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Vendido pelo pai

A História de Luiz Gama é um hino de louvor à bonda­de natural do ser humano. Testemunho eloquente de quem atinge a observância do mandamento evangélico do “amai-vos uns aos outros” e de quem consegue responder com gesto generoso à vida que o maltratou.

Nasceu na Bahia, filho de uma africana livre, da nação nagô, chamada Luiza Mahin. Era belíssima, personalidade forte e temperamento agressivo. Em 1837, por haver partici­pado da Sabinada, uma revolução que o Império não tolerou, foi presa e enviada para o Rio.

A essa altura, Luiz Gama tinha sete anos e, como é óbvio, adorava a mãe. O pai era um português branco, de origem nobre. Comparecia de forma intermitente ao lar da mãe sol­teira e até chegava a agradar o filho bastardo.

Folgazão, doidivanas, vivia em casas de tavolagem e frequentava orgias. Herdou fortuna de uma tia em 1836 e, esbanjador, em 1840 estava sem vintém.

No domingo, 10 de novembro de 1840, vai buscar o filho na casa de uma senhora que se incumbira de cuidar dele enquanto a mãe permanecia encarcerada no Rio. Recomenda que esteja bem vestido, pois vai ser levado a passeio.

Todo engomado, gorrinho novo, Luiz Gama segura a mão do pai, com toda confiança, e vai contente rumo ao cais. Tomam um barco a remo e se dirigem até o navio “Saraiva”, ancorado na Baía de Todos os Santos.

A embarcação estava carregada de escravos que seriam levados ao Rio e São Paulo, para trabalhar nas lavouras de café. O menino se distrai, conversando com os tripulantes e vê quando o pai parte, sorrateiramente. Quando vê que ele embarca no mesmo barquinho que os trouxera, percebe então que havia sido vendido. Grita: “Papai, o senhor me vendeu!?”.

Em 1847, com 17 anos e ainda escravo, está em São Paulo e um estudante das Arcadas, Antonio Rodrigues de Araújo, que será juiz, o alfabetiza. Em 1848, Luiz Gama consegue provar que nasceu livre e deixa de ser escravo. Passa toda a sua vida a libertar os considerados “semoventes”, propriedade de seus senhores.

Consegue a liberdade para mais de 500 infelizes. Mere­ce habitar a consciência de brasileiros que, muitas vezes, se olvidam de que já vivemos dias melhores nesta Terra de Santa Cruz, hoje, paradoxalmente, a vivenciar o seu Calvário.

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