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55 anos de formatura

No último sábado, dia 6, comemorei os cinquenta e cinco anos de formatura na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. A Turma 1964 reuniu-se na Associação dos Antigos Alunos, presidi­da competentemente por nosso colega José Carlos Madia de Souza (turma 1964). Éramos 300 componentes quando adentramos a Faculdade, metade na turma da manhã, outra metade na turma da noite. O tempo foi levando a maioria de nossos colegas, hoje somos 30% daquele total.

Nossa turma foi privilegiada, contemplada com fatos históri­cos que marcaram nossa vivência acadêmica. Logo no primeiro ano, 1960, os alunos entraram em greve contra a decisão da Banca Examinadora que aprovou Alexandre Correa Júnior como Professor Catedrático de Direito Romano, depois de uma disputa onde ele, claramente, havia sido o pior. Ficou clara a influência de seu pai, a quem substituiria. Depois de longa paralisação, o imbróglio se resol­veu tirando-se a matéria da graduação e a levando para o pós.

Depois, veio a renúncia do Presidente Jânio Quadro (turma1939) que repercutiu intensamente na escola. Os alunos se reuniam nas salas de aula, no pátio das Arcadas, no XI de Agosto, discutindo se o ato presidencial teria sido mesmo espontâneo ou fruto de pressão das forças políticas adversárias. Seguiu-se a oposição dos militares à posse do Vice-Presidente João Goulart, que gerou mais polêmicas, superadas pela introdução do Parlamentarismo, que seria derrotado posteriormente em plebiscito.

No final de março de 1964, palestra do Superintendente da Reforma Agrária, João Pinheiro Neto, terminou em pancadaria, com o Comando Caça Comunistas do Mackenzie invadindo a escola, apoiado e segundado pela Força Pública Paulista. Três dias depois, estouraria a Revolução de 1964, lançando um manto de silêncio sobre a insatisfação estudantil.

Além de bom estudante, sempre fui ativo na política universi­tária. Nos anos de 1963 e 1964, representei o Corpo Discente na Congregação da Faculdade e protestei no dia seguinte à baderna contra as forças policiais do Governador Adhemar de Barros, que invadiram a Faculdade. Num ofício dirigido à Congregaçao, fiz co­mentários pessoais pouco lisonjeiros ao Governador. O Prof. Miguel Reale (Filosofia do Direito) era Secretário da Justiça do Estado de São Paulo e, terminada minha fala, solicitou cópia da manifestação para instruir processo que instalaria contra mim. Felizmente, o Prof. Reale desistiu de seu intento, pois sem as garantias constitucionais, eu estaria em maus lençóis.

Tínhamos excelentes mestres, a quem chamávamos de Excelên­cia e ele a nós de Doutor. O traje era terno com gravata e saia para as mulheres e havia ordem e respeito durante as aulas.
Com os colegas, fiz ótimas amizades que perduram até hoje, em­bora tenha deixado de exercer a advocacia. Meu aprendizado na São Francisco foi fundamental para a carreira empresarial que segui.

Foi uma época de formação profissional e política. A Faculdade nos legou um amor pela Justiça e pelo Direito e a necessidade de parti­ciparmos das comunidades onde viveríamos. Foi uma escola de vida e cidadania. Passado tanto tempo, ainda está viva na memória aquela primeira aula, quando mestre Goffredo dizia que os princípios de Di­reito são: viver honestamente, não prejudicar o próximo e dar a cada um o que ele merece (Jurisprecepta sum haec: honeste vivere, alterum non laedere et suum quiquetribuere). Basta segui-los em todas as nos­sas atividades para estarmos praticando o Direito, a Justiça e a Ética.

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