Tribuna Ribeirão
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22 anos depois – Júri de Bullamah pode acabar hoje

O julgamento do ex-gine­cologista Vanderson Bullamah será retomado às dez horas da manhã desta quinta-feira, 22 de novembro, segundo o promotor Eliseu José Berardo Gonçalves, responsável pela acusação. A sessão no Tribunal do Júri e das Execuções Criminais do Fórum Estadual de Justiça de Ribeirão Preto começou às dez horas des­ta quarta-feira (21) e invadiu a noite. Nesta ação penal o ex-mé­dico responde pela morte da au­xiliar de limpeza do SBT, Maria Inês Coelho Guerino.

Ela morreu aos 39 anos, em 12 de setembro de 1996, depois de submeter-se à uma lipoescultura – “escultura do corpo por meio de lipoaspiração”, como dizia o ma­terial publicitário distribuído pelo ex-médico em cruzamentos de Ribeirão Preto. A faxineira deixou quatro filhos. Bullamah acumula mais duas mortes no currículo e já foi condenado e preso por causa de um dos óbitos. Ele não tinha habilitação para exercer a cirurgia plástica. Ontem, em depoimento, disse que não realizou uma cirur­gia plástica na paciente, mas sim uma lipoescultura para retirar ex­cesso de gordura da barriga dela.

Ele também alegou à Justiça que conseguiu obter de volta o re­gistro profissional que havia sido cassado em 2004 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Dez testemunhas prestaram depoi­mento na audiência de ontem – cinco de acusação e cinco de de­fesa –, que durou onze horas. Hoje o promotor e os advogados de de­fesa vão apresentar seus argumen­tos. Em seguida, os sete jurados (seis mulheres e um homem) se reunirão para decidir se Bullamah é inocente ou culpado pelo crime de homicídio doloso.

Em 2003, quando determinou que o ex-ginecologista fosse leva­do a júri popular, o juiz da Vara do Júri e das Execuções Criminais, Luiz Augusto Freire Teotônio, ex­plicou que a qualificação culposa significa que a morte da paciente teria ocorrido sem a intenção do médico. Na pronúncia, o magis­trado justifica a qualificação de dolo porque Bullamah teria “assu­mido o risco de produzir o resul­tado, ao invés de recuar, além do mais quando já tinha ocasionado a morte de outra paciente em con­dições semelhantes”.

É possível que a sentença seja anunciada nesta quinta-feira. A irmã da vítima, Maria Bernardete Coelho, de 63 anos, foi a primei­ra testemunha a ser interrogada, seguida pelo médico legista do Serviço deVerificação de Ónito do Interior (SVOI), responsável pela necropsia no corpo de Ma­ria Inês após a morte. Também depuseram ontem médicos de um hospital da cidade para onde a faxineira foi levada depois da cirurgia na clínica de Bullamah, na Zona Sul. Eles relataram qual era o estado de saúde da vítima, que morreu horas depois.

Em 2016, o ex-ginecologista foi preso para cumprir dez anos pela morte de outra paciente, a estudante universitária Hellen Bu­ratti, aos 18 anos, em 5 de julho de 2002. A pena, anunciada em 11 de dezembro de 2009, inicialmente era de 18 anos e foi reduzida para dez anos após a defesa recorrer ao Tribunal de Justiça de São Pau­lo (TJSP). Depois de conseguir redução de sete meses e 24 dias da pena por trabalhar e estudar dentro da cadeia, neste ano ele obteve o direito a cumprir os seis anos e dez meses remanescentes em prisão domiciliar.

Helen Buratti, sobrinha de Ro­gério Tadeu Buratti, ex-secretário de Governo de Antonio Palocci na primeira gestão petista à frente da prefeitura (1993-1996), passou por cirurgia de lipoaspiração ab­dominal e acabou falecendo por complicações decorrentes do pro­cedimento, quadro parecido ao de outras duas mulheres que morre­ram nestas condições. Em 2002, Bullamah ficou 15 dias preso no anexo do 1º Distrito de Polícia, na rua Duque de Caxias, mas saiu graças a um habeas corpus.

Bullamah também chegou a responder pela morte da bancária aposentada Vera Lúcia Carnaval Caressato, então com 49 anos. Ela morreu em 1º de fevereiro de 1996, mas o caso foi arquivado. A ex-funcionária da extinta Nossa Caixa (estadual) morava em Ser­rana. Ainda tramitam contra o ex-ginecologista outros dois pro­cessos de pacientes que o acusam de ter cometido erros médicos nas cirurgias plásticas e ficaram par­cialmente mutiladas. Em todos os casos ele foi acusado de imperícia, imprudência e negligência médica porque em sua clínica – interdita­da após a morte de Helen Buratti – não tinha centro cirúrgico e UTI.

A filha da vítima, Daiana Cris­tina Guerino, disse à EPTV Ri­beirão que ainda espera por uma resposta. “Eu tinha 10 anos e era só uma criança quando tudo isso aconteceu. Fico muito triste com a Justiça, que até hoje não fez na­da”.A esperança da família de Ma­ria Inês Coelho Guerino, agora, é que Bullamah seja preso. “Espero que pague por todos os erros dele, porque não foi só a minha mãe que ele matou. Foram várias mo­ças, além das que ele deixou de­formada”, disse Daiana Guerino à emissora de televisão. A defesa de Bullamah diz que só vai se pro­nunciar depois do julgamento.

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