Há duas semanas, a avenida Nove de Julho recebe reparos pontuais. Uma equipe da prefeitura de Ribeirão Preto está trabalhando na recolocação dos históricos paralelepípedos. “É uma intervenção para reparar as imperfeições do pavimento, como se fosse um ‘tapa-buracos’, só que neste tipo de piso em pedra”, informa Alexandre Betarello, secretário municipal de Infraestrutura.
Nesta terça-feira, 31 de julho, o trabalho estava concentrado no cruzamento da avenida com a rua Comandante Marcondes Salgado. “O trabalho consiste em retirar o piso e reassentá-lo em uma base de areia”. A prefeitura de Ribeirão Preto não dispõe de mão de obra especializada para o serviço, visto que os últimos calceteiros se aposentaram e faltam profissionais especializados na área.
“Quem faz o serviço aprendeu o ofício com os mais antigos e o reparo geralmente é artesanal, com grande demanda de tempo para ser executado”, esclarece Betarello. O trecho com paralelepípedos fica entre as avenidas Independência e Santa Luzia. A avenida Nove de Julho é tombada desde 2008 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Conppac) e por ser considerada patrimônio histórico da cidade não pode ter o projeto original alterado.
Na sexta-feira (27), a prefeitura de Ribeirão Preto informou que a anulação do tombamento da avenida Nove de Julho, que cruza vários bairros na região central da cidade, será discutida em audiências públicas durante os debates sobre a revisão do Plano de Mobilidade Urbana, uma das leis complementares do Plano Diretor. A polêmica foi levantada pelo vereador Rodrigo Simões (PDT). Ele defende a retirada dos paralelepípedos e o recapeamento da via.
Também propõe, por meio de indicação aprovada na Câmara e encaminhada ao prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB), que a administração ingresse com ação na Justiça para anular o tombamento do histórico pavimento da via. Segundo o vereador, a Nove de Julho enfrenta problemas em sua malha viária porque muitos paralelepípedos se soltaram e em outros trechos não existe mais calçamento.
A solução ideal seria fazer um novo recapeamento asfáltico no local. Entre as reivindicações feitas por ele está a avaliação e poda de árvores condenadas e uma ação conjunta do Executivo, Legislativo e sociedade civil organizada, com o objetivo de reestruturação da rede de saneamento básico, com novas tubulações para água e esgoto e nova pavimentação.
A prefeitura diz em nota que a Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão Pública tem promovido audiências para tratar da revisão do Plano de Mobilidade Urbana e levará os pontos propostos, como a questão do tombamento, para ser debatido nas reuniões.
“Todas as avenidas da cidade (as existentes e as novas) serão discutidas nas audiências públicas sob variados aspectos, como a necessidade de duplicação, ampliação e revitalização, além de paisagismo, calçadas, ciclovias, acessibilidade, iluminação e segurança. As audiências devem acontecer entre o final de agosto e o início de setembro”, diz o comunicado.
Com os buracos provocados pelo desnível ou falta de paralelepípedos em alguns trechos, a prefeitura esclarece que têm sido realizadas ações pontuais nos locais mais críticos, como a retirada do pavimento, a regularização da base com areia e a recolocação dos blocos. A lon go prazo, a Secretaria de Obras Públicas diz que a Nove de Julho faz parte do projeto dos corredores do Plano de Mobilidade Urbana e inclui, entre outras obras, implantação do sistema de drenagem e revitalização.
A Avenida Nove de Julho, considerada um cartão postal da cidade, foi planejada pelo prefeito João Rodrigues Guião em 1921. Os primeiros quarteirões da avenida foram entregues no dia 7 de setembro de 1922, com o nome de avenida da Independência. A avenida passou a se chamar Nove de Julho alguns anos depois e ganhou prestígio na cidade a partir do início da década de 1950. As residências construídas nas proximidades seguiram, em sua maioria, o estilo moderno.
Com o passar do tempo, foi perdendo suas características de área residencial. Ao longo dos últimos 20 anos ela se transformou no principal centro financeiro da cidade e região. É famosa pelas frondosas sibipirunas. Mesmo com a transformação que sofreu nos últimos 40 anos a avenida manteve suas características que lembram a década de 1950 – os paralelepípedos da rua e o calçamento dos canteiros centrais. Ao longo de seus pouco mais de dois quilômetros, reúne cerca de 30 bancos, entre comerciais e de investimentos, além de seguradoras, consórcios, bares, restaurantes e lanchonetes, entre outros.