Quinta-feira passada, dia 19 de abril de 2018, estava meio que de bobeira em casa quando meu telefone tocou. Era um convite para uma roda de prosa sobre músicas de Roberto Carlos, até porque era aniversário do Rei. O papo seria na nova TV Thathi, hoje de casa nova, bem ali onde ficavam os Estúdios Kaiser – para os mais antigos, antiga da Cervejaria Paulista, que fabricava a cerveja preta Niger.
A cereja do bolo seria justamente Roberto Carlos Segundo, filho do aniversariante. Ele estava aqui em Ribeirão Preto enquanto seu pai fazia show em Belém do Pará. O empresário Chaim Zaher, que comanda o programa, é seu compadre, batizou Laura, neta do Rei da Jovem Guarda. Hora marcada, lá estava eu de sapatos brancos, camisa estampada e meu chapéu “panamá”. Amigos queridos do mundo musical da cidade formavam comigo o público que faria perguntas a Segundinho. Foi show de bola, o filho do homem é uma simpatia, dono de um humor de se admirar.
Chaim entrou no estúdio junto com seu convidado que, de óculos escuros, cuidadosamente apoiava-se em seu ombro. Depois nos confessou ter perdido a visão definitivamente aos 23 anos. As perguntas começaram a pipocar, eu mesmo, conhecedor de muitas histórias sobre Roberto Carlos, queria ouvir do filho se realmente procedia. Seu compadre Chaim lhe fez as que eu não teria muito jeito de fazer, como: “Segundinho”, disse Chaim, “diga para nosso público qual a música que seu pai compôs pra você quando descobriu que você não voltaria a enxergar mais?”
Ele se emocionou um pouco e disse: “As flores do jardim da nossa casa”. Depois explicou que eles estavam fazendo exames com médicos lá na Holanda e receberam deles a terrível notícia. Seu pai, muito triste, observava, pela janela, as flores que enfeitavam o entorno de onde eles estavam e pensou: “Meu filho nunca mais vai poder ver vocês”.
Perguntaram a ele sobre o Festival de San Remo de 1968, que Roberto Carlos venceu interpretando “Cansone per te”, uma composição de Sergio Endrigo e Bardotti. Segundinho, rindo, disse que seu pai cantou no festival e foi pra Nova York, naquele tempo a comunicação era muito difícil e os organizadores quando conseguiram contato disseram-lhe: “Volte urgente para San Remo, você venceu o festival”. Disse ainda que foi uma loucura sua chegada no Brasil, o aeroporto foi invadido por fãs e que ele jamais poderia imaginar que este festival lhe daria tanta projeção.
Meu amigo, o radialista e produtor musical Carlos Calixto, um dos maiores conhecedores da obra de Roberto Carlos, além de puxar o coro – todos nós cantamos a capela esta música –, lembrou que dos cantores que participaram deste festival, Roberto era o menos conhecido, pois lá estavam Pepino di Cappri, Bob Solo, Gigliola Cinquetti, Charles Aznavour, Ray Charles e até Louis Armstrong.
Perguntaram a Segundinho quantos irmãos ele tem, que rindo muito respondeu: “Que eu tenha conhecimento, somos quatro”. E rindo mais ainda disse: “Pode ser que tenha mais por aí”. Contou que o pai conheceu sua mãe Nice numa creche onde foi fazer um trabalho social. Ela era separada e tinha uma filha que já partiu – tem mais uma irmã. Daniel, o quarto irmão, foi um filho reconhecido pelo seu pai, eu até me lembro do acontecido. Roberto disse: “Se tiver mais algum por aí eu assumo, sem problemas, pois na juventude a gente faz muitas travessuras”.
Daniel tentou ser cantor, mas Segundinho disse reconhecer que não é mole dividir um palco com seu pai. O filho do Rei contou que fora com sua esposa assistir ao show do paizão em Belo Horizonte (MG) e, na volta, no jatinho, deram a Roberto Carlos a notícia de que seria avô de uma menina. Emocionado, perguntou se já haviam escolhido o nome, e ao saber que seria Laura, caiu num choro por 15 minutos. Seu choro contagiou a todos, até os pilotos. Laura é o nome de sua mãe.
Sexta conto mais.