Tribuna Ribeirão
Economia

35,07% do PIB – Carga tributária bate recorde no país

MARCELLO CASAL JR./AG.BR.

Mesmo com a economia brasileira “andando de lado”, a carga tributária do País atingiu o pico histórico de 35,07% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018 – o equivalente a R$ 2,39 trilhões. Em média, cada habitante recolheu o equivalente a R$ 11.494 em impostos. Cada brasileiro precisou trabalhar cer­ca de 128 dias apenas para qui­tar os seus compromissos com o pagamento de tributos. Os cálculos foram feitos pelos eco­nomistas José Roberto Afonso e Kleber de Castro.

O estudo antecipa a con­solidação dos números da car­ga tributária do ano passado e busca respostas para entender as razões que levaram a um movimento tão grande de alta justamente num período de crescimento muito baixo da economia. A expansão do peso dos impostos para empresas e pessoas físicas em 2018 atingiu 1,33 ponto percentual e bateu o recorde anterior, registrado em 2008, de 34,76% do PIB – a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. O avanço é ainda mais impactante pelo fato de representar o maior salto dos últimos 17 anos.

A série histórica é de 1947. Os dados foram extraídos de fontes oficiais, registrados nos balanços públicos. Os dois espe­cialistas se surpreenderam com a magnitude do resultado. Eles fizeram diversas rechecagens e consultas a outros economistas e técnicos do governo diante do tamanho do aumento de um ano para o outro. O resultado encon­trado faz suscitar dúvidas sobre a tese aventada nos últimos anos de que teria havido uma quebra estrutural na trajetória crescente de alta da carga tributária.

Após a crise internacional de 2008, o comportamento estru­tural da carga foi alterado com relação ao padrão histórico. A tendência expansionista passou a não se verificar. A trajetória nessa fase mais recente foi erráti­ca, com períodos de baixa segui­dos de outros de expansão, mas em nenhum momento demons­trando o movimento expansivo dos anos anteriores. De 2008 até 2015, a carga encolheu aproxi­madamente 1,92% do PIB. Esse quadro, porém, se inverteu a partir de 2016.

De 2016 a 2018, houve um avanço dos impostos de 2,23% do PIB – sendo a maior parte no último ano. Segundo José Roberto Afonso, professor do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), os resultados de 2016 e 2017 foram sustentados por fatores atípicos, como os re­cursos do programa de recursos no exterior e as receitas de royal­ties do petróleo, que foram pu­xadas pela trajetória expansiva do preço do petróleo no merca­do internacional.

Em 2018, porém, além dos fatores extraordinários, como os royalties do petróleo, obser­vou-se que tributos tradicionais, como Imposto de Renda, PIS/ Cofins e ICMS tiveram desem­penho atípico para uma fase de baixo crescimento. Se não há motivos ligados à atividade econômica para explicar esse comportamento, o mais razoá­vel, apontam os economistas, é assumir que houve uma combi­nação de recuperação localizada (em alguns setores), com maior esforço de recolhimento pelos governos (aumento de alíquo­tas, como a dos combustíveis, e fiscalização).

Generalizado
O padrão de crescimento de carga foi disseminado nas três esferas de governo (União, Estados e municípios). Cerca de 65,7% de toda a carga tri­butária de 2018 é cobrada pela União, que arrecadou quase R$ 1,57 trilhão – cerca de 23% do PIB do ano passado. O restan­te foi cobrado pelos Estados, que contribuíram com apro­ximadamente 27,2% do total (R$ 650 bilhões), e municípios, com 7,2% (R$ 172 bilhões).

A arrecadação de impostos em Ribeirão Preto passou de R$ 1 bilhão pela primeira vez, no ano passado, segundo o Im­postômetro da Associação Co­mercial de São Paulo (ACSP). O painel indica que, em 2017, a cidade recolheu R$ 906,14 mi­lhões em tributos e taxas mu­nicipais, estaduais e federais, contra R$ 1,01 bilhão do ano passado, alta de 11,6% e aporte de R$ 105,86 milhões – os nú­meros foram arredondados.

O ribeirão-pretano desem­bolsou no ano passado, em mé­dia, R$ 14.578,43 apenas para pagar impostos municipais, estaduais e federais, segundo o Impostômetro. Em 2017, cada habitante de Ribeirão Preto pa­gou R$ 13.280,67. O montante per capita de 2018 é 9,8% su­perior ao do período anterior, acréscimo de R$ 1.297,76. Em 2017, de acordo com o levanta­mento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ribeirão Preto tinha 682.302 habitantes, contra 694.534 do ano passado.

Para Castro, que é doutor pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e sócio da Finance Análise e Consultoria, é difícil ainda saber se o salto foi um ponto fora da curva ou se haverá um deslocamento da car­ga para a sua tendência histórica de crescimento. Ele destaca que o objetivo do estudo foi apre­sentar uma fotografia recente da carga tributária que possa servir de subsídio para o desenho de um novo sistema.

“Qualquer mudança deve­ria ter em mente que não seria possível reduzir carga, dada a grande participação de despe­sas obrigatórias em nosso Or­çamento”, diz Afonso, um dos pais da Lei de Responsabilidade Fiscal. Segundo ele, as mudan­ças devem priorizar reformar os tributos indiretos com vistas a mitigar as distorções provocadas na economia pelo sistema atual, cumulatividade, guerra fiscal, oneração de exportações e dos investimentos.

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