Inaugurado em julho de 2016, por fundos de compensação ambiental de parceria público-privada, o Hospital Veterinário do Bosque Municipal Doutor Fábio de Sá Barreto, em Ribeirão Preto, atende 700 animais selvagens durante todo o ano, conta com 30 leitos para internação e estrutura para atendimento de um animal por vez. Desde que abriu as portas, já são mais de 1.400 atendimentos.
Animais selvagens das matas da região também são cuidados no hospital. “Recebemos inúmeros animais resgatados sem nenhum sinal aparente. Todos passam por exame clínico, por exames laboratoriais e de imagem, quando necessário. Após estarem em perfeito estado de saúde são encaminhados para áreas de soltura”, explica o médico veterinário e encarregado do zoológico, César Branco.
Mesmo aceitando animais selvagens, o Bosque Municipal realiza o programa “Uma nova chance” que permite a reintrodução dos animais tratados à natureza. De acordo com o diretor Alexandre Gouvea, se o animal participa do programa mas não tem condição de voltar ao seu habitat, ele fica no zoológico.
“O projeto consiste no resgate, reabilitação e reintrodução de animais silvestres. Os animais que não têm condições de retorno à natureza, quando possuem asas, membros amputados ou são animais com impossibilidade devido ao costume de convívio humano, ficam no Zoológico com o intuito de educação ambiental e conservação em forma de reprodução”, explica.
Anteriormente, os animais recebiam o primeiro atendimento no ambulatório do Bosque e depois eram encaminhados para faculdades credenciadas com a prefeitura. Para o veterinário César Branco, ter os equipamentos no próprio local é uma grande melhoria, devido à grande demanda de animais resgatados.
“Vários exames radiográficos vêm sendo feitos rotineiramente no Zoológico, principalmente, auxiliando no diagnóstico de fraturas devido à grande quantidade de animais atropelados que recebemos mensalmente” comenta o médico.
Para a aquisição dos equipamentos, a gestão do bosque encaminhou um projeto ao Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema). Alexandre Gouvea explica que o hospital tem “centenas de equipamentos”, dentre eles os que realizam exames especializados como raio-x, ultrassom, aparelho de anestesia inalatória, ultrassom odontológico, porém, ainda não há equipamentos para realizações de exames laboratoriais.
De acordo com o diretor do local, a criação do hospital representa grandes avanços para o bem estar dos animais silvestres. “O hospital atende animais de toda a região, sendo o principal centro de recebimento de animais silvestres vitimados dos municípios vizinhos”, comenta.
Conhecendo os animais
O médico veterinário do Bosque e Zoológico Municipal Doutor Fábio de Sá Barreto, César Branco, explica que os cuidados vão além dos exames clínicos e envolvem, também, o conhecimento de cada animal para o diagnóstico correto. Exemplo disso foi um jabuti levado ao hospital com determinado diagnóstico e que, no momento da cirurgia, teve descoberto seu verdadeiro problema.
“Recebemos um jabuti-ipiranga com o diagnóstico de prolapso de reto. Ele foi anestesiado para reversão do prolapso, mas na cirurgia foi encontrado um fitilho de polipropileno (material plástico) de aproximadamente 30cm no intestino do animal. Como os jabutis são animais curiosos, é necessário tomar muito cuidado para não ingerirem corpos estranhos, o que pode levá-los a óbito”, disse o médico.
Aprendendo no bosque
O hospital conta com equipe qualificada para atender rotineiramente os animais do bosque e receber animais selvagens. O diretor do bosque explica que há programas de estágio para estudantes no zoológico, porém, no hospital, é exclusiva a contratação de estudantes de medicina veterinária.
O Bosque e Zoológico Municipal Doutor Fábio de Sá Barreto recebe, por ano, cerca de 800 animais vítimas de maus-tratos provocados por acidentes como atropelamentos, queimaduras e choques elétricos, caça predatória, tráfico e diversos outros motivos. Ao serem entregues ao zoo, passam por triagem e são encaminhados, se forem filhotes, ao berçário, e quando acometidos por alguma lesão vão para o setor de medicina veterinária.
Cerca de 70% se recuperam e são levados aos centros de reabilitação de animais silvestres e áreas de soltura como a Associação Mata Ciliar, Instituto Espaço Silvestre e MP Fauna Ambiental para que sejam reintegrados em seu meio ambiente natural.
O Bosque e Zoológico Fábio Barreto, uma das poucas áreas verdes de Ribeirão Preto, no coração da cidade – rua Liberdade s/nº, nos Campos Elíseos – em um espaço de 250,88 mil metros quadrados, hospeda cerca de 630 animais de 110 espécies, entre aves, peixes, mamíferos e répteis. Essa população cresce a cada dia, tanto por causa do relevante trabalho dos dedicados funcionários do local.
Em 2016, o zoológico de Ribeirão Preto recebeu 969 animais feridos – 80 por mês, média diária que varia entre dois e três. O cenário já foi pior: em 2012, a média no Bosque Fábio Barreto era de quatro a cinco por dia, a maioria filhotes órfãos. Por ano, o número de bichos vítimas da ação do homem chegava a 1,5 mil.