A avenida Nove de Julho, considerada um dos cartões postais de Ribeirão Preto, tem atualmente 31 imóveis fechados, seja para locação, venda ou sem nenhuma destinação. Este número é resultado de levantamento feito pelo Tribuna na última quinta-feira, 30 de agosto, e representa 23,4% das unidades existentes nos cerca de dois quilômetros da via. O percentual foi feito com base nas 132 edificações cadastradas pela Secretaria Municipal da Fazenda para cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). O cadastro geral do tributo contabiliza o total de imóveis existentes na cidade.
O abandono da Nove de Julho, por parte dos empresários, é um fenômeno que tem se acentuado nos últimos anos. Segundo profissionais do segmento imobiliário, o principal fator para esta debandada está ligado à dificuldade de acessibilidade naquela região, notadamente no que diz respeito a vagas para o estacionamento de veículos. Esse obstáculo seria provocado, em grande parte, pela existência na avenida e nas imediações de dois grandes hospitais e dezenas de clínicas médicas e agências bancárias – são ao menos 30.
Empresário do setor imobiliário, Sérgio Valente confirma esta tendência. Proprietário de uma imobiliária com três filiais – uma delas na Nove de Julho –, ele tem em seu catálogo 22 imóveis para venda ou locação na via. “A dificuldade para estacionar na avenida é muito grande e poucos empresários estão dispostos a alugar um imóvel onde seus clientes terão dificuldade de acesso”, afirma. Ele, inclusive, vivencia este problema dentro da própria empresa. Funcionários da filial localizada na avenida enfrentam diariamente uma verdadeira maratona para encontrar vagas de estacionamento. “Muitas vezes param seus veículos há seis quarteirões de distância”, garante.
Outro fator listado por Sergio Valente que tem assustado os locatários é o valor do aluguel estipulado pelos proprietários e a necessidade de reformas em vários prédios. Um imóvel de tamanho médio – cerca de dez metros de fachada – custa cerca de R$ 5 mil por mês na Nove de Julho. Já os maiores chegam a custar R$ 60 mil.
“Com a crise econômica e muitos negócios sendo feito pela internet, parte das empresas estão optando por se instalarem em outros locais perto de avenidas como a Nove de Julho. Assim, mantém a presença física da empresa em regiões de grande visibilidade comercial, investem na intensificação dos negócios virtuais e gastam menos com o aluguel”, diagnostica o empresário.
Avenida no centro de polêmica
Depois que o vereador Rodrigo Simões (PDT) propôs ao Executivo, no mês de julho, a troca dos históricos paralelepípedos da Nove de Julho por um novo recapeamento asfáltico, a avenida virou alvo de polêmica. No documento, o parlamentar argumentou a necessidade de modernização da via que hoje enfrenta problemas em sua malha viária em função de muitos paralelepípedos terem se soltado ou estarem faltando no leito carroçável.
Também pediu que a prefeitura solicitasse a anulação do tombamento dos paralelepípedos na Justiça, o que possibilitaria a troca do pavimento. Por ser patrimônio cultural tombado, o piso não pode ser substituído. As reivindicações incluíam ainda a avaliação e poda de árvores condenadas e uma ação conjunta do Executivo, Legislativo e sociedade civil organizada, a fim de se fazer todo o saneamento básico, com novas tubulações para água e esgoto, e nova pavimentação.
Na época, o Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conppac ) se posicionou contra a retirada dos paralelepípedos e o Executivo afirmou que o assunto avenidas seria discutido em audiências públicas na revisão do Plano de Mobilidade Urbana, uma das leis complementares do Plano Diretor.
Cartão de visitas
A avenida Nove de Julho, considerada um cartão postal da cidade, foi planejada pelo prefeito João Rodrigues Guião em 1921. Os primeiros quarteirões da avenida foram entregues no dia 7 de setembro de 1922, com o nome de avenida da Independência. A avenida passou a se chamar Nove de Julho alguns anos depois e ganhou prestígio na cidade a partir do início da década de 1950. As residências construídas nas proximidades seguiram, em sua maioria, o estilo moderno.
Com o passar do tempo, foi perdendo suas características de área residencial. Ao longo dos últimos 20 anos ela se transformou no principal centro financeiro da cidade e região. É famosa pelas frondosas sibipirunas. Mesmo com a transformação que sofreu nos últimos 40 anos a avenida manteve suas características que lembram a década de 1950 – os paralelepípedos da rua e o calçamento dos canteiros centrais. Ao longo de seus pouco mais de dois quilômetros, reúne cerca de 30 bancos, entre comerciais e de investimentos, além de seguradoras, consórcios, bares, restaurantes, lanchonetes etc.