Os funcionários públicos de Ribeirão Preto estão em greve geral – por tempo indeterminado – desde a zero desta terça-feira, 10 de abril. A categoria rejeitou a contraproposta de reajuste salarial apresentada pela prefeitura, de 1,81%, e confirmou o movimento paredista em assembleia realizada nesta segunda-feira (9). O material produzido pelo Sindicato dos Servidores Municipais (SSM/RP), como cartazes e uma carta aberta à população, foi entregue aos trabalhadores na noite de ontem.
Na manhã desta terça-feira já devem ocorrer piquetes em alguns setores da administração. A expectativa é que a administração recorra à Justiça do Trabalho – já conseguiu uma liminar (leia nesta página) – questionando a legalidade da paralisação. Há a possibilidade de instauração de dissídio coletivo. O sindicato garante a manutenção de 30% dos serviços essenciais – como na área da saúde – previstos em lei.
Outra preocupação é com a educação. Devido à paralisação de 2017, que durou 21 dias, o ano letivo de 2018 começou depois do previsto por causa do atraso na atribuição de aulas. Com isso, para cumprir a meta anual, as aulas vão terminar em dezembro. O sindicato iniciou ontem a distribuição de uma carta aberta à população para explicar os motivos da greve.
O sindicato ressalta também que tentou, no final da semana passada, agendar nova rodada de negociação com o governo Duarte Nogueira Júnior (PSDB), mas não obteve retorno. Na sexta-feira (6), a Justiça do Trabalho determinou que o governo voltasse a negociar com a entidade e reconheceu a legitimidade da diretoria do sindicato – a administração municipal questionava essa representação.
Em nota, a Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) rebate. “A administração municipal informa que em nenhum momento o governo deixou de dialogar com a Comissão de Trabalhadores do Sindicato Servidores. Na última segunda-feira, o governo apresentou proposta de reajuste salarial de 1,81%.” Informa que “a administração municipal fará todos os esforços para manter a regularidade dos serviços públicos”.
No ano passado, o governo obteve liminares que garantiram o efetivo em vários setores, algumas repartições com 100% dos funcionários. No comunicado, o Palácio Rio Branco informa, ainda, que “a deflagração de uma greve agravaria não só a Secretaria de Educação, mas todos setores da prefeitura, portanto a administração municipal busca alternativas para negociar o sindicato dos servidores e evitar eventuais prejuízos à população.”
O sindicato pede reajuste de 10,8%, mesmo índice de reposição sobre o valor atual do vale-alimentação e da cesta básica nutricional dos aposentados. O pedido dos trabalhadores faz referencia à correção da inflação nos últimos doze meses, de 2,93% medido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – indexador oficial –, mais aumento de 7,87% referente ao crescimento orçamentário na arrecadação.
O percentual de 1,81% é baseado na correção inflacionária registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), no período de março de 2017 a abril de 2018. Segundo a CCS, o indexador é o mesmo utilizado nas negociações dos últimos anos em Ribeirão Preto, inclusive em comparação com outras administrações municipais. No entanto, é o percentual mais baixo dos últimos dez anos.
No ano passado, após a mais longa greve da categoria, que durou 21 dias e terminou em meados de abril, os servidores aceitaram reajuste salarial de 4,69% em duas parcelas – a primeira ficou fixada em 2,35% no mês de março e 2,34% para setembro. Também receberam uma reposição de 4,69% em parcela única retroativa a março no vale-alimentação e na cesta básica nutricional dos aposentados. Nenhum dia foi descontado dos grevistas.
A pauta do ano passado tinha 149 itens. O principal era o pedido de reajuste de 13%. Em 2016, em plena crise financeira da prefeitura, o funcionalismo conseguiu aumento de 10,67%. O mesmo índice foi oferecido para o vale-alimentação e também para o auxílio nutricional dos aposentados e pensionistas.
Segundo balanço do sindicato, nas últimas gestões – Welson Gasparini (PSDB) e Dárcy Vera (DEM e PSD) – o percentual de reajuste esteve sempre acima de 3%, o índice mais baixo da série, concedido em 2007 na gestão do tucano Gasparini. Em quatro anos de governo, ele reajustou os salários dos servidores em 13,21% – abono de R$ 120 em 2005, aumento de 5,05% em 2006, de 3% em 2007 e de 5,16% em 2008.
Quando Dárcy Vera estava no DEM (2009-2012), concedeu 25,18% – foram 5,9% em 2009, mais 6,31% em 2010, outros 6,47% em 2011 e 6,5% em 2012. Quando já estava no PSD (2013-2016), aplicou correção de 28,3% – de 5,84% em 2013, mais 5,56% em 2014, outros 6,23% em 2015 e 10,67% em 2016. O atual prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB) deu 4,69% e 2017 e agora oferece 1,81%. Se a categoria aceitar, vai acumular 6,5% em dois anos.
O que dizem os dois lados
Segundo o presidente do Sindicato dos Servidores Municipai de Ribeirão Preto (SSM/RP), Laerte Carlos Augusto, o governo Duarte Nogueira Júnior é intransigente. “É realmente inaceitável a forma de negociação imposta por este governo. À imprensa ele diz que está aberto para negociar, porém, em mais de um mês com a pauta dos servidores em mãos, a administração realizou apenas duas reuniões: uma pra dizer que não negociaria e a segunda pra fazer uma proposta muito abaixo da expectativa dos trabalhadores, de 1,81%. Isso está muito longe de ser uma negociação”, afirma.
“Mesmo com a greve marcada e com uma assembleia para ratificar a decisão pelas paralisações, o governo não fez sequer um contato para agendar uma nova rodada de negociação. Estamos sempre abertos ao diálogo e esperamos que os gestores adotem o mesmo caminho”, sugere o presidente, lembrando que o juiz da 2ª Vara do Trabalho, Walney Quadros Costa, confirmou a legitimidade da atual diretoria para negociar.
Na carta aberta à população, o sindicato critica as condições de trabalho.
Diz que “o governo municipal continua retirando as condições mínimas de funcionamento das escolas, dos postos de saúde, do Daerp, da Infraestrutura, da Assistência Social, da Guarda Civil Municipal, enfim, promovendo o sucateamento de todo o serviço público municipal. Insiste em uma política de privatização do serviço público, prejudicando a população com serviços cada vez mais desqualificados e ruins.”
Em nota enviada ao Tribuna nesta segunda-feira (9), por meio da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS), a prefeitura voltou a dizer que “continua com o diálogo aberto. O pleito realizado pelo Sindicato dos Servidores contendo 180 itens mais um pedido de aumento em 10,8% é totalmente incompatível com a realidade brasileira, os índices inflacionários do país e com a situação da prefeitura”, diz.
“Em 2017 os servidores receberam um aumento baseado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de fevereiro de 2017, de 4,69%, em duas etapas (março e novembro de 2017), inclusive na cesta nutricional e no vale alimentação que chegou ao valor de R$ 862. Além disso, a prefeitura esclarece que implementou, depois de sete anos da aprovação da lei, o Plano de Cargos, Carreiras e Salários (CCS) que impactou a despesa com o servidor em mais 3%”, explica.
“Somou-se a isto a reestruturação salarial de ativos, inativos e pensionistas em decorrência de uma decisão do poder judiciário em ação movida pelo Ministério Público determinando que a prefeitura parasse de pagar o prêmio-incentivo e assiduidade. Para que os servidores não tivessem prejuízo na redução dos vencimentos, a reestrutura mencionada elevou a despesa de pessoal em mais 3%. Assim, o aumento com a folha chegou ao acumulado de 12,8%”.
Por fim, diz que “em 2018, a prefeitura oferece o mesmo índice de 2017, o INPC, de março de 2017 a fevereiro de 2018, ou seja, de 1,81% em uma única parcela, estendido a ativos, inativos, pensionistas e sob a cesta nutricional e vale alimentação.”