Há 30 anos, em maio de 1988, no último ano da administração João Gilberto Sampaio, foi publicada a lei estadual nº 6.131, declarando de proteção ambiental a área do chamado “Morro do São Bento”, no Jardim Mosteiro. Transcorridas três décadas, nenhum dos prefeitos que passaram pelo Palácio Rio Branco adotou as providências necessárias para adequar o local às exigências que a legislação faz para uma Área de Proteção Ambiental (APA).
Por causa da falta de adequações, a Secretaria Municipal da Cultura segue impedida de agendar eventos para a área, pressionada pelo Grupo de Atuação Especial em Defesa do Meio Ambiente (Gaema), que exige a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para definir ações e prazos para a implantação das medidas. Sem recurso em caixa, a pasta posterga a assinatura do acordo com receio de se ver impedida de agendar eventos como a Virada Cultual Paulista (VCP) no Teatro de Arena Jaime Zeiger ou o Festival Tanabata, no entorno da praça Alto do São Bento.
A história do Morro do São Bento tem mais de um século. Foi em agosto de 1907 que o então prefeito interino Renato Jardim adquiriu a Chácara Olympia, com 360.413 metros quadrados. O local começou a ganhar as características atuais entre as décadas de 1930 e 1940, quando o prefeito Fábio de Sá Barreto empenhou-se em dotar a chácara de condições e estrutura necessárias para tornar aquele local uma área destinada a preservação da flora e fauna nacional.
Em 1937 implantou o Bosque Municipal e iniciou uma campanha para reunir doações de plantas e animais, inaugurando na sequência o Parque Botânico, o Jardim Zoológico, o Orquidário, o Museu Zoológico e o Museu Mineralógico. Em 22 de novembro de 1948, através da lei nº 61, o Bosque Municipal passou a denominar-se Bosque Municipal “Doutor Fábio Barreto”. No mês seguinte o homenageado faleceu.
Em 20 de julho de 1948 foi inaugurado o Mosteiro São Bento. A praça em torno no monumento foi inaugurada em 1953. Pela lei nº 672, de março de 1951, o caminho que dá acesso do bosque ao Complexo das Sete Capelas passou a denominar-se Via São Bento. A partir de então o Morro do Cipó passou a ser chamado de São Bento.
Em 1964 foi realizada cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Teatro Popular (Teatro Municipal), no Morro do São Bento. No dia 19 de junho de 1969 o espaço foi inaugurado, mesmo ano da inauguração do Teatro de Arena. Já a Casa da Cultura “Juscelino Kubitschek” foi inaugurada em 26 de janeiro de 1977. O conjunto compreendido pelos prédios dos teatros e da Casa da Cultura, bem como as praças e obras de arte existentes no alto do Morro São Bento foram denominados Complexo Cultural Antônio Palocci em 1987, através da lei nº 520, de 4 de dezembro.
Em 1995, os 250.880 metros quadrados que restaram da área original da Chácara Olympia (360.413 m²), hoje ocupada pelo Bosque Fábio Barreto (zoológico, áreas verdes, Jardim Japonês, etc.), complexo esportivo (Conjunto Poliesportivo Elba de Pádua Lima e Ginásio Gavino Virdes, a Cava do Bosque) e o complexo cultural Antônio Palocci (Casa da Cultura, Teatro de Arena e Municipal) foram transformados no Parque Municipal do Morro do São Bento.
Agora, em 2018, o Ministério Público Estadual (MPE) pede que seja cumprida a legislação sobre áreas de preservação ambiental, dotando o Morro do São Bento de uma série de medidas visando a proteção dos animais que vivem nos recintos do zoológico. O Gaema possui inclusive laudos elaborados por especialistas da Universidade de São Paulo (USP) sustentando que animais do zoológico apresentam comportamento que indica um estado de estresse, possivelmente provocado pela poluição sonora advinda dos eventos culturais que eram promovidos no local.
Barulho já provocou estresse nos animais
Existiu no passado um restaurante com música ao vivo dentro do zoológico, compartilhando a área do bosque com centenas de animais. Inaugurado nos anos 50, o JR ganhou o noticiário entre os anos de 1980 e 1990, quando defensores dos direitos dos animais iniciaram uma mobilização para fechar o estabelecimento.
Nessa época, o “restaurante do Bosque” contava com música ao vivo nos finais de semana e relatos da imprensa da época registram que animais foram flagrados batendo com a cabeça na parede por causa do estresse provocado pela poluição sonora.
Depois de muita pressão, a administração rompeu o contrato de arrendamento e o restaurante fechou, não sem antes deixar algumas sequelas para trás, como os estragos no tronco de uma peroba-rosa com idade estimada em 300 anos.
Por causa da preguiça de carregar os sacos de lixo por cerca de 50 metros até o portão da rua Liberdade, os funcionários do restaurante passaram a queimar o lixo junto ao tronco da peroba. Com o passar do tempo, os efeitos do fogo se fizeram sentir e a árvore com 35 metros de altura quase foi condenada – até hoje é sustentada por cabos de aço.