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Os desafios de estudar inteligência emocional (1)

Inteligência emocional (IE) tem sido investigada ao longo dos últimos anos como uma maneira de explicar e operacionalizar as diferenças individuais relacionadas às emoções, e examinar seu impacto na vida individual das pessoas. Assim considerando, diferenças individuais em termos de habilidades de percepção, entendimento, regulação e o uso das próprias emoções, bem como, as emoções dos outros, constituem o núcleo central da IE.

Há três níveis de IE: (1) o nível de conhecimento sobre as emoções e as habilidades emocionais; (2) o nível de habilidade para aplicar conhecimento nas situações emocionais, avaliado por testes; e (3) o nível do traço, que é a tendência para usar suas habilidades e suas competências emocionais na vida diária, avaliado por questionários de auto-registro. Outros teóricos têm definido a IE como uma constelação de disposições e auto-percepções relacionadas às emoções, avaliadas, usualmen­te, pelos auto-registros visando capturar um desempenho típico.

A pesquisa e a teoria sobre inteligência emocional se enquadram em três amplas categorias: concepções sobre habilidade, concepções sobre traços e abordagens mistas. A conceituação da inteligência emocional como habilidade define o constructo como a habilidade para reconhecer o significado das emoções, e suas relações, bem como, para raciocinar, e solucionar, problemas baseando-se nelas. Caso em que, inteligência emocional está envolvida na capacidade para perce­ber emoções, assimilar achados relacionados a emoções e entender a informação dessas emoções, manipulando-as. Em outras palavras, inteligência emocional é uma habilidade cognitiva especial, emergindo, dessa concepção, quatro componentes que integram a matriz da mesma: regular as emoções reflexivamente, entender as emoções, assimilar emoções no pensamento e perceber e expressar emoções. Interessante é que, estes quatro conjuntos de habilidades são considerados es­tarem num continuum, indo de um nível inferior (perceber e expressar as emoções) a um nível mais elevado (reflexivamente regular as emoções). A importância disso? A partir desse modelo, verificar que, inteligência emocional compõe habilidades que podem ser mensuradas e ensinadas.

Entendendo a inteligência emocional como um conjunto de traços, a mesma deve ser focada dentro de uma matriz que inclua características de personalidade que lidam, especialmente, com o afeto. Neste caso, inteligência emocional se refere aos comportamentos típicos e a maneira de se vivenciar o mundo, ao invés de, apenas, ser entendida como uma habilidade genuína. Assim considerando, na matriz de in­teligência emocional, incluir-se-ão fatores de emocionalidade de alta ordem, autocontrole, sociabilidade, bem-estar e empatia, entre outros. Entretanto, há quem entenda que inteligência emocional seja, apenas, mais um traço de personalidade. Neste caso, bastaria determinar os grandes traços de personalidade, mensurá-los e verificar o impacto preditivo dos mesmos nos diferentes indicadores socioeconômicos e educacionais. O modelo misto, por sua vez, engloba características tanto de habilidades quanto de traços. Ainda em relação à matriz, há teorias que destacam cinco fatores de ordem elevada: intrapessoal, interpessoal, manejo do estresse, adaptabilidade e humor geral.

Para que um construto possa ser rotulado como inteligência, ele deve atingir três critérios: con­ceitual, correlacional e evolutivo. Conceitual, entende que a inteligência deve representar um de­sempenho mental mais do que um construto não intelectual, tais como, autoconceito ou modos de comportamentos preferidos. Correlacional, entende que a inteligência deve ser distinta empi­ricamente de outra, previamente concebida. Em outras palavras, entende inteligência emocional como algo estatisticamente diferente tanto de inteligência cognitiva quanto de outra que venha a ser concebida. Evolutiva, entende que a inteligência deve mudar quando a pessoa envelhece e ga­nha experiência em áreas relevantes.

Inteligência emocional mereça galgar uma posição na pirâmide estrutural das inteligências. Primeiro, necessitamos ter uma definição operacional de inteligência emocional, que nos informe dos muitos componentes da inteligência, relevantes ao funcionamento emocional e ao sucesso inter e intrapessoal. Segundo, considerando inteligência emocional uma habilidade, é necessário determinar quantas habilidades específicas são necessárias para capturar suas múltiplas facetas. Terceiro, e muito fundamental, torna-se necessário desenvolver ferramentas que meçam essas di­ferentes facetas da habilidade que denominamos inteligência emocional.
As medidas de inteligência emocional devem, então, nos dizer alguma coisa nova sobre as ha­bilidades cognitivas. Coisas, estas, que ainda não distinguimos nos estudos das habilidades inte­lectuais. Fato este que nos reclama jamais inventar uma roda que esteja, apenas, lustrada de novo, e não sendo, realmente, algo novo.

Importante é que desenvolver intervenções visando as competências e as habilidades emocio­nais de acordo com o perfil emocional e as circunstâncias dos indivíduos poderão, certamente, serem benéficas para melhorarem a saúde e os ajustamentos na saúde, no trabalhos, nas escolas,. Na verdade, na vida.

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