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Até o ano de 2015, celebrávamos em 14 de abril o Dia da Poesia. A escolha da data era uma homenagem a Castro Alves, o “poeta dos escravos”, autor do famoso texto “O Navio Negreiro”. Ele partiu cedo, com apenas 24 anos, mas deixou cunhadas algumas frases que impactam até nos dias atuais, como por exemplo, “a poesia deve ser o arauto da liberdade – esse verbo na redenção moderna – e o brado ardente contra os usurpadores dos direitos do povo.”

Fico imaginando como “o poeta da liberdade” escreveria sobre nossa realidade. Como trataria as mazelas da educação, segurança e saúde. Quantas poesias dedicaria aos congressistas e como trataria da polarização política que o país atravessa. Será que ele dedicaria seu tempo a falar sobre o novo vírus, a queda da bolsa, a alta do dólar e os imbróglios do petróleo?

E na semana da mulher? Será que ele dedicaria seus textos para exaltar a beleza e as virtudes femininas, como fizeram escri­tores profissionais e amadores em todo mundo? Provavelmente, antes de mais nada, ele pesquisaria os jornais para obter maiores informações sobre a realidade, especialmente a violência. Sim, violência! Enquanto alguns homens ofereciam flores, chocolates, jantares e presentes, outros continuavam ceifando as vidas das mulheres, principalmente das companheiras.

No próprio dia 08 de março, Tais, de 34 anos, foi encontrada morta em Campinas com sinais de asfixia ou estrangulamento. No dia seguinte, o corpo de Ana Talita foi encontrado em Rio Claro com duas marcas de tiros no pescoço. Na mesma segunda­-feira, Patrícia, de 40 anos, foi encontrada morta dentro de uma geladeira em Recife.

Terça-feira, Lidia, de 23 anos, foi encontrada em Barueri, morta provavelmente por espancamento. Após uma briga de casal, na quarta-feira, Erlane foi baleada na cabeça. Simone, de 29 anos, foi encontrada morta acorrentada a peças de carro no fundo de um rio, na quarta-feira, em Xanxerê. Na quinta, em Alta Floresta, facadas tiraram a vida de Celina, de 33 anos, morta no meio da rua. Nesta sexta-feira 13, Joice foi alvejada em via pública, em Salvador.

Para nós são notícias que às vezes passam despercebidas e, em outras, são o prato preferido dos programas sensacionalistas. Acostumado com as atrocidades provocadas no período da es­cravidão, o poeta certamente questionaria como nossa sociedade pode conviver com tamanha brutalidade contra as mulheres. Será que não evoluíram?

Munido de papel e caneta ele buscaria compreender o que é a tal sororidade. A união entre as mulheres, presentes nas redes de apoio, quando se oferece amparo a outras mulheres em situação de abuso e violência física e psicológica; na garantia de voz às que foram silenciadas; na divulgação e apoio ao trabalho das outras e na empatia recíproca. Também aprofundaria nos deba­tes sobre feminismo e machismo, que não são opostos, já que o machismo é a construção social que promove e justifica atos de agressão e opressão contra as mulheres, enquanto o feminismo é o movimento social que luta contra as manifestações do machis­mo na sociedade.

Tenho certeza que nosso poeta escreveria um texto ins­pirador para motivar as mulheres e aplacar a raiva primitiva dos homens que, ainda, se sentem donos das namoradas, noivas ou esposas.
Polêmicas à parte, nesta semana da mulher, algumas esperam uma poesia, outras um carinho, muitas a igualdade de oportu­nidades, mas certamente a grande maioria anseia pelo direito à vida em plenitude. Como recentemente escreveram, a mulher já não deseja receber flores, ela quer plantar o jardim, quer con­quistar a floresta, quer ter seu lugar de protagonismo no mundo e na história.

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