O presidente da Comissão Especial de Estudos que investiga a prática de eutanásia na Coordenadoria do Bem-Estar Animal (Cbea) da prefeitura de Ribeirão Preto, Marcos Papa (Rede Sustentabilidade), entrou com requerimento na Câmara em que defende a transformação da CEE em Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Segundo o vereador, a gota d’água foi a morte de um cachorro que havia sido resgatado do córrego da Via Norte no final de semana.
A proposta deve ser votada nesta quinta-feira, 5 de abril. Como já existem cinco CPIs em trâmite na Câmara, teto previsto no Regimento Interno (RI), para que a transformação ocorra terá de ser aprovada em plenário. Papa também questiona o número de eutanásias divulgado pela Cbea via prefeitura de Ribeirão Preto. Para uma organização não-governamental (ONG), a administração informou que foram 40 em 2017.
Já para o vereador, a Cbea diz que sacrificou 126 animais – 95 cães e 31 gatos, uma eutanásia a cada três dias. O levantamento foi divulgado em 15 de março, durante a primeira audiência da CEE. No entanto, a própria prefeitura divulgou à imprensa que foram 187, ou 63 a mais do que os relatórios enviados ao parlamentar, uma a cada dois dias.
De 124 laudos veterinários enviados pela Cbea ao Legislativo, em 112 a data de entrada do animal é a mesma da sua eutanásia. No ano passado, ao menos 22 animais foram eutanasiados porque, no diagnóstico, sofreram fraturas, traumas ou múltiplas lesões, principalmente na coluna. Destes, apenas dois não foram sacrificados no mesmo dia de entrada.
A Cbea não possui equipamento de raio-X desde outubro de 2017, quando terminou o contrato com uma empresa para a realização de diagnóstico por imagem, segundo a prefeitura. Com isso, a constatação de fraturas acaba sendo apenas pela avaliação clínica do veterinário. O cachorro resgatado pelo auxiliar de marcenaria Alex Rocha na sexta-feira, 30 de março, após cair ferido dentro do ribeirão Preto, na Via Norte, morreu doze horas depois, segundo o veterinário da Coordenadoria de Bem-Estar Animal, Gustavo Cunha Almeida Silva.
De acordo com o órgão municipal, o animal encontrado com fratura exposta em uma das patas e ferimentos nas outras três, além de feridas em outras partes do corpo, chegou a ser atendido e medicado, mas não resistiu. A suspeita, segundo Silva, é de que ele tenha sofrido uma infecção generalizada – choque séptico. O veterinário diz que ele recebeu a medicação, antibiótico terapia, analgesia, bandagem da fratura, mas estava muito ferido e sujo de deve ter morrido devido à contaminação.
Nas redes sociais, porém, protetores dos animais pedem explicações sobre a morte do cachorro e questionam as condições de atendimento da Cbea.Eles marcaram uma reunião para a tarde desta quarta-feira (40). Querem o apoio do Conselho Municipal de Bem-Estar Animal (Combea). Os ativistas pediram os laudos e os relatórios de atendimento ao cão ao órgão da prefeitura, mas a administração informa, em nota, que essas informações são sigilosas e só podem ser fornecidas com decisão judicial.
O cachorro foi levado à Coordenaria de Bem-Estar Animal pelo Corpo de Bombeiros. Rocha acionou a corporação após retirar o animal do córrego. Atualmente, a Cbea tem 110 cães e 20 gatos à espera de adoção. Segundo o sargento do Corpo de Bombeiros, Fabrício Marmo da Silva, os ferimentos apontam que o cão foi atropelado e lançado para o córrego com o impacto.
A CEE foi instalada no ano passado depois de a coordenadora Carolina Vilela ter revelado, em depoimento no Legislativo, que animais politraumatizados estavam sendo eutanasiados por falta de aparelho de raio-X, necessário para o diagnóstico de fraturas. Após a declaração, entidades protetoras dos animais passaram ao governo Duarte Nogueira Júnior (PSDB) a saída dela da Coordenadoria de Bem-Estar.
No entanto, Carol Vilela foi mantida no cargo. Papa conseguiu, então, a aprovação da CEE. A estimativa é que Ribeirão Preto tenha cerca de 100 mil animais errantes – cães e gatos. O médico veterinário Gustavo Cunha Almeida Silva já divulgou relatório em 13 de dezembro em que defende a legalidade da realização de eutanásias em cães errantes (sem donos) que estejam sofrendo. E afirma que nenhum animal é sacrificado sem necessidade. A legislação diz que cães e gatos só podem ser eutanasiados em caso de doença incurável, sofrimento ou se oferecerem risco ao ser humano.
Cachorrinho atropelado, resgatado do rio e que morreu no Cbea