Tribuna Ribeirão
Política

Em SP, 90% dos deputados vão à eleição

Por Ana Neira, Matheus Lara e Paulo Beraldo; Colaboraram Ana Beatriz Assam e Fabio Leite

Quase 90% dos deputados estaduais de São Paulo vão concorrer à reeleição ou a uma vaga na Câmara nas eleições. Levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra que 77 parlamentares vão tentar continuar na Assembleia Legislativa de São Paulo, enquanto sete buscam um mandato de deputado federal e outros dez optaram por não participar do processo eleitoral. A quantidade de candidaturas à reeleição indica a possibilidade de que este seja o ano com o menor índice de renovação da história da Alesp, superando 2014, quando 62 deputados foram reeleitos – ou 69,1% da Casa.

O número de deputados estaduais reeleitos em São Paulo só aumenta desde 1990, quando 20 dos 84 parlamentares da Legislatura anterior foram reconduzidos à Casa. Em 1994, foram 24 reeleitos. Quatro anos mais tarde, quando a Alesp já tinha 94 deputados, o número de reeleitos quase dobrou – foram 44. Em 2002, 47 conseguiram permanecer na Casa; 49 em 2006 e, em 2010, o número de reeleitos chegou a 60.

“Vivemos um momento de não renovação”, afirma a cientista política Vera Chaia, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Na Assembleia, acontece uma acomodação do parlamentar, já que é mais fácil se reeleger do que se candidatar a outro cargo. É uma segurança para ele, que já tem um cargo eletivo, tem conhecimento da Casa, é reconhecido pelos eleitores”, diz.

Na avaliação do diretor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Murilo Gaspardo, o “governismo” é uma prática inerente à Assembleia.

“Quem já tem mandato está dentro desta rede, fazendo a intermediação entre prefeitos e governador. Acaba sendo um trunfo eleitoral. Assim, é mais fácil encaminhar-se para uma reeleição”, afirma.

Após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de impedir que empresas doem para as campanhas, o Congresso Nacional definiu novas regras de financiamento para candidatos. Uma das novidades é o teto de gastos de R$ 1 milhão para campanhas de candidatos a deputado estadual, o que deve enfraquecer novas candidaturas.

“Isso com certeza favorece quem já tem mandato, o que justifica a reeleição. Sem ser conhecido e com pouco dinheiro, fica difícil quebrar a barreira do anonimato”, afirma Marcelo Mingrone, professor do Complexo Educacional FMU. Para ele, um candidato nestas condições e filiado a um partido pequeno dificilmente conseguiria se eleger. “A renovação fica mais distante.”

Gaspardo, da Unesp, aponta que a falta de dinheiro para financiamento das campanhas favorece também as celebridades. No Rio de Janeiro, por exemplo, a cantora de funk MC Carol deve registrar sua candidatura a deputada estadual pelo PCdoB. Nas eleições de 2014, o mesmo partido elegeu a cantora Leci Brandão para um mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo, com 71 136 votos.

“Os famosos costumam contar com autofinanciamento. É bom para ele e para o partido. O fato de ser famoso, por si só, já impulsiona essa candidatura”, diz Gaspardo. Ele também cita candidatos vinculados a igrejas e sindicatos como outros beneficiados na corrida.

Militares

Na mesma lógica, a categoria dos militares também deve levar vantagem, afirma Vera Chaia, da PUC-SP. “Ao lado do religiosos, é o grupo que mais se beneficia porque possui a corporação por trás e são referendados por seus companheiros de farda”, afirma. Estima-se que mais de cem militares das Forças Armadas são pré-candidatos a disputar algum cargo nas eleições.

A deputada Beth Sahão (PT) vê dificuldades para conseguir uma reeleição neste ano por conta da restrição de recursos e do menor tempo de campanha. “Estarei mentindo se disser que será fácil. As mudanças favorecem quem tem dinheiro e causam desequilíbrio na disputa”, diz. A candidata acredita que os deputados estaduais devem ser os mais afetados dentro da estrutura partidária.

Na outra ponta, há uma minoria que preferiu afastar-se da Assembleia. O tucano Celino Cardoso abriu mão da candidatura após seis mandatos consecutivos – entrou na Alesp em 1995, junto com o PSDB no governo do Estado – para se dedicar à vida empresarial. “Foi uma decisão pensada com a família, de que chegou a hora de descansar e cuidar melhor das minhas empresas”, afirma Cardoso, que atua no ramo hoteleiro e da construção civil

Como é de costume entre caciques políticos, Cardoso tentará fazer um sucessor. Agora, será sua ex-chefe de gabinete, Sandra Santana, que tentará pelo PSDB uma cadeira na Alesp pela primeira vez. Em 2016, ele já ajudou a eleger a filha Aline Cardoso (PSDB) vereadora da capital paulista – hoje, ela é secretária de Trabalho da gestão Bruno Covas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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