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Mais emoção ou mais razão?

A cinco semanas do pleito, nuvens pesadas continuam a empa­nar o cenário. Ainda não enxergamos os atores do palco no se­gundo turno, mas dá para distinguir traços que poderão influen­ciar a decisão final do eleitor, a começar por duas alavancas que mexem com o sistema cognitivo: a razão e a emoção. A emoção abriga a torrente de sentimentos das pessoas, como raiva, indig­nação, vingança, simpatia/antipatia, medo, desespero e por aí vai. Já a razão implica processos críticos, a partir da comparação entre protagonistas, análises apuradas sobre os perfis capazes de produzir a sentença: o governante certo no momento adequado para o lugar correto.

Como se extrai o índice de razão e emoção ao correr de uma campanha eleitoral? Grupos submetidos a uma bateria de pes­quisas qualitativas dão aos marqueteiros as clamadas respostas. Mas uma simples observação sobre o dicionário usado pelos figurantes e suas respectivas assistências já é suficiente para se ter ideia dos vetores que movem o interesse do eleitor. O clima geral do país – que se mede pela satisfação/insatisfação do consumi­dor – pode ser um ponto de partida. Como tenho enfatizado, o bolso enche a geladeira, que supre a barriga e comove o coração, fazendo com que a cabeça do eleitor aprove candidatos que tenham contribuído para tal situação. A recíproca é verdadeira.

Na paisagem, a cor vermelha do sangue derramado nas ruas pelas torrentes de violência tem o condão de fazer ecoar um forte clamor pelo combate frontal à bandidagem. O Brasil, como se deduz pelas ondas de criminalidade que se espalham em todas as regiões, tornou-se gigantesca delegacia de polícia. Daí o volume crescente do discurso do fígado, sob a medrosa movimentação dos habitantes em ruas e praças, principalmente nas periferias desprovidas de vigilância e dominadas por gangues e milícias.

A expressão cheia de bílis ainda se alimenta de um composto político, aqui caracterizado pelo radicalismo que habita os extre­mos do arco ideológico, onde exércitos de Bolsonaro jogam sua artilharia pesada contra a militância petista, gerando recíproco tiroteio na arena das redes sociais. Sob essas duas fontes de conteúdo – a bandidagem e o lulopetismo – expandem-se os fluxos de emoção, provocando engajamento mais intenso em regiões menos desenvolvidas politicamente como o Nordeste (26,62% dos votos), o Norte (7,83%) e o Centro-Oeste (7,29%), cuja população eleitoral chega a mais de 61 milhões de eleitores. Trata-se de um eleitorado integrado ao território conservador, onde é forte o voto populista/cabresto, de teor emotivo.

Já o discurso da razão é mais intenso nos estratos médios da pirâmide social, particularmente nas regiões Sudeste (43,38% dos votos) e Sul (14,42%), com a observação de que os sulistas tendem a surfar na onda do voto de cunho nacionalista, enquan­to os votos de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, onde habitam as mais poderosas classes médias e as maiores organi­zações sociais, estão mais próximos ao abrigo da racionalidade. Nesse caso, a opção de votar fica para os momentos finais, após uma varredura na moldura dos candidatos e análise de suas qualidades.

São observações gerais, com a ressalva de que há votos emotivos e racionais por toda a parte. Mas, em face das características de cada área, é possível se chegar a um razoável painel regional de tendências. O fato é que o Brasil está rachado, sinalizando certa igualdade entre os números. De maneira aproximada, pode-se distinguir 30% de votos para cada margem extrema (direita e esquerda) e 40% repartidos entre o centro e seus dois lados (centro-esquerda e centro direita). Sob a teia dos 100%, estão no páreo Jair Bolsonaro, Fernando Haddad, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Marina Silva.

A temperatura dos próximos dias, com a acomodação das placas tectônicas dos programas eleitorais, contribuirá para o fecha­mento do processo decisório. De forma a direcionar o rumo a ser seguido pelos 147 milhões de eleitores.

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