pai Aqui, a família que conquis­tou um CEP com a urbanização de uma favela em Itaquaquecetuba, a fraude em plantão médico de Ara­çatuba e muitas outras.

A escolha dos artistas e a cura­doria da exposição foram realizadas pela agência VML e a impressão e montagem das artes pela BPrint Co­municação Visual, que atuaram de forma voluntária. A Estação Cultura fica na rua Mauá nº 51, no bairro da Luz, em São Paulo. Para conhecer a programação cultural de todo o es­tado, acesse a plataforma www.esta­dodacultura.sp.gov.br.

Temas regionais das obras de arte
Operação Sevandija
A Operação Sevandija –”parasita”– comandada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em Ribeirão Preto foi deflagrada após desdobra­mentos da investigação de uma licitação suspeita de R$ 26 milhões para a compra de catracas para escolas municipais, que nunca funcionaram como deveriam. A denúncia chegou à Promotoria em 2015 e, a partir dela, descobriu-se um esquema de recebimen­to de propina envolvendo honorários advocatícios, corrupção em um contrato do setor de água e o uso de uma empresa terceirizada para empregar indicados por vereadores.
A apuração chegou a licitações fraudadas que somam mais de R$ 200 milhões, segundo o Gaeco. Foram denunciadas dezenas de pessoas e bloqueados mais de R$ 33 milhões, além de imóveis e veículos. Ainda estão presas a ex-prefeita Dárcy Vera, o ex-secretário municipal da Administração, Marco Antonio dos Santos,e os advogados Sandro Rovani e Maria Zuely Alves LIbrandi. Todos negam participação nos crimes. Seis pessoas já foram condenadas por organização criminosa e peculato pelo juiz Lúcio Alberto Eneas da Silva Ferreira, da 4ª Vara Criminal de Ribeirão Preto, na ação penal dos honorários advocatícios, que investiga desvio de R$ 45,5 milhões de uma ação de reposição de perdas salariais dos servidores (ação do 28,35%, Plano Collor, 1990).
São eles Dárcy Vera (18 anos, nove meses e dez dias de prisão), Marco Antonio dos Santos (mesma pena da ex-prefeita, além de 88 dias-multa), o ex-sindicalista Wagner Rodrigues (onze anos em prisão domiciliar, além de 50 dias-multa) e SOS advogados Sandro Rovani, André Soares Hentz e Maria Zuely (14 anos e oito meses de reclusão, além de 66 dias-multa cada). Rodrigues e Hentz estão em liberdade. Afora o ex-sindicalista, todos negam a prática de crimes.

Santa Rosa do Viterbo
O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) cassou, por unanimidade, em agosto de 2017, o diploma de candidatos de uma coligação de Santa Rosa do Viterbo, na região de Ribeirão Preto, que lançou candidaturas femininas fraudulen­tamente, apenas com o intuito de cumprir a cota de gênero em sua chapa e, assim, viabilizar o deferimento do registro da coligação para as eleições de 2016.
O Ministério Público apurou que três candidatas não receberam nenhum voto no pleito de 2016, tendo tampouco recebido qualquer doação em dinheiro ou em serviços, uso de bens móveis, imóveis. Nesse caso, verificou-se que a presença das mulheres no registro de candidatura, ao invés de buscar a igualdade de gênero na política, representou burla a aplicação da legislação eleitoral.

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