A chefe da Coordenadoriaa do Bem-Estar Animal (Cbea) de Ribeirão Preto, Carolina Vilela, depôs na tarde desta terça-feira, 17 de abril, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a legalidade das eutanásias realizadas no departamento ligado à Secretaria Municipal e Meio Ambiente. Ela respondeu a todos os questionamentos feitos pelo presidente da CPI, Marcos Papa (Rede Sustentabilidade), e voltou a defender o protocolo para a realização dos sacrifícios. Paulo Modas (PROS), integrante da comissão acompanhou o depoimento.
Ao responder em quais casos a Cbea realiza eutanásias, Carolina Vilela citou situações como a de um animal em intenso sofrimento e que não responde ao tratamento. Ela também citou casos em que o bicho já chega agonizante e outros que sofreram fratura na coluna. Apesar de o setor não possuir aparelho de raio-X desde outubro e não ter convênio com clínicas particulares, a coordenadora disse que nos casos de fraturas simples o veterinário providencia uma tala e ministra medicação. Segundo ela, esses procedimentos respeitam a “Lei Feliciano” (nº 12.916, de 2008).
Marcos Papa também questionou a coordenadora sobre como é realizado o recolhimento de cães e gatos sem donos – os chamados animais errantes, que perambulam soltos pela cidade. Destacando que a Cbea não recebe bichos sadios, Carolina Vilela explicou que são acolhidos, em tese, apenas caninos e felinos doentes ou feridos (atropelados ou vítimas de maus tratos) e que estejam em vias públicas.
Se um cidadão testemunha um atropelamento e leva por conta própria o animal até a sede da Cbea, ele não é aceito. Mas se o cidadão telefona para a Coordenadoria de Bem-Estar e o resgate é acionado, o animal é acolhido. A coordenadora informou ainda que, às vezes, bichos doentes ou feridos são abandonados defronte ao portão, à noite ou nos finais de semana. No dia seguinte, se estiver vivo, é acolhido pelo departamento.
Sobre a estrutura atual da Cbea, Carolina Vilela confirmou as denúncias de abandono feitas por organizações não-governamentais (Ongs) que atuam na defesa dos direitos dos animais. Aos sábados, domingos e feriados, o plantão atende das sete às 15 horas e não há veterinário dia e noite (24 horas). O centro cirúrgico é utilizado basicamente para castrações. Não existe quarentena – se um cão com sintomas claros de cinomose, por exemplo, é resgatado, ele não pode ficar com os animais sadios. A alternativa é a eutanásia.
A Cbea não possui laboratório e nem convênio com clínicas particulares, ou seja, não tem como fazer um simples hemograma para saber se um cão doente está respondendo à medicação. Portanto, a coordenadoria não tem como saber se um caso é reversível ou se a eutanásia é a única alternativa. Marcos Papa anunciou o envio de ofício da CPI pedindo informações sobre qual o gasto mensal com medicamentos para os animais em tratamento e o custo da medicação utilzada nos sacrifícios.
A audiência foi acompanhada por representantes de diversas entidades de proteção aos animais, como o Projeto Pandora, a Focinhos, a Cãopaixão e a Associação Vida Animal (AVA). Maria Cristina Dias, da AVA, disse que o depoimento de Carolina Vilela “confirma o que a gente já sabia, que existe muita coisa errada na Cbea. E, pior, ela assumiu para si a culpa de tudo. A verdade é que a Carolina não tem experiência, conhecimento e capacidade para o cargo que ocupa”.
Talita Borges, do Projeto Pandora, comentou a fala de Carolina Vilela, que apontou o sistema manual de registros (laudos, altas, eutanásias , adoções etc) como culpado pelos números divergentes de sacrifícios divulgado pela coordenadoria. O último balanço aponta 152 eutanásias em 2017. A coordenadora disse no depoimento que está fazendo gestões junto à administração municipal para que a Cbea ganhe um sistema informatizado. “Alguém precisa avisá-la que um sistema informatizado já existe, é gratuito e se chama planilha Excel”, disse Talita.