O Instituto Saúde e Sustentabilidade estudou a presença de material MP10 (partículas inaláveis) e MP2,5 (partículas inaláveis finas) e ozônio (O3) durante a paralisação dos caminhoneiros para averiguar os efeitos da imobilidade veicular sobre a qualidade do ar em todo o país. Porém, o objetivo inicial de avaliar o impacto da greve em todas as unidades federativas brasileiras não pode ser cumprido, pois 71,4% dos Estados não apresentavam dados confiáveis de monitoramento.
Mas o instituto obteve dados referentes aos Estados de São Paulo (região metropolitana, litoral e interior). Assim, foi possível observar uma queda de até78% na concentração dos poluentes analisados. No interior paulista, os níveis de concentração de MP10 recrudesceram de 65,2% a 15,5%, sendo que as maiores quedas foram registradas em Araraquara (65,2%), Paulínia – bairro Santa Terezinha (60,4%), Jundiaí(58%), Campinas – bairro Taquaral (56,8%) e Ribeirão Preto – Centro (56,5%).
São Josédos Campos registrou a menor queda, 15,4%, seguida por Presidente Prudente (22,4%), Marília (24%) e Araçatuba (24,4%). Santa Gertrudes, a estação com maior nível de concentração do poluente, manteve-se acima do limite preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS, máxima de 97 microgramas por metro cúbico e mínima de 49 mcg/m³) em todos os dias, com exceção de 27 de maio, quando chegou ao nível de 49 mcg/ m³.
No caso da MP2,5, foi possível observar uma retração de 50% a 23,5% durante os dias da greve. As maiores quedas foram registradas em Ribeirão Preto – Centro e São Josédo Rio Preto (ambos 50% de queda), Campinas – Vila União (47,1%), Piracicaba (37,5%), São Josédos Campos (31,6,3%) e Taubaté(23,5%). A única estação que apresentou valores acima do limite preconizado pela OMS no período estudado foi Campinas – Vila União, nos primeiros dias, até dia 24. As demais estações se mantiveram abaixo dos limites da entidade –níveis que asseguram menor risco de impactos sobre a saúde da população. No dia 1º de junho, nenhuma estação havia ainda ultrapassado este limite.
Os níveis de concentração de O3 mostraram a queda de 62,6% a 28,2% para todas as estações do interior de São Paulo durante os dias da greve. As maiores quedas ocorreram em Paulínia (62,6%), Americana – Parque Nações (62,2 %), São Josédo Rio Preto (59,8%), Campinas – Taquaral (59,2%), Jundiaíe Araraquara (ambas com 59%). Das 23 estações analisadas, em onze (47,8%) delas as quedas situam-se acima de 50%.
De forma geral, 12 estações estavam com níveis do poluente acima dos limites preconizados pela OMS no dia 23 de maio e apenas três no dia 24. A partir do dia 25, nenhuma delas. As concentrações ainda não haviam ultrapassado os níveis mais seguros até o dia 1º de junho, último dia do levantamento de dados do estudo do Instituto Saúde e Sustentabilidade
Na Baixada Santista, foi possível comprovar quedas entre 48,1% e 40% para MP10. As maiores ocorreram em Cubatão – Vale de Mogi (48,1%) e Santos (47,1%). No caso do MP2,5, só foi possível obter informações de uma única estação – Santos – na qual a primeira redução foi de 50%. Para o O3, a queda ficou entre 43,7% a 25,4% para todas as estações durante os dias da greve.
Os maiores decréscimos ocorreram em Santos (43,7%) e Cubatão – Centro (32,9 %). Durante a greve, quatro estações registraram níveis do poluente abaixo dos limites preconizados pela OMS. Também foi possível notar clara tendência de aumento na concentração dos poluentes com o fim da greve.
Na região metropolitana de São Paulo, todos os poluentes em todas estações e locais tiveram sua concentração reduzida aos patamares preconizados pela Organização Mundial de Saúde durante a greve. A concentração de MP10 caiu de 72,8% a 43,5%. As estações que apresentaram maior queda foram Guarulhos – Pimentas (72,8%) e Marginal Tietê – Ponte dos Remédios (61,7%).
No caso da concentração de MP2,5 foi possível constatar uma retração de 70,6% a 47,5%, que foi mais acentuada em Guarulhos – Pimentas (70,6%) e Parque Dom Pedro I (59%). A queda nos níveis de concentração de O3 variaram de 59,6 % a 32,6%, sendo que os decréscimos mais acentuados ocorreram em Nossa Senhora do Ó (59,6%). As concentrações ultrapassaram esses níveis a partir do dia 30/5, quando se iniciou o enfraquecimento da greve.
Poluição causa 50 mil mortes por ano no Brasil
A intenção original do Instituto Saúde e Sustentabilidade, de mapear o impacto da greve em todo o país, foi frustrada porque quase três décadas depois do estabelecimento do Programa Nacional de Qualidade do Ar (Pronar) – por meio da resolução nº 05/1990 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) –, três em cada quatro estados brasileiros não realizam monitoramento, ou o fazem de forma obsoleta (poluentes desatualizados) ou ineficiente.
Em cinco estados os dados não se encontravam disponíveis nos seus órgãos ambientais estaduais: Distrito Federal, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. “É alarmante constatar que os governos estaduais descumprem uma norma que existe há quase 30 anos, ainda mais quando ela tem relação direta com a saúde dos cidadãos”, afirma a doutora Evangelina Vormittag, diretora do Instituto Saúde e Sustentabilidade, lembrando que a Organização Mundial de Saúde (PMS) já constatou que a poluição do ar éresponsável por mais de 50 mil mortes por ano apenas no Brasil e mais de nove milhões em todo o mundo.
No total do continente americano, ela éresponsável por 35% das mortes por doenças pulmonares, 15% das mortes por doenças cérebro vasculares, 44% das mortes por doenças do coração e 6% das mortes por câncer de pulmão. Segundo o Instituto Saúde e Sustentabilidade, a poluição atmosférica éresponsável por 17 mil mortes no Estado e 4.700 mortes ao ano na cidade de São Paulo, ultrapassando o número de mortes por homicídios, acidentes de trânsito, aids, câncer de mama e câncer de próstata. “Apesar disso, os Estados abriram mão de ter dados confiáveis para planejar ações e políticas de saúde pública, em um flagrante desrespeito ao cidadão e contribuinte brasileiro”, completa.