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‘Maria-fumaça’ deve gerar CPI

JF PIMENTA/ESPECIAL PARA O TRIBUNA

A Comissão Especial de Estudos (CEE) instalada pela Câmara de Ribeirão Preto para discutir a destinação das duas locomotivas popularmente co­nhecidas como “marias-fuma­ça” ainda existentes na cidade poderá ser transformada em Comissão Parlamentar de In­quérito (CPI), segundo o pre­sidente da CEE, Jorge Parada (PT), que nesta quinta-feira, 19 de julho, ouviu o vice-presidente do Convention & Visitors Bure­au, Márcio Santiago.

A CEE da Maria-Fumaça foi proposta por Parada após uma tentativa frustrada, no ano pas­sado, de retirada da locomotiva “Mogiana”, que seria restaura­da e colocada em operação em uma linha de turismo ferroviá­rio entre as cidades de Itu e Sal­to. A máquina está a céu aberto na Estação Ferroviária Mogia­na, na Vila Mariana, na Zona Norte. Já a outra locotomotiva, a “Amália”, está na praça Fran­cisco Schmidt, na Vila Tibério, Zona Oeste. Esta não corre o risco de ser transferida.

Em dezembro, o Departa­mento Nacional de Infraestru­tura de Transportes (Dnit) havia cedido a locomotiva “Mogiana” ao Consórcio Intermunicipal do Trem Metropolitano (Citrem) para implantação de um projeto trem turístico entre as cidades de Salto e Itu, mas uma liminar da 7ª Vara Federal de Ribeirão Pre­to, em ação impetrada movida pelo Instituto História do Trem e pelo procurador da República André Luiz Morais de Menezes, impediu a transferência.

Na oitiva desta quinta-feira, Márcio Santiago argumentou que a prefeitura de Ribeirão Preto não demonstrou interes­se em manter a locomotiva na cidade e nem em implantar um roteiro turístico elaborado pelo Convention a partir das linhas férreas existentes na cidade. O secretário municipal de Tu­rismo, Edmilson Domingues, nega. Ele diz que em momento algum a administração foi noti­ficada oficialmente sobre a verba de quase R$ 5 milhões que teria sido conquistada pelo deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP).

“Protocolamos os dois proje­tos no Dnit, tanto o do Conven­tion quanto o Instituto do Trem e informamos todos os passos ao procurador André Menezes. Também entregamos à CEE um relatório com todos os procedi­mentos. A comissão sabe que não há notificação oficial sobre a tal verba. Mas a Câmara é in­dependente. Da nossa parte, fi­zemos tudo com transparência”, diz o secretário.

“O secretário alega que não oficializamos a informação de que havia recurso disponibiliza­do pelo governo federal, mas isso não é verdade. Tenho a prova do protocolo que fizemos na prefei­tura. O recurso poderia benefi­ciar Ribeirão em um momento de crise como esse, mas infeliz­mente estamos perdendo”, diz Santiago. Segundo ele, a verba de R$ 5 milhões acabou sendo perdida porque não houve, por parte da prefeitura, apresentação da documentação necessária ao Ministério do Turismo (MTur) dentro do prazo, que venceu em 15 de dezembro de 2017.

O governo Duarte Noguei­ra Júnior (PSDB), por sua vez, afirmou, na época, que tal ver­ba não estava garantida e optou pela proposta do Instituto His­tória do Trem, que busca par­cerias com a iniciativa privada. Para comprovar o que chama de desinteresse, Santiago apre­sentou na audiência reportagens de veículos de comunicação da cidade. Nelas autoridades falam da possibilidade destes recursos serem liberados pelo Ministério do Turismo, inclusive o deputa­do Baleia Rossi.

“Vou conversar com os membros da CEE e, em função de várias questões contraditó­rias, discutir duas possibilida­des. Uma, a de transformar­mos a CEE em CPI. A outra é encerrar a comissão e enviar­mos o relatório final para a prefeitura e para o Ministério Público Federal (MPF)”, afirma Jorge Parada. Ele lamentou as informações e ressaltou ser de caráter grave o não andamento do projeto. “Acredito que já te­mos os dados necessários para o relatório final, e podemos analisar com os membros da comissão a viabilidade de uma CPI, por suposto relapso do executivo a um recurso dispo­nível, que tipificaria um crime administrativo”, conclui.

A comissão também é por Alessandro Maraca (MDB) e Jean Coraucci (PDT). O eme­debista lembrou da impor­tância de acelerar os trâmites porque o imbróglio pode pre­judicar a cidade. “Os recursos orçamentários são divididos, e se esse recurso não vier pra Ribeirão nós vamos perdê-lo para outra cidade, porque por lei não poderá contemplar ou­tra pasta”, diz, sendo apoiado por Jean Corauci. “Parece que o secretário não tem interesse em fazer nossa locomotiva vol­tar aos trilhos”, completou.

O Convention Bureau elabo­rou o projeto Trem Turístico e o Instituto História do Trem apre­sentou o Trilhos da Mogiana. Basicamente, as duas propostas preveem a criação de uma linha turística de aproximadamente oito quilômetros de extensão e a restauração das duas marias-fumaça, além da transformação da Estação Barracão, no Ipiran­ga, em Museu do Trem.

Em 21 de dezembro, os ve­readores Isaac Antunes (PR) e Fabiano Guimarães (PR) en­traram com requerimento soli­citando ao Conselho de Preser­vação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conppac) o tombamento da locomotiva “Mogiana”. A máquina está em Ribeirão Preto há mais de 40 anos. Foi adquirida pela Com­panhia Mogiana de Estradas de Ferro (CMEF) em 1893.

Edmilson Domingues tam­bém lembra que a prefeitura de Ribeirão Preto defende a im­plantação de outro projeto de trilhos, uma proposta de linha intermunicipal. “É um proje­to apresentado pelo Consórcio dos Municípios da Mogiana (CMM), envolvendo as cidades de Ribeirão Preto, Cravinhos, São Simão e Tambaú. Seria um passeio de trem de ida e volta”, diz. Já a Associação dos Morado­res da Vila Tibério e Adjacências (Amovita) protocolou pedido de tombamento da locomotiva “Amália”. É contra a utilização da máquina nos projetos turísticos e defende que ela continue na praça Francisco Schmidt, onde havia uma estação.

Comissão de Estudos da Câmara ouviu Márcio Santiago, do Convention Bureau, e já admite a possibilidade de pedir sua transformação em CPI (FOTO: ALFREDO RISK)

Convention Bureau quer máquina em comodato
Durante a audiência desta quinat-feira (19), Márcio Santiago anun­ciou que entrou com um pedido junto ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) para obter, em comodato, a locomotiva “Mogiana”. O departamento recebeu o equipamento em doação da extinta Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA). Também diz ter solicitado o tombamento dela ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

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