Por Adriana Del Ré
Em 2017, Edson Celulari voltou à TV em A Força do Querer. Era um papel relativamente pequeno, mas, para o ator, foi importante a autora Gloria Perez insistir para que ele aceitasse fazer o personagem Raul Sabóia Dantas. No ano anterior, Celulari tinha travado uma batalha contra o câncer, um Linfoma não Hodgkin. “Quando fiz o trabalho com a Gloria, foi logo depois da minha quimioterapia. Na verdade, eu nem tinha certeza se poderia estar na novela dela, e ela falou: Quero você de qualquer jeito. Foi muito estimulante voltar”, conta o ator, ao jornal O Estado de S. Paulo. Agora, ele fala com empolgação sobre seu protagonista na nova novela das 7, O Tempo Não Para, de Mario Teixeira, que deve estrear em 31 de julho – e tem a missão de conquistar mais simpatia do público do que a atual Deus Salve o Rei.
Já dedicado às gravações da nova trama – com locações, inclusive, na Freguesia do Ó -, Celulari interpreta Dom Sabino, patriarca da família Sabino Machado, da qual ainda fazem parte sua mulher, Dona Agustina (Rosi Campos), as filhas Marocas (Juliana Paiva), Nico (Raphaela Alvitos) e Kiki (Nathalia Rodrigues) e ainda o mascote, o cão fox terrier Pirata. O abastado clã vive em São Palo no século 19 em São Paulo. Dono de vários negócios, Dom Sabino – progressista, mas também imperialista – amplia seu campo de atuação com a compra de um estaleiro na Inglaterra. E decide levar sua família, além dos escravos e funcionários, para conhecê-lo.
Partem de navio, o Albatroz, rumo à Europa, mas um desvio na rota pela Patagônia – sugerido por Dom Sabino para fazer o caminho de Darwin – culmina em um acidente: a embarcação colide com um iceberg e família fica congelada, assim como os escravos Damásia (Aline Dias), Cairu (Cris Vianna), Cesária (Olivia Araujo), Menelau (David Junior) e Cecílio (Maicon Rodrigues), o guarda-livros Teófilo (Kiko Mascarenhas), a preceptora Miss Celine (Maria Eduarda de Carvalho) e o jovem Bento (Bruno Montaleone). Alguma semelhança com Titanic? “O Titanic foi uma tragédia de fato, no meu caso, é uma comédia. Até o momento do naufrágio vai ser divertido, tanto que vai culminar no nonsense do congelamento”, explica Teixeira.
Isso tudo se dará já no primeiro capítulo. E a graça da história começa a partir daí: o bloco de gelo onde todos ficaram congelados chega ao litoral paulista 132 anos depois do acidente e eis que eles despertam em pleno século 21. E o choque diante dos novos tempos desencadeará uma série de situação engraçadas, mas que também trazem críticas no subtexto. “Tudo aquilo que se avançou na tecnologia será surpreendente (para eles). Acho que o que vai ser colocado em questão é o comportamento, de alguma forma, isso surpreenderá a família Sabino”, comenta o ator. “Tem um momento que ele pergunta: ‘Como está a capital, o Rio de Janeiro?’. E respondem: ‘Não é mais o Rio, agora é Brasília’. Ele diz: ‘Eu tive uma escrava de nome Brasília, mas ela não gostava de trabalhar, era preguiçosa’. É uma cena de comédia, mas é um comparativo. A gente tem um ano muito conturbado, e chega uma novela com essa leveza e essa proposta de temas, de uma forma não farsesca, numa linguagem realista e para divertir e fazer pensar.”
A grande surpresa da família, reforça Teixeira, “é ver que o ser humano não mudou absolutamente nada”. “É sempre o mesmo, os vícios sociais continuam iguais, traçam paralelos o tempo todo com as mazelas do País, tem uma crítica de costumes que é muito forte. Vou tratar disso o tempo todo”, conta. “Vai ser uma novela engraçada, e não tem nada mais divertido do que rir dos costumes, do que fazer crítica através do humor, porque a risada lança luz sobre as coisas. Eles vão se surpreender, por exemplo, com o trânsito: ‘Como assim, essas carruagens levam uma só pessoa?’. Quando veem os engarrafamentos monstruosos na marginal Vai ter essa crítica o tempo todo, de forma divertida.”
Autor de novelas como Liberdade Liberdade, Mario Teixeira se inspirou em algumas leituras, como de O Dorminhoco, de H. G. Wells, para falar sobre essa ‘viagem no tempo’ sem máquina feita por seus personagens. Aliás, o ser humano tem uma antiga obsessão em querer controlar o tempo, não? Ele concorda. “A gente está sempre tentando vencer o tempo. Tudo o que a gente tenta, um escritor, um poeta, é sobreviver ao tempo. Isso é que as pessoas querem no fundo. Ninguém quer ficar doente, ninguém quer envelhecer, mas todo mundo quer viver para sempre. Envelhecer é uma arte.”
O Tempo Não Para marca ainda o retorno de Celulari ao exercício da comédia. E, aos 60 anos de idade e 40 de carreira, o ator diz que sua maneira de pensar, de ver o mundo, enfim, de viver, mudou após a lutar contra o câncer.
“Repensei muita coisa, refiz a lista de prioridades. Quando voltei em A Força do Querer, entrei no estúdio que eu tinha inaugurado com uma novela, Explode Coração, também da Gloria, vi aquelas pessoas, é meu ofício, é aquilo o que faço há tantos anos”, afirma ele. “Você começa a reavaliar toda sua vida, como você percorreu seus caminhos, é uma revisão geral. E isso é uma grande oportunidade, porque tive de ficar fazendo as sessões de quimioterapia e passando por esse ciclo, ao mesmo tempo, aguardando resultado. Você lida com a finitude, com a possibilidade da morte. Isso te amadurece, te faz melhor. Acho que saí melhor, acredito eu.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.