Por Pedro Rocha
De Anita Malfatti a Lygia Clark, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, o Masp, ganha para o seu acervo 66 novas obras de artistas nacionais, produzidas num período de mais de 100 anos. As pinturas e esculturas fazem parte da coleção da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, e vão para o acervo do museu num acordo de comodato pelos próximos 30 anos. Para inaugurar a participação das obras em seu acervo, o Masp realiza a partir desta quinta-feira, 14, uma exposição com a seleção de 25 delas.
A lista do comodato inclui nomes como Candido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti e Alberto da Veiga Guignard. São pinturas e esculturas que retratam imagens da indústria, negócios e agropecuária brasileiros, em mais de 100 anos de história. Muitas das obras estavam em escritórios e salas dos prédios da B3, empresa criada no ano passado com a junção da BM&FBOVESPA com a Cetip, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Algumas delas nunca foram expostas ao público. “Selecionamos obras representativas e que fizessem sentido para a nossa coleção”, afirma o diretor-presidente do Masp, Heitor Martins.
Com o acordo, o Masp fica com total responsabilidade e poder de decisão sobre as obras durante o período de empréstimo. “A partir de agora as obras farão parte do nosso acervo”, diz Martins. “Algumas serão expostas nos cavaletes de vidro, participarão de exposições e estão passíveis a empréstimos.” Para o presidente da B3, Gilson Finkelsztain, isto é totalmente positivo. “Se eles acharem válido, as obras podem chegar a qualquer lugar do mundo e isso nos deixa muito entusiasmados.”
Segundo Martins, as primeiras conversas com a empresa começaram há cerca de quatro anos. Após a criação da B3, as negociações foram aceleradas e o Masp realizou visitas aos prédios da instituição para selecionar as obras que fariam parte do comodato. A curadoria do projeto ficou a cargo de Adriano Pedrosa e Olivia Ardui. “Não fizemos uma curadoria temática. A seleção envolve a importância das obras e a ausência de artistas na pinacoteca do museu”, explica Ardui.
Ione Saldanha e Lygia Clark, por exemplo, entram pela primeira vez no acervo do Masp com o comodato. Outros artistas têm também suas obras ampliadas na coleção. Guignard, por exemplo, passou de três para seis pinturas. Benedito Calixto foi de 10 para 19. Di Cavalcanti possuía apenas uma pintura no acervo, agora passa a ter três novas telas, duas a óleo e um guache. “Mais que quantidade, a qualidade é muito importante. As novas obras complementam muito bem nossa coleção. Os novos Di Cavalcanti dão profundidade e diversidade ao artista”, analisa Martins.
O pintor modernista, aliás, além de integrar seleção de 25 obras que estarão na exposição do comodato, teve um quadro, Mulata/Mujer (1952), selecionado para a maior mostra temática do Masp esse ano, Histórias Afro-Atlânticas, que abre ao público em 28 de junho. O ano inteiro do Masp, aliás, seria dedicado apenas a exposições relacionadas ao tema. Mas, por conta do comodato, uma exceção foi aberta para a mostra das obras da B3, que acontecerá no mezanino, no topo das escadas do subsolo do museu. “É um hiato na nossa programação, não faz parte do programa, mas tem esse intuito de apresentar esse conjunto”, explica Olivia Ardui.
Conservação.
Uma preocupação do Masp ao selecionar as obras do comodato foi o estado de conservação. “Algumas peças estavam um pouco comprometidas e precisam de restauro”, diz Guilherme Giufrida, assistente curatorial do museu. “São obras importantes e que decidimos trazer, apesar do estado em que estavam. O comodato pode dar condições mais adequadas de conservação.” É por isso, inclusive, que muitas das obras ainda não podem ser exibidas.
As 66 obras serão catalogadas num livro, idealizado pelos curadores, que deve ser lançado no final do ano. O catálogo deverá incluir textos e pesquisas bibliográficas, detalhes de cada obra e ainda ensaios inéditos de autores convidados.