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Líder marca protesto com 50 mil caminhoneiros, mas apenas 4 comparecem

Por Fernando Nakagawa

Caminhoneiros têm chamado colegas para um novo protesto a poucos quilômetros do Palácio do Planalto. Wallace Landim, conhecido como “Chorão”, é o líder e promete parar o Brasil caso o governo não o receba para debater uma pauta ampla e genérica: menos impostos e combustíveis mais baratos. “Como o governo vai fazer isso? Não sei”. Nas redes sociais, mensagens sugerem que já há dezenas de caminhões à espera do ato marcado para o domingo. Não é bem assim. Na sexta-feira, 1º, só quatro veículos estavam lá e a pauta era ainda mais, digamos, dispersa. “Queremos uma solução. Não precisa ser intervenção militar, pode ser dos americanos”, defendia Duda Lemos, um dos primeiros a chegar.

A ressaca gerada pela paralisação dos caminhoneiros nem acabou e uma parte dos motoristas tenta retomar a paralisação. “Desengate seu cavalinho e vamos para Brasília!”, conclama Chorão em um vídeo que circulou freneticamente pelas redes sociais nas últimas horas. A ideia é reunir caminhoneiros em frente ao estádio Mané Garrincha no domingo. No dia seguinte, o movimento quer escolher um representante de cada Estado para, então, conversar com o presidente Michel Temer.

A ideia, dizem os caminhoneiros, é pressionar Temer a acatar a pauta escrita à mão em uma folha de papel sulfite que “Chorão” exibe em um dos vídeos onde o caminhoneiro detalha novos preços para a gasolina, gás de cozinha e diesel.

O convite para o protesto tem sido acompanhado de imagens que sugerem que já haveria grande mobilização em frente ao estádio. A visita ao estacionamento do Mané Garrincha na tarde desta sexta-feira, porém, era uma verdadeira decepção. Apenas quatro caminhões estavam estacionados, sendo que um deles costuma fazer ponto por ali para oferecer serviços de carreto. Em tempos de fake news, a visita permite ainda constatar que as imagens que correm na internet definitivamente não foram tiradas em frente ao estádio candango.

A Polícia Rodoviária Federal diz que não foi identificado movimento atípico de caminhões rumo a Brasília. No Palácio do Planalto, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que órgãos de inteligência estão monitorando o tema. A reportagem não conseguiu localizar “Chorão”.

Um dos quatro caminhões era de Efraim de Freitas que não tinha muita certeza se continuaria ali até domingo. “Estou levando achocolatado de Belo Horizonte para Belém e parei. É bem no meio caminho, né? Mas estou preocupado porque a carga está muito atrasada”, disse, ao defender o protesto para “derrubar o governo”. “Juntando todo mundo, a gente tira esse governo. Não sei se por impeachment ou de outro jeito, mas ele cai”.

Quem também estava por lá era Duda Lemos que afirma ser caminhoneiro, mas estava com um Palio branco no protesto. “O caminhão está parado em um posto de combustível”. Defensor da intervenção “que pode ser dos americanos”, Lemos reconhece que o uso das forças federais de segurança foi o responsável pelo fim dos bloqueios na semana passada. “Enfraqueceu muito, mas o protesto de domingo vai ser o primeiro de muitos. Pode escrever aí”, disse o caminhoneiro que também faz bico de DJ nos arredores de Brasília.

Toda essa mobilização tem sido liderada por um nome que pode ser considerado dissidente da dissidência. “Chorão” era um coordenador informal de um dos bloqueios em Catalão (GO). Quando protestos ganharam os telejornais, foi até Brasília e se aproximou das entidades de caminhoneiros reconhecidas pelo governo. Foi assim que participou da primeira reunião do setor com o governo na Casa Civil. Mas, sem representar uma entidade, foi excluído dos encontros seguintes e disparou contra os que negociavam: “são uns vendidos”.

Se uniu, então, a outros insatisfeitos, inclusive nomes que não são das estradas. Assim, políticos e advogados passaram a acompanhar Chorão nos vídeos que pululam no WhatsApp. O acordo final no domingo passado gerou um novo racha e, após acusações mútuas, o caminhoneiro passou a caminhar sozinho. Agora, diz que 50 mil caminhões o acompanharão até Brasília. Por enquanto, só os quatro chegaram. Faltam, portanto, outros 49.996.

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