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Max Bartsch – ‘Cidadão no 1’ de Ribeirão Preto

Confraternização aniversário 1939 no Bosque

Em 9 de abril de 1888, nascia o alemão Max Bartsch, um dos fundadores e primeiro presidente da Orquestra Sinfônica: também foi o primeiro a receber o título de cidadão ribeirão-pretano e responsável pelo plantio de palmeiras

Nicola Tornatore / Especial para o Tribuna

Nesta segunda-feira, 9 de abril, o aniversário de nascimento de Max Bartsch vai completar 130 anos. Ele foi um dos maiores beneméritos de Ribeirão Preto na primeira metade do século passado. Hoje nome de rua no Jardim Paulistano, deixou marcas indeléveis na história de cidade. Ajudou a fundar e foi o primeiro presidente da Orquestra Sinfônica (Osrp), plantou as palmeiras das praças XV de Novembro, das Bandeiras e Francisco Schmidt, conseguiu a doação do terreno onde se localiza a agência central dos Correios, ajudou a instalar e apoiou inúmeras entidades assistenciais –  da Sociedade Amiga dos Pobres ao Lar Padre Euclides.

Da imprensa local, ganhou o pomposo título de “cidadão no 1 de Ribeirão Preto”. Do Botafogo Futebol Clube, o posto simbólico de “presidente honorário”. Max Bartsch nasceu em Nuremberg, na Alemanha, em 9 de abril de 1888, filho do casal Henrique e Francisca Bartsch (os nomes aparentemente foram “abrasileirados”). Com os pais e os irmãos Alfredo, Amália e Hilda, imigrou para o Brasil às vésperas do início da Primeira Guerra Mundial.

Os Bartsch desembarcaram no Brasil em 15 de novembro de 1913 – apenas um irmão, Otto, ficou na Alemanha e acabou morrendo no ano seguinte, na Guerra Mundial. Por pouco tempo a família residiu em uma fazenda em Jardinópolis, propriedade de Antônio Uchôa. Em 1914, mudaram para Ribeirão Preto. Max, que havia aprendido com o pai a profissão de jardineiro, foi contratado pela prefeitura em 1920. Em pouco tempo sua competência encantou o povo da cidade recém-adotada e ele começou a ser chamado para serviços particulares, feitos nas horas de folga.

Comandou o ajardinamento da Praça das Bandeiras, plantou a grama no campo do Comercial, nivelou o campo do Botafogo, na Vila Tibério, cujo terreno era irregular, prestou serviços no Palestra Itália e no Ginásio do Estado. Na Vila Tibério, reduto da Companhia Antarctica, de origem germânica, travou relações com os funcionários alemães, e em 1922 foi contratado como fiscal de praça. Em 1928 recebeu a promoção para subgerente e em 1933 tornou-se gerente da Antarctica.

Cítara – Max Bartsch estudara música quando jovem, na Alemanha, tocava violão e violino, mas preferia a cítara. No final dos anos 20 fundou o “Quinteto Max”, com Camilo Mércio Xavier, Francisco de Biase, Artur Marsicano e Ranieri Maggiori. O conjunto – muitas vezes acrescido de outros nomes – apresentou-se frequentemente, ao vivo, para irradiações da Rádio Clube de Ribeirão Preto (PRA- 7), da qual ainda seria presidente. Nos anos 30, liderou a Jazz Band que tocava no Casino Antarctica.

Casado em 12 de junho de 1922 com Emília Engracia Bartsch, teve os filhos Celina, Paulo, Henrique e Adolpho, o único ainda vivo e que reside em Tupã, no interior paulista. Henrique deixou um vasto legado musical. Fundou o Grupo Nós e escreveu a biografia da maior roqueira do Brasil – “Rita Lee mora ao lado: uma biografia alucinada da rainha do rock”, que virou musical com Mel Lisboa.

Em 1939, aos 51 anos de idade, Max Bartsch foi alvo de grandes homenagens por ocasião de seu aniversário. Antes delas, porém, uma grande polêmica opôs prefeitura e imprensa, esta última inconformada por ter sido alijada da comissão responsável pelas homenagens. Max Bartsch era tão querido que a cidade brigou por ele.

Aniversário que durou dois dias

Em março de 1939, poucos meses antes do início da Segunda Guerra Mundial – começou em setembro, com a Alemanha invadindo a Polônia, o alemão de nascimento Max Bartsch já era gerente da Antarctica, cidadão brasileiro –naturalizado pelo decreto no 6.948, de 1o de outubro de 1931 – e já havia fundado a Sociedade Musical – gênese e primeira denominação da atual Orquestra Sinfônica.

A prefeitura decidiu, então, prestar uma grande homenagem a Max Bartsch, no dia de seu 51o. aniversário, 9 de abril de 1939, oportunamente um domingo. Mas na hora de organizar a comissão responsável pelos festejos, não convida um único representante dos órgãos de imprensa.

A reação dos donos de jornais não tardou. No dia 1o de abril, os três jornais locais trouxeram na primeira página um comunicado intitulado “Uma explicação necessária”, com críticas veementes à prefeitura:

“ (…) não foi, entretanto, lembrada a inclusão da imprensa na referida comissão (responsável por organizar a homenagem). Tal lapso julgamos verdadeiramente lamentável, principalmente em se considerando que, em Ribeirão Preto, talvez nenhuma outra classe tenha tão profundas e cordiais ligações com o sr. Max Bartsch, figura que nos merece o maior acatamento, a mais desinteressada simpatia, em quem reconhecemos – e isso apregoamos continuadamente – caber com justiça o título que popularmente lhe foi dado, de ‘Cidadão Número 1’ de Ribeirão Preto.

‘Jornalista honorário – denominação que lhe demos com orgulho todos quantos lidamos na imprensa profissional – o sr. Max Bartsch compreenderá, perfeitamente, este nosso gesto e permitirá que lhe prestemos, nós, os seus colegas, secundados pelos seus verdadeiros amigos de Ribeirão Preto, uma outra homenagem, cuja sinceridade reconhecerá”.

O comunicado termina dizendo que, em protesto contra a ausência da imprensa na comissão montada pela prefeitura, os três jornais iriam “silenciar” sobre as atividades da referida comissão.

Retrato a óleo – Dito e feito! Os três jornais lançaram uma subscrição popular, liderando um “movimento popular” para presentear o gerente da Antarctica com um retrato a óleo do artista Antonio De Carli. Nos dias que se seguiram, nenhum dos jornais deu uma linha sequer sobre os festejos organizados pela prefeitura – publicaram apenas notas relacionando os nomes das pessoas que aderiram à homenagem “paralela”.

Naquele fim de semana, Max foi alvo de grandes homenagens. No sábado, dia 8, véspera do aniversário, os funcionários da Antarctica oferecerem-lhe uma recepção. Ainda na parte da manhã, os empregados da Fábrica de Cigarros Sudam também homenagearam Max. Ao meio-dia, aconteceu um churrasco com diretores e membros da “Caravana Antarctica”. À tarde, no campo do Botafogo, a disputa da Taça “Max Bartsch”, entre equipes formadas por músicos e por garçons. À noite, jogo de “bola ao cesto” entre a associação recreativa da Antarctica de São Paulo e a congênere local.

Na manhã do dia 9, domingo, Max Bartsch, na sede da Antarctica, recebeu o retrato a óleo pintado por De Carli, um cartão de ouro (oferta de todos os funcionários), um estojo de couro para escritório da Associação dos Empregados no Comércio e um cartão de prata do Clube de Regatas Rio Pardo.

Ao meio-dia, banquete no Teatro Carlos Gomes, após o qual a Sociedade União dos Viajantes (SUV) presenteou Max com um distintivo de ouro, e a prefeitura concedeu ao homenageado o título de “cidadão benemérito”.

Ainda houve um jogo, à tarde, entre o Botafogo e o time da Antarctica, na Vila Tibério. Encerrando os dois dias de festejos, à noite, novamente no Teatro Carlos Gomes, foi a vez da A. C. Bambas homenagear Max Bartsch. O aniversário de 51 anos foi, literalmente, inesquecível. Max continuou no cargo de gerente da Antarctica até 1942, quando, promovido, assumiu o posto de procurador da Fundação Antônio e Helena Zerrener (ligada à Antarctica). Exerceu essa função até sua morte, em 26 de junho de 1970, aos 82 anos.

Retrato a óleo que foi presente para Max Bartsch no aniversário de 51 anos em 1939 e uma das poucas fotos do visionário

Max, esposa e dois filhos

Max e família em passeio na região (Gruta Itambé, em Altinópolis)

Max e filho em passeio em Minas Gerais

 

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