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15 anos de Lei Maria da Penha

ALFREDO RISK

João Camargo

No último dia 7 de agosto, uma das ferramentas mais im­portantes criadas para comba­ter a violência doméstica com­pletou 15 anos: a Lei Maria da Penha. Considerada pela Or­ganização das Nações Unidas (ONU) como uma das três melhores legislações do mun­do aplicadas contra a violência de gênero, a lei representa um marco no enfrentamento dessa questão global.

No entanto, em meio a esse marco, a Comarca de Ribeirão Preto já concedeu quase mil medidas proteti­vas em 2021, de acordo com dados disponibilizados pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP).

De janeiro a julho deste ano, foram concedidas 903 medidas, um aumento de 17,7% em relação ao mesmo período do ano passado.

“Na verdade, os números escancaram casos que sempre foram de ordem absurdamente alta, mas que a sociedade preferia não enxergar”, disse a 4ª Juíza Auxiliar de Ribeirão Preto, Carolina Moreira Gama

Para Carolina Moreira Gama, 4ª Juíza Auxiliar de Ri­beirão Preto e coordenadora do Anexo da Violência Do­méstica e Familiar da cidade, esses dados também devem ser avaliados de um ângulo po­sitivo. Segundo ela, o aumento desses números significa que a questão, que anteriormente fi­cava “entre marido e mulher”, agora está sendo notada.

“Na verdade, os números escancaram casos que sempre foram de ordem absurdamen­te alta, mas que a sociedade preferia não enxergar. A cultu­ra de todo um país era outra. Então, nesse ponto, tanto a lei, como a atuação especializada dos operadores do direito e dos responsáveis pela segu­rança e prevenção, como tam­bém a imprensa e a população, mostraram uma incrível evo­lução na abordagem do tema”, comentou Carolina.

Diante desse cenário, a juíza destacou que a Lei Ma­ria da Penha foi fundamen­tal para uma mudança real e sensível do próprio tema. “Eu mesma me lembro bem do início da minha carreira, em que muitos casos desse tipo se encerravam com o pagamen­to de cestas básicas. Mesmo porque o Judiciário não tinha ferramenta ou mecanismo para fazer cessar o risco dessa mulher, o que hoje se conva­lidou nas medidas protetivas, inovação dessa lei”, destacou.

Sobre os inúmeros casos, a juíza ressalta situações que a atingiram de maneira posi­tiva, como quando conversa com autores de violências do­mésticas que se dão conta re­almente de como suas ações podem impactar a vida dos próprios filhos.

“Quando se dão conta de que eles mesmos estão repro­duzindo o cenário violento no qual foram criados. Isso é um reconhecimento que acaba sendo muito importante e que nos conduz à certeza de que a violência é uma instituição de mau aprendizado e que por isso mesmo pode ser descons­tituída e encerrada”, comple­tou Carolina.

Projeto AmarEl@s
Em Ribeirão Preto, alguns projetos são realizados para debater e conversar sobre os traumas e vivências das mu­lheres vítimas de violência. Um deles é o AmarEl@s. Nele está reunido um conjunto de profissionais, como facilitado­res de práticas restaurativas, terapeutas, psicólogos, psica­nalistas, advogados e artistas.

O projeto AmarEl@s foi criado para oferecer diversos serviços de atenção à violên­cia doméstica em Ribeirão Preto, incluindo atendimento às mulheres, homens, crian­ças e demais afetados direta e indiretamente.

“O AmarEl@s surgiu da necessidade de indicarmos à sociedade civil quais são os meios ou vias disponíveis à po­pulação que, em comunicação ou rede como Judiciário e com a segurança pública, podem auxiliar naqueles tipos de con­flitos”, finalizou a juíza.

Para quem se interessar em buscar por mais informações sobre o projeto, basta entrar em contato por telefone, (16) 99287-6817, ou email: [email protected].

Violência contra mulher em SP
Em todo o estado de São Paulo foram registrados 25.366 casos de lesão corporal dolosa e 86 casos de feminicídio nos primei­ro seis meses do ano, segundo dados divulgados pela Secre­taria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP), com base nas ocorrências de Boletim Estatístico Eletrônico (B.E.E.).

De acordo com a coordenadora das Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs) de São Paulo, Jamila Jorge Ferrari, em meio à pandemia, as medidas de isolamento social despertaram a atenção das autoridades no mundo todo pelo risco de aumento de violência doméstica

Segundo a coordenadora das Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs) de São Paulo, Jamila Jorge Ferrari, em meio à pande­mia, as medidas de isolamento social despertaram a atenção das autoridades no mundo todo pelo risco de aumento de violên­cia doméstica.

O convívio com os agressores e a dificuldade das vítimas em pedir ajuda aumentaram a vulnerabilidade e a possibilidade tanto de novos casos como de subnotificação. Em função dis­so, a coordenadora ressalta que, quando surgiram as primeiras notícias da pandemia, a Polícia Civil de São Paulo acelerou o processo de atualização dos serviços oferecidos pela Dele­gacia Eletrônica e, no início de abril do ano passado, ampliou o atendimento virtual, inclusive com a criação da DDM Online.

“Essa medida facilitou muito o acesso das mulheres aos servi­ços de segurança. Até o final de 2020, a DDM Online registrou mais de 16 mil ocorrências. To­das as delegacias de São Paulo, incluindo as DDMs, seguem funcionando normalmente para atender as vítimas de violência doméstica”, comentou Jamila.

Ainda de acordo com a SSP, diante desses índices, o com­bate à violência contra a mulher é uma pauta institucionalizada há várias gestões. Atualmente, o Estado conta com 138 DDMs, sendo 10 com atendimento 24 horas.

Também existe o SOS Mulher, aplicativo que prioriza o atendi­mento às vítimas com medidas protetivas, produz campanhas de conscientização e criou uma cartilha com orientações sobre os tipos de violência e como agir para se proteger.

Desde agosto de 2020, as DDMs atendem exclusivamente ocor­rências em situação de violência doméstica ou familiar e infra­ções contra a dignidade sexual praticadas contra pessoas com identidade de gênero feminino e contra crianças e adolescen­tes. A rede de DDMs paulista ainda passou a atender casos de acordo com a identidade de gênero definida pela vítima, não em função do sexo biológico registrado no nascimento.

Maria da Penha

A Lei Maria da Penha e o Pro­grama Patrulha Maria da Penha foram batizados em homena­gem à farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes (foto), que sofreu violência doméstica durante 23 anos, inclusive duas tentativas de homicídio em 1983. Apesar dos fatos compro­vados, Maria da Penha enfrentou uma batalha jurídica para buscar punição ao marido, que se utilizou de brechas na legislação para protelar o processo.

Em função desse caso, foram criados no Brasil novos disposi­tivos legais, como a Lei 11.340, para garantir maior eficiência e agilidade na punição e, con ­sequentemente, na prevenção dos casos de violência domés­tica e familiar.

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