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Eles são produtos do meio

Nas periferias pobres, os pais costumam dar nomes em inglês para os seus filhos, embora muitas vezes não saibam fazer a pronúncia, mas a esperança que o nome por si só traga para seus rebentos dias melhores. Michael, Jennifer e Wellin­gton são nomes comuns nestas comunidades, mas os nomes não mudam o destino da miséria e violência que as cercam o tempo todo.

Michael, como tantos outros meninos que crescem nestes ambientes, aprendem cedo a sufocar os seus sonhos, pois a realidade que os cercam não permite que sejam fracos. Convive com a violência e a miséria desde sua chegada a este mundo, e isso vai forjando seu caráter, e ensinando o duro caminho de uma vida miserável e sem esperança. A educação, saúde, violência e a miséria das comunidades carentes (no­menclatura criada para amenizar o retrato hostil que tinham as favelas) são pautas dos políticos a cada dois anos, mas ficam apenas nas promessas que nunca se realizam.

A esperança que a educação vá mudar este filme de horro­res se desfaz momentos depois de encerradas as eleições, e se renovam para o próximo biênio. O ambiente hostil e violento que começa no seio da família, se repete no ambiente escolar. Como a educação de qualidade nunca está na ordem do dia, não há preocupação com o cuidado holístico do educando. A Constituição estabeleceu os parâmetros para a educação básica, e o Estatuto da Infância e Adolescência o materia­lizou, mas na maioria das cidades brasileira, inclusive em Ribeirão Preto, uma das cidades mais ricas do País, até 1998, as creches eram responsabilidade da Secretaria do Bem Estar Social, e funcionava como um depósito de crian­ças, sem nenhuma preocupação pedagógica, para que as mães pudessem trabalhar.

Michael chegou ao nono ano do ensino fundamental, sem esperança, e sem vontade de continuar estudando, pois para ele o que aprendia na escola não fazia sentido para a sua vida, pois a mesma miséria e violência que vivia no seu cotidia­no, se repetiam no ambiente escolar: os ventiladores das salas estavam sempre quebrados; os banheiros não tinham os assentos nos vasos sanitário;, uma quadra era coberta, a outra queimando no sol; e o tempo todo os alunos sendo culpados pelo fraco desempenho escolar. Isso o fazia refletir sobre o que fazer na vida, não tinha abandonado a escola ainda porque se o fizesse sua mãe perderia o Bolsa Família, e ia fazer falta, além do mais, sua mãe queria que ele terminasse os estudos.

Via o noticiário sobre a política nacional, e era só gente se dando bem – mala de dinheiro pra lá e pra cá – todos se dando bem. Observava a vida de alguns jovens de sua comu­nidade que enveredaram no mundo do crime, bem vestidos, sempre com dinheiro no bolso, com carro e moto, e tendo as menininhas aos seus pés, e fazia comparação com a vida que levava – vendo seu pai e sua mãe trabalharem duro para sustentar a família, mas sempre o dinheiro era mais curto do que o mês. E essa situação conflitante lhe fez tomar uma ati­tude – assim que terminasse o ensino fundamental iria entrar para o mundo do crime, iria começar a traficar, pois seus pais sempre deram duro, e mal tinham o que comer.

Fala-se muito na atualidade do combate à violência, mas a pior violência é a violência institucionalizada que nas­ce desta “politicanalha”, e da corrupção desenfreada, que matam as esperanças e sonhos dos nossos jovens, principal­mente dos que vivem nas periferias pobres. Muitos veem no tráfico de drogas uma porta, mesmo que seja por um curto período, pois a morte os ronda o tempo todo, selando uma vida inteira de miséria e desesperança. Só se muda um País com uma educação pública de qualidade. Educação não é gasto – é investimento.

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