No Arquivo do Estado o primeiro anuário disponível é o de 1893, quando Ribeirão Preto recebeu 2.623 imigrantes – não são especificadas as nacionalidades. No ano seguinte a cidade recebe 777 imigrantes. Em 1895 ocorre a primeira grande leva – 5.461 imigrantes. Não há dados oficiais sobre o ano de 1896. Em 1897 Ribeirão Preto recebeu 3.763 imigrantes (contra 9.174 na capital, 4.742 em São Carlos do Pinhal e 3.880 em Campinas). Em 1898, chegaram a Ribeirão Preto 1.775 imigrantes. No ano seguinte, 1899, foram 1.062 imigrantes. Na virada do século (1900) chegaram 1.313 imigrantes.
Em 1901 Ribeirão Preto já é a cidade paulista que mais recebia imigrantes – 6.297 dos quais 5.341 eram italianos. Naquele ano, chegaram ao Estado 49.599 imigrantes – 40.943 eram italianos –, com passagens pagas pelo Estado. Outros 2.600 italianos entraram no Brasil de forma espontânea. Em 1902 Ribeirão recebeu 3.066 (incluindo 2.212 italianos, 126 espanhóis, 226 portugueses), bem mais que a capital São Paulo (1.880). Em 1903 desembarcaram na cidade 698 imigrantes – 566 italianos (número reduzido por causa do decreto que cancelava o acordo entre Brasil e Itália). Em 1904 a cidade recebeu 1.721 imigrantes.
Em 1905, desembarcaram aqui 3.817 imigrantes – e pela primeira vez os espanhóis foram a maioria (2.140, contra 822 italianos). No ano seguinte, 1906, novamente a Espanha era a origem da maioria dos 3.172 imigrantes. Em 1907 Ribeirão Preto recebeu 1.701 imigrantes e os italianos voltaram a ser maioria. Em 1908, a cidade voltou a ser o principal destino paulista dos imigrantes, recebendo 2.847, com a maioria de espanhóis (1.229) e pela primeira vez, japoneses (405).
Em 1909 os espanhóis retomaram a dianteira do “ranking”, sendo maioria (1.187) entre os 2.357 imigrantes – Ribeirão Preto foi a cidade do interior mais procurada, com Bauru em segundo lugar (2.271). Em 1910 Ribeirão Preto voltou a ser a mais procurada, com a chegada de 2.275 imigrantes (maioria de espanhóis). Em 1911 vieram 1.712 imigrantes. No ano seguinte, nova grande leva – desembarcaram na cidade 4.120 imigrantes, novamente com maioria de espanhóis, a exemplo do que ocorreu em 1913 (4.555 imigrantes).
Em 1914, Ribeirão Preto recebeu 3.553 imigrantes, com os italianos voltando a ser maioria. Com as fazendas de café repletas de colonos e a cidade bastante transformada, a imigração caiu nos anos seguintes – foram 846 em 1915, mais 648 no ano seguinte, 1.029 em 1917, outros 1.411 em 1918, mais 651 no ano seguinte, 1.554 em 1920 e 971 em 1921. O declínio foi confirmado posteriormente, a partir de 1922, com 919, depois 1.315 em 1923, mais 1.311 em 1924, outros 1.084 em 1925 e 615 em 1926.
Esses milhares de imigrantes fazem parte da história de Ribeirão Preto. A grande maioria aqui fincou raízes, muitos enriqueceram na pátria adotiva e seus frutos podem ser encontrados hoje em toda a cidade – basta abrir a lista telefônica para constatar a descendência daqueles que ajudaram a escrever a história da “Capital d’Oeste”.
A cidade e os forasteiros
A Ribeirão Preto do início do século passado era uma cidade que havia crescido muito num curto período de tempo. A inauguração da estrada de ferro, em 1892, fizera da pequena cidade um destino fácil de ser alcançado. Bastava desembarcar no porto de Santos, pegar o trem para São Paulo e fazer baldeação para Ribeirão Preto. Essa facilidade, aliada à fama que o nosso café havia alcançado em nível internacional, provoca um salto populacional sem precedentes.
O último dado estatístico oficial sobre o número de habitantes antes da introdução da nova variedade de café (Bourbon), em 1876, registra 5.552 habitantes (4.695 livres e 857 escravos). Em 1886 a população já havia dobrado, para 10.420 pessoas. Em 1890 são 12.033 habitantes.
Começa, então, o grande fluxo de imigrantes – o anuário do Arquivo do Estado de São Paulo mostra que apenas num ano (1895) se radicaram nas fazendas da zona rural 5.461 imigrantes de várias nacionalidades (italianos, na maioria). Em 1901 Ribeirão Preto foi a cidade paulista que mais recebeu imigrantes – 6.297 novos habitantes.
Simultaneamente, outra corrente migratória fez com que milhares de pessoas desembarcassem na agora batizada “Capital D’Oeste” – profissionais liberais (médicos, advogados, dentistas),
negociantes em geral, “capitalistas” e toda sorte de aventureiros que acompanharam o movimento dos cafeicultores fluminenses em direção às “terras roxas” do nordeste paulista.
Enquanto a população de Ribeirão Preto explodia, a de várias cidades fluminenses do Vale do Paraíba encolhia – a da cidade de Resende caiu de 28.964 em 1876 para 25.210 em 1890.
O resultado é que a maioria esmagadora da população, no início do século XX, era composta por forasteiros. São poucas as estatísticas populacionais daquele período, mas historiadores estimam que em meados da década de 1900, Ribeirão Preto tinha cerca de 60 mil moradores, mais da metade estrangeiros, e entre os brasileiros os habitantes vindos do Estado do Rio de Janeiro eram franca maioria. (Nicola Tornatore)