O Brasil, desde a invasão dos portugueses no século 15, foi planejado para ser o que somos. A divisão do território brasileiro em 12 Capitanias, que eram hereditárias, deixou claro que teríamos um País concentrado nas mãos de poucos, e esse sistema onde poucos são donos de quase tudo não mudou com o passar do tempo.
E esse regime centralizador e escravocrata se perpetuou e não permitiu a construção de uma nação. As revoltas populares pela independência de Portugal, por conta de uma elite de lambe-botas, sempre foram sufocadas com rigor, e muitas vezes com crueldade, e suas lutas e resistências ficaram de fora dos livros de história – apenas a Conjuração Mineira ganhou destaque porque a maioria fazia parte dos grupos que estavam alinhados ao poder, e por conta disso a pena capital caiu no mais pobre da turma.
O regime republicano, em que o bem comum está acima de interesses particulares, de classes, grupos, corporações ou famílias, no Brasil ganhou uma conotação diferente, pois nasceu de um golpe militar (e foi o primeiro de uma série de golpes que o Brasil vivenciou), e não teve a participação do povo como ocorreu em outros países, e sendo o Brasil um país agrário e com mais de oitenta por cento da população analfabeta, o primeiro ato democrático do novo regime foi proibir que analfabetos exercessem o direito ao sufrágio universal, e foi assim que a República de privilégios começou a ser construída.
E calçado nos privilégios, o nosso regime republicano foi criando corpo e se distanciando cada vez mais do seu ideário. Fala-se muito que a Previdência no Brasil está quebrada, mas não falam que um milhão de aposentados do setor público recebem mais do que os trinta milhões do setor privado – é privilégio que não acaba mais, mas estão protegidos pelo famoso direito adquirido, que só vale para esse um milhão, porque os outros têm os seus direitos aviltados o tempo todo.
Por ter sempre reproduzido os mesmos modus operandi chegamos ao século 21 como sendo o País com a pior distribuição de renda do mundo – criaram e solidificaram a desigualdade, e para mascarar a situação dão ênfase à figura da meritocracia, que garante pelo mérito um lugar ao sol na sociedade, mas seguindo a meritocracia o que a maioria consegue é no máximo um lugar no sol.
E o Brasil que planejaram vem se materializando através do tempo, pois conseguimos estar na rabeira de todas as avaliações internacionais nos principais quesitos humanos. Em educação, saúde e desenvolvimento humano estamos entre os piores, e as políticas públicas que podem tirar o País do atraso vão ficando para depois – não querem mexer nos privilégios, pois são imexíveis, mas para a população desvalida pregam o Estado mínimo, com tudo sendo privatizado, e cada um que se vire para sobreviver. Realmente para essa camarilha: “O Brasil deu certo!”